A Visita é uma dessas histórias que dependem bastante da revelação final para funcionar e talvez não seja uma boa escolha assisti-lo mais de uma vez. Entretanto, é preciso deixar claro que a maior reviravolta de todas é que este é um longa recente de M. Night Shyamalan que não é um completo desastre.
A premissa é talvez a mais cotidiana do diretor: dois adolescentes vão passar um tempo com os avós em uma fazenda isolada, sem WiFi e sem sinal de celular. O que poderia dar errado?
A visita é um filme que mistura comédia e horror na dose certa. É a escolha perfeita para assistir com pessoas que se assustam facilmente por não exagerar no gore nem nos scare jumps, e balancear bem a tensão com momentos de descontração, sem virar um besteirol americano.
O longa é inspirado pelo estilo found footage, filmado com as duas câmeras que pertencem aos irmãos Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould), mas com menos defeitos e tremores que são característicos desse tipo de gravação por ser um documentário feito pela protagonista aspirante a cineasta. Ele consegue passar o clima de algo sendo contado em primeira pessoa, mas deixa tudo mais plástico e bonito para refletir a escolha visual da garota.
Mesmo assim, tanto os sustos quanto os momentos de humor funcionam muito bem. Em qualquer outro filme de terror, os eventos estranhos que vão se escalando sem nenhuma reação imediata dos personagens seriam motivo para chamar os protagonistas de burros e ter raiva por eles não saírem correndo o quanto antes.
Porém, por não se levar tão a sério e por se tratar de pessoas tão jovens (Becca tem 15 anos e Tyler tem 13), os questionamentos sobre os eventos estranhos que acontecem na casa persistem até o final e tudo fica mais verossímil. Seria pura paranoia ou algo horrível está acontecendo de verdade? É algo fácil de explicar ou tem a ver com paranormalidade? A verdade está lá fora?
Os dois irmãos tem personalidades completamente distintas, mas de um jeito que quase se complementam. Um não perde a chance de alfinetar o outro, mas quando algo acontece, existe uma união verdadeira ali. Os gostos, as aspirações e os traumas são bem explorados de uma maneira com a qual é possível se identificar ou pelo menos aturar de maneira mais fácil.
Becca não é apenas um projeto de cineasta pedante que acredita que é melhor do que realmente é (oi, Shyamalan), e Tyler não é o pestinha desbocado que parece inicialmente. Os dois se desenvolvem e aprendem sobre si mesmos ao longo da história, sempre ajudando o outro a melhorar, mas sem parecer forçado demais.
Os avós também são estranhos de uma maneira quase familiar. Há uma linha fina entre sinais de velhice e algo verdadeiramente ameaçador, e o doce casal de velhinhos parece ficar sempre nessa fronteira.
A Visita não é a redenção total de Shyamalan. O longa não atinge o mesmo nível de nenhuma das obras que fizeram a fama do diretor (Corpo Fechado, Sexto Sentido, Sinais), mas pelo menos serve como um pedido de desculpas pela qualidade dos últimos filmes (caso sua mente tenha bloqueado essa informação, Shyamalan foi responsável por O Último Mestre do Ar) e é um indicativo de que ele está voltando para o caminho certo.
A Visita estreia em 26 de novembro no Brasil.