Quem ouve o podcast Lá do Bunker semanalmente sabe que estamos quase sempre reclamando de como Hollywood está se repetindo. Dos lançamentos atuais, grande parte se resume a sequências, remakes e reboots, deixando claro como a indústria de entretenimento estadunidense está apostando no que “já dá certo”.
- Onda Coreana? Entenda o que é Hallyu e o seu impacto no entretenimento
- Entenda a diferença entre dorama e k-drama | Guia prático
Em meio a isso, felizmente, existe um movimento que está criando força: o consumo de produções do leste asiático, incluindo doramas, k-dramas e até novelas turcas. E isso pode ser sentido também na música, que avança a passos largos com o k-pop, e também com bandas de j-rock, como o RADWIMPS.
Ligação entre Brasil e Japão

A convite da Crunchyroll, pude acompanhar o show da banda RADWIMPS em São Paulo e digo, sem dúvidas, que saí de lá com uma sensação incrível de renovação. A banda foi formada em 2001, ou seja, tem um bom tempo de estrada e muitas (boas) músicas no currículo. Entre elas, estão alguns temas dos filmes de Makoto Shinkai, como Your Name e Suzume.
Ao chegar perto do local do show, no Terra SP, já ficou claro que o público estava muito feliz com a apresentação, que teve um leve atraso por conta da liberação dos equipamentos do aeroporto do México. Mas isso não desanimou quem estava por lá, e foi muito interessante perceber como o público de bandas de outras nacionalidades valoriza tais turnês. Afinal, diferente de um Iron Maiden, que vira e mexe está batendo ponto no Brasil, a vinda de uma banda japonesa é bem mais difícil.
Outro ponto curioso que percebi antes do show foi como grande parte dos fãs presentes eram das comunidades asiáticas presentes em São Paulo, com muitos até conversando em seus idiomas natais.
Essa ligação entre Brasil e Japão foi sentida também no palco. Após iniciar a apresentação com um show de luzes e agradecer a animação do público, o RADWIMPS citou como o Brasil (especialmente São Paulo) tem várias pessoas da comunidade japonesa e como foi emocionante ver esse público ali curtindo o show.
Arte que aproxima além do idioma

O RADWIMPS veio ao Brasil com o trio principal, formado por Yojiro Noda (vocalista, guitarrista, pianista), Akira Kuwahara (guitarrista, backing vocal) e Yusuke Takeda (baixista, backing vocal), além dos bateristas de apoio Mizuki Mori e Masafumi Eno. Sim, dois bateristas. É claro que um deles também se revezava em instrumentos de percussão no geral, mas várias músicas foram tocadas com duas baterias sincronizadas, o que me deixou positivamente impressionada.
Além dos hits, os dois momentos mais emocionantes foram quando as músicas-tema de Suzume e Your Name foram tocadas. E, em especial, a segunda, já que muitos fãs parecem ter conhecido a banda justamente na época do filme, e estavam ali vendo a performance ao vivo pela primeira vez.
Também é válido dizer que o show teve um clima mais intimista, por conta do espaço mais enxuto proporcionado por uma casa de shows, e pela ligação entre público e banda, que ficou clara em vários momentos. Muito animados, o baixista Yusuke Takeda e o guitarrista Akira Kuwahara arriscaram até algumas frases em português, deixando os fãs presentes malucos. Noda, o vocalista, não arriscou nosso idioma, mas deu recados em inglês, deixando claro como estava emocionado com a apresentação.
Quando falamos sobre consumir conteúdos de outros países fora dos nichos de EUA/Europa, falamos também sobre uma questão de idioma, mas que não precisa ser encarada como uma barreira. Afinal, nós também não temos o inglês como idioma nativo, mas nos esforçamos para entender músicas e artistas que amamos. De cara, consumir conteúdos como músicas e séries em japonês e coreano pode parecer assustador, mas garanto que, aos poucos, é possível pegar algumas palavras aqui e ali, exatamente como acontece com o inglês.

Com duas músicas de bis, o RADWIMPS terminou a apresentação com um misto de emoções. Sincero, o vocalista Yojiro Noda encerrou a parte principal do show dizendo realmente não saber quando a banda poderia voltar ao Brasil. Mas a empolgação do bis foi tanta, com bandeiras da banda, do Brasil e do Japão juntas, que até ele voltou atrás e prometeu voltar assim que possível.
Como dito no começo desta coluna, saí da apresentação com uma sensação de renovação e vontade de conhecer mais bandas de rock japonês. É claro que nada vai apagar a importância de artistas como Nirvana, The Killers e Green Day na minha vida. Na verdade, a busca aqui jamais será por substituição, mas sim por conhecer algo novo, de outra cultura, que tire a sensação de que estou sempre ouvindo e assistindo mais do mesmo. E vale muito a pena.