Para mim a ideia de mais um Exterminador do Futuro nunca foi ruim, para falar a verdade, quando soube que Emilia Clarke seria a nova Sarah Connor meu coração se encheu de esperança. Oras, quem poderia ser mais BADASSMODAFOCA que a própria filha da tormenta? O papel estava em boas mãos. Além disso teríamos também Matt Smith, o décimo primeiro Doutor no elenco e como um fã de Doctor Who eu não poderia estar mais satisfeito com essa escolha.
Para coroar essa escalação, o velho brucutu, o Governator, estaria de volta no papel de um T-800. Não seria um filme do Exterminador do Futuro, se o vovô Arnold não estivesse envolvido. Apesar da idade e de Exterminador do Futuro 3... é sempre bom ver Schwarzenegger retornando ao seu papel mais clássico. Afinal, ele sempre disse que iria voltar.
Quando vi o primeiro trailer de Exterminador do Futuro: Gênesis, onde descobrimos parte da trama, mesmo com centenas de fãs criticando eu continuei esperançoso. Muitos reclamaram dessa nova linha temporal, que mostrou uma Sarah Connor sendo criada desde os nove anos de idade por um T-800 e salvando Kyle Reese quando o soldado volta para 1984. Para mim isso era ótimo, o novo filme estava jogando um "e se" na história original que me pareceu muito promissor.
Apesar de todas as críticas até então, eu ainda estava gostando e aceitava a ideia que o universo de Exterminador do Futuro poderia ter diversas linhas temporais. Onde pequenas alterações nessa história, que parecia ser um círculo fechado e rodaria por toda a eternidade, causaria mudanças drásticas. Estava ansioso para ver como tudo isso seria explicado nos cinemas, mas foi aí que veio a bomba: John Connor seria um exterminador no filme.
Sem a menor cerimônia, os trailers seguintes do longa entregaram o que poderia ser uma descoberta de explodir cabeças na sala escura. Foi neste exato momento que as minhas expectativas para o filme começaram a diminuir e nunca mais subiram. Não é difícil explicar o motivo disso: Você pega o ícone dos seres humanos, o símbolo da salvação, o homem que durante QUATRO FILMES teve a sua vida protegida a qualquer custo, o centro da mitologia Exterminador do Futuro e inverte totalmente o seu papel, tornando ele o antagonista. Por mais absurda que essa ideia parecia, meu lado mórbido coçava querendo saber como diabos eles explicariam isso... estaria eu prestes a presenciar uma das reviravoltas mais incríveis da história do cinema, ou iria me deparar com algo que claramente não iria dar certo. Porque se a explicação para essa mudança drástica não fosse boa, o filme também não seria. John Connor é o resultado final de tudo, se ele não é o salvador da humanidade, o círculo não fecha.
Bom... mas um novo Exterminador do Futuro está estreando nos cinemas, e por mais que minhas expectativas estivessem baixas, para mim é uma obrigação ver. E durante 2 horas foi exatamente assim que me senti: fui obrigado a ver um filme. Ele é tão ruim que quando a luz do cinema que eu estava acabou nos primeiro 15 minutos e voltou logo em seguida, duas horas depois comecei a pensar que seria melhor se ela não tivesse voltado.
Gênesis não passa de uma série de momentos recortados dos outros 4 filmes, juntados com uma nova roupagem. Não sei se a intenção era fazer alguma espécie de homenagem ou referência aos filmes antigos, em todo caso o longa falha em ambas. As "homenagens" não tem carisma e as referências são pouco exploradas. Mas esse é o menor dos problemas, porque pelo menos os momentos em que lembramos dos filmes antigos são os momentos em que quase esquecemos que estamos vendo Gênesis.
O maior problema foi a aparente preguiça dos roteiristas em explicar as coisas. Tentando disfarçar essa falta de informação, transformando tudo que não tem uma explicação coerente com a trama em um mistério. "Como fulano chegou aqui? Ninguém sabe!", "Como ciclano sabe disso? Não sei, só sei que ele sabe!", "Já estava assim quando eu cheguei", etc... E não dá para dizer o que é pior, porque quando o roteiro tenta explicar algo, ouvimos um technobabble que até uma suspensão de descrença do tamanho do Evereste não conseguiria aceitar.
O roteiro falha em explicar por que existe essa nova linha temporal, falha em explicar por que o vilão do filme toma decisões que iriam contra sua própria existência, falha até mesmo em mostrar como a Skynet consegue fazer o que faz no início do filme.
Infelizmente Emilia Clarke não consegue carregar o peso de interpretar Sarah Connor, ou pelo menos não teve um roteiro que a ajudasse a viver a personagem. É difícil acreditar que a Sarah que vimos em T2 é a mesma. A lógica faria a gente pensar que sendo criada para a guerra desde os nove anos a deixaria ainda mais neurótica com o possível fim do mundo, mais experiente na arte do combate e mais séria. Mas vemos um Sarah adolescente, que faz brincadeiras toda hora e chama seu exterminador de Papi! Não que um T-800 não possa ter uma relação afetiva com uma pessoa, já vimos isso no segundo filme, mas no caso de Gênesis não estamos vendo isso, estamos vendo é uma premissa para uma Sitcom. E Jai Courtney vai fazer você sentir saudades de Michael Biehn, e muito. Sam Worthington já não é mais uma das piores coisas que aconteceram a franquia.
Titio Arnold está lá e o que podemos dizer? Ele interpretou um robô bem... tão bem quanto fez nos outros filmes. No geral o problema deste filme não é dos atores, até Jason Clarke como um John Connor robótico faz um vilão decente. A trama é ruim, ela não faz sentido em seu próprio universo. É uma desculpa esfarrapada para uma continuação que existe simplesmente para arrecadar no nome da franquia. É claro que isso é comum no cinema, mas isso ficou extremamente evidente neste filme. Não é segredo que os direitos de Exterminador do Futuro estiveram nos últimos anos em um imbróglio jurídico, e quando o dono da vez conseguiu uma brecha decidiu capitalizar em cima do que tem. Sem nenhuma preocupação com coerência em relação ao que já existe.
Gênesis não consegue nem se encaixar no que já existe, até porque ignora os dois últimos filmes completamente. Ele tenta gerar uma espécie de linha paralela do tempo para expandir em futuras continuações mas falha miseravelmente. E tomara que essa história acabe por aqui, porque se a intenção de fazer ainda mais dois filmes nessa linha der certo, as coisas só tendem a piorar.