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Garra de Ferro usa sensibilidade para unir espetáculo e drama | Crítica
Críticas

Garra de Ferro usa sensibilidade para unir espetáculo e drama | Crítica

Cinebiografia de uma histórica família da luta livre conquista ao equilibrar triunfos e tragédias

Gabriel Avila
Gabriel Avila
06.mar.24 às 14h00
Atualizado há cerca de 1 ano
Garra de Ferro usa sensibilidade para unir espetáculo e drama | Crítica
A24/Divulgação

Por conta do título, algum desavisado pode chegar ao cinema e tomar Garra de Ferro como o filme de um novo super-herói da Marvel, DC ou semelhante. Os minutos iniciais até reforçam a ideia, já que apresentam o que parece ser a origem de um grupo formado por irmãos fortões que derrotam qualquer um que desafie a família – com direito a golpe especial e tudo. Porém, o que se desenrola é um drama esportivo arrebatador que transforma o chavão “inspirado em uma história real” em um agouro sinistro.

A produção da A24 conta a história dos Von Erich, família que se dedicou à luta livre, encontrando glória e desgraça na busca pelo cinturão de campeão mundial. A raiz da obsessão é Fritz (Holt McCallany), patriarca que criou os filhos Kevin (Zac Efron), Kerry (Jeremy Allen White), David (Harris Dickinson) e Mike (Stanley Simons) para trazer para casa o título que ele mesmo nunca conseguiu enquanto atleta.

Escrito e dirigido por Sean Durkin (Gêmeas: Mórbida Semelhança), Garra de Ferro brinca com a expectativa do público em relação às cinebiografias. No primeiro momento, a produção entra no jogo e apresenta a ascensão dos Von Erich em um espetáculo que honra o que a família fez no ringue nos anos em que esteve em atividade.

O primeiro passo para a imersão está no apurado trabalho dos departamentos técnicos para recriar os EUA do final da década de 1970. Tal riqueza de detalhes brilha na direção de fotografia de Mátyás Erdély (O Intruso), que estabelece uma atmosfera nostálgica ao invocar a estética da época de forma vibrante.

É através dessa lente que o público vislumbra o mundo da luta livre profissional, que se torna cativante mesmo para não-iniciados. Com o auxílio de lutadores reais para a preparação e execução das lutas, cada embate é tratado com o devido capricho, retratando tanto a extravagância da modalidade quanto a exigência física de seus praticantes.

A grandiosidade dos Von Erich nos ringues é estabelecida conforme somos apresentados ao funcionamento interno da família. Durkin é competente ao não perder tempo e explicar quem é quem e desenvolver suas características principais com a história em andamento. Um trabalho que ganha vida graças à entrega do elenco, em especial do quarteto principal.

Nesse ponto, é impossível não destacar Zac Efron, que recebe mais tempo de tela graças ao filme escolher seu personagem, Kevin, para narrar a história. Mais velho dos irmãos, cabe a ele a tarefa de ser a âncora emocional da produção mesmo nas situações em que não está diretamente envolvido. Uma tarefa que o astro mata no peito musculoso e faz bonito ao dar vida a um personagem que transborda emoção apesar de claras limitações em transmiti-las.

Apesar de ser o mais próximo que Garra de Ferro tem de protagonista, Kevin passa longe de estar sozinho e, como nos ringues, divide o peso de carregar a trama com os irmãos. A dinâmica e o carinho compartilhados pelo quarteto são alguns dos pontos altos da produção, especialmente pelo contraste oferecido pela rigidez insensível do patriarca Fritz.

E estas relações são peças-chave quando a produção muda o foco e mergulha de vez no drama. Desde o início, a produção estabelece uma aura soturna, que acompanha os Von Erich mesmo em seus dias de glória. Em uma das cenas mais singelas da produção, por exemplo, Kevin comenta com a namorada Pam (Lily James) que a família tem fama de ser amaldiçoada. Um presságio sinistro que parece cada vez mais concreto conforme a dinastia se despedaça, uma tragédia por vez.

Nesse ponto, chama a atenção a condução de Sean Durkin, que trata Garra de Ferro como seus personagens tratam a luta livre. O que começa tomado por uma breguice espalhafatosa e diálogos tão expositivos que parecem pobres, gradativamente se despe das camadas de espetáculo para dar lugar a uma sinceridade cortante.

Essa progressão é baseada nas inúmeras tragédias contidas na história dos Von Erich, que são tantas e tão graves que poderiam parecer exageradas, se não fosse o letreiro avisando que Garra de Ferro é inspirado em uma história real. Porém, a forma como Durkin retrata cada um desses episódios demonstra maturidade ao recusar o caminho do sensacionalismo e abordá-las com a gravidade exigida, sem mergulhar no sofrimento de forma apelativa. Uma ideia que fica ainda mais forte após a surpreendente descoberta de que o filme cortou outras fatalidades dos Von Erich por questões narrativas.

Na verdade, o filme está mais interessado em estudar esses personagens, que amam a si e o que fazem e aproveitam ao máximo até serem pegos por uma suposta maldição. Uma situação delicada e complexa, representada pela tal Garra de Ferro. Para o título, o filme pega emprestado o nome de um golpe que consiste em apertar a cabeça do oponente até ele não ter escolha a não ser se render.

Criado por Fritz durante sua obsessão por se tornar mundialmente conhecido, o movimento é uma das várias coisas que o patriarca passou à geração seguinte. Uma combinação que, de muitas formas, traçou o destino destino dos Von Erichs, e criou uma história que merece ser contada para muito além das tragédias.

Garra de Ferro entra em cartaz nos cinemas do Brasil nesta quinta-feira (7).

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