A Chegada é um filme cuja temática principal é a visita inesperada de alienígenas na Terra, mas acaba abordando temas surpreendentemente humanos. Não há batalhas épicas, nem cidades inteiras sendo destruídas ou explosões colossais. Há silêncios, medo perante o desconhecido, fragilidade, fascinação, sorrisos, hesitação e luto.
A suposta invasão é explorada tanto em uma escala global, de preocupações de líderes mundiais e tentativas de chegar a um consenso, quanto em um nível profundamente pessoal, mostrando como algo grandioso afeta pessoas comuns.
Eles chegaram
Quando 12 naves espaciais chegam à Terra, diferentes países reúnem os mais diversos profissionais em uma missão de responder uma única questão: O que os aliens querem. Nos Estados Unidos, uma linguista, Louise Banks (Amy Adams), é recrutada como uma das colaboradoras para fazer com que a comunicação entre humanos e os seres de outro planeta aconteça.
Louise é uma mulher extremamente inteligente, mas sem nenhum treinamento militar ou mesmo preparo psicológico para o que está para encontrar. Ela não é perfeita e se comporta como a maioria de nós reagiria perante uma tarefa tão grandiosa quanto traduzir o idioma de uma espécie de outro planeta: com apreensão, medo do desconhecido e também um leve fascínio por todas as possibilidades que acabam de surgir diante dela.
É preciso destacar como Amy Adams brilhou nesse papel. A angústia e as experiências de vida da protagonista são transmitida de maneira cativante e verossímil até em cenas sem nenhum diálogo. É possível se identificar com a maneira como ela parece duvidar que é capaz de uma tarefa tão colossal e que pode definir o futuro de toda a humanidade.
Um pequeno passo para uma mulher
A Chegada tem um ritmo lento, que acentua a difícil missão de conseguirmos nos comunicar com seres totalmente desconhecidos. Cada dia que passa, cada pequena evolução da protagonista, é seguido de inúmeros questionamentos burocráticos e pressão para que ela chegue logo a uma resposta.
Uma pergunta feita com as palavras erradas ou traduzida de maneira ambígua pode gerar uma guerra entre humanos e aliens ou mesmo entre todos os países que estão envolvidos no esforço de aprender o objetivo dos seres extraterrestres.
Só que o mundo não pode esperar uma resposta que não tem um prazo específico para ser respondida. A população fica cada vez mais apreensiva com as grandes naves que chegaram em diferentes países e as intenções dos seres de outros planetas. Com a pressão popular, o governo precisa agir, mesmo que não tenha informações suficientes.
A trama usa esse inquietamento para questionar decisões que tomamos por impulso, por medo do desconhecido e pelo foco no individualismo que estamos acostumados. São temas atuais abordados por uma lente de ficção científica.
Um salto gigantesco para a humanidade
O filme tem uma temática principal densa e interessante, que conseguiria cativar a audiência por si só. Mesmo assim, existe uma escolha consciente de desdobrar a trama em pequenas ramificações para que ela se torne muito maior e muito mais pessoal que simplesmente uma invasão alienígena.
A história reflete como pequenas escolhas ou detalhes do passado de alguém podem ter um impacto duradouro e inestimável. Ela mostra como fatos que podem parecer irrelevantes dentro de um contexto maior, como um nascimento ou a perda de um ente querido, podem mudar a nossa percepção do mundo de diferentes maneiras.
E, apesar de ter reviravoltas intrigantes, A Chegada não se baseia unicamente em um plot twist. O filme tem uma história rica, bem estruturada, cheia de nuances e que cresce em uma narrativa que explora muito bem suas pausas e seus silêncios. Ele é tão cheio detalhes visuais que em algumas cenas é quase possível sentir o cheiro do ambiente. Certamente garantiu um lugar entre os melhores do ano.