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Crítica | A Cura
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Crítica | A Cura

Este não é o tratamento recomendado para quem apresenta sintomas de deficiência de bons filmes de suspense

Marina Val
Marina Val
16.fev.17 às 13h40
Atualizado há mais de 8 anos
Crítica | A Cura

Quando os teasers e trailers de A Cura começaram a surgir, a estética doentia e misteriosa chamou atenção para o que prometia ser um excelente filme de suspense e, pelo menos visualmente, a obra é realmente impressionante. A fotografia é absolutamente impecável e os tons pálidos nos figurinos e cenários em contraste com o verde escuro de alguns elementos remetem à busca constante por um tratamento para os males misteriosos que afetam os personagens da trama.

Desde os primeiros segundos de projeção, o longa chama atenção pelo cuidado dedicado a cada detalhe que apresenta. Com os paralelos visuais entre um funcionário de uma grande empresa que morre e um peixinho dourado descartado no lixo, ou uma viagem de trem que mostra as belezas naturais do lado de fora e a desordem de um workaholic do lado de dentro, o filme já diz tudo que você precisa saber sobre o ambiente corporativo ao qual Lockhart (Dane DeHaan) pertence.

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Ao chegar em um centro de bem-estar onde algumas pessoas estão internada em busca de cura para males diversos, o protagonista é recebido por um clima idílico no qual os pacientes se entretém com tarefas divertas. Todos que estão ali só conseguem tecer elogios ao tratamento que é oferecido a eles por profissionais de saúde que parecem sempre estar dispostos a ajudar, mesmo que seja com um sorriso forçado estampado no rosto.

Os defeitos óbvios de alguns personagens os tornam mais interessantes. Lockhart, por exemplo, não é o típico herói que estava no lugar errado e na hora errada, e sim um jovem ambicioso e egoísta que viu uma oportunidade para escapar de seus problemas, mas não de buscar uma redenção. Ele não necessariamente se torna uma pessoa melhor ao longo da trama, mas pelo menos consegue empatia através de seus infortúnios.

Algo está errado

O diretor do filme, Gore Verbinski, prova que é capaz de contar histórias inteiras apenas com imagens sem se alongar muito em diálogos expositivos. Infelizmente, isso não é mantido até o fim e as explicações óbvias começam.

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O exemplo mais claro disso é o caso da “Arma de Chekhov”. Segundo Anton Chekov, não se deve mencionar uma arma (ou qualquer outra coisa que não seja importante para o roteiro) se não houver intenção de usá-la.

Entretanto, A Cura não se contenta em apenas citar o detalhe que futuramente será relevante: a trama exaustivamente repete a mesma ideia para garantir que o espectador não esqueça dela nem por um único segundo. Ao fazer isso, além de se tornar cansativo, é como se o filme duvidasse da inteligência do público, achando-o incapaz de fazer uma correlação simples de causa e efeito.

Uma doença no roteiro

Com quase duas horas e meia de projeção, o filme se torna enfadonho e toda a beleza retratada através da fotografia e da direção fica cada vez mais vazia por não ter um roteiro que a sustente. O mistério na trama fica óbvio por volta da metade da história, mas as repetições e explicações nunca chegam ao fim. Uma edição que cortasse pelo menos meia hora do longa seria muito bem-vinda, já que não existe justificativa para reforçar tantas vezes as mesmas ideias.

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Mesmo que muitas vezes surja algum elemento que acenda uma leve suspeita de que algo muito mais perturbador está por baixo daquela camada superficial, ele logo é descartado e as respostas são sempre as mais evidentes. Chega a ser frustrante que um filme que começa com tanto mistério e um clima fascinante enverede para algo comparável com um desenho animado, com um vilão contando todo o seu plano maligno nos minutos finais, para garantir que mesmo quem dormiu na hora anterior seja capaz de acompanhar o desfecho.

A Cura poderia ter sido muito mais se apenas mantivesse a qualidade e o clima que apresenta na primeira hora. Entretanto, considerando o resultado final, este não é o tratamento recomendado para quem apresenta sintomas de deficiência de bons filmes de suspense.

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