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Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco – 1ª temporada | Crítica
Animes e Mangás

Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco – 1ª temporada | Crítica

Cheio de escolhas questionáveis, nem a nostalgia salva o remake da Netflix

Jefferson Sato
Jefferson Sato
30.jan.20 às 14h29
Atualizado há mais de 1 ano
Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco – 1ª temporada | Crítica

Como muita gente que foi criança ou adolescente no começo dos anos 90, tenho um espaço reservado no coração para Os Cavaleiros do Zodíaco (Saint Seiya, no original).

Então, quando a Netflix e a Toei Animation anunciaram um remake do anime em computação gráfica, obviamente fiquei interessado. No entanto, embora eu aprecie a nostalgia associada à franquia, sabia que não era uma boa ideia ter altas expectativas, considerando seu histórico fraco de spin-offs e continuações.

Entendo que o mesmo não pode ser dito de grande parte dos fãs. A série, inspirada no mangá homônimo de Masami Kurumada, virou uma febre no Brasil na década de 90 e foi uma das grandes responsáveis pelo interesse por animes e por cultura japonesa que surgiu na época. Com tanto sucesso, que se repetiu em alguns países da Europa e da América Latina, é compreensível que o público que ainda acompanha a franquia espere o melhor dela.

Os Cavaleiros de Atena estão de volta

Então como a nova produção da Netflix, Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco, lida com esta expectativa? Minha impressão é que o objetivo do remake era atrair tanto os fãs originais quanto um público mais jovem, que ainda não conhece a obra. Mas a falta de foco, entre outros problemas, resultou em uma série desinteressante e que deixa muito a desejar.

Releitura de um clássico

Para quem conhece o mangá ou o anime original, sabe mais ou menos o que esperar da história: a deusa Atena reencarna na Terra como Saori Kido para proteger a humanidade de divindades malignas. Uma conspiração, no entanto, a coloca em perigo, e um grupo de jovens Cavaleiros se une para defendê-la.

Embora a base seja a mesma, o remake toma a liberdade de alterar certos detalhes ou como alguns dos eventos acontecem. A forma como Seiya se separa de sua irmã ou a origem do protagonista são alguns exemplos. As Armaduras também não ficam mais armazenadas nas Caixas de Pandora, mas sim compactadas em medalhões — um conceito que já tinha sido explorado no filme Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário e no anime Saint Seiya Omega, onde viravam cristais.

As mudanças em si não são ruins e a maioria delas não afeta muito o curso da história geral da série. No entanto algumas, por serem mal executadas, alteram fundamentalmente o fluxo da trama — para pior.

Nesta versão é explicado que uma profecia prevê a destruição da humanidade nas mãos desta reencarnação de Atena. Por isso o Grande Mestre e o Santuário, que originalmente deveriam protegê-la, decidem matar Saori ainda bebê. Quando ela é encontrada por Mitsumasa Kido, ele não está sozinho. Desta vez, ele está acompanhado de seu amigo e sócio Vander Guraad, um personagem inédito do remake.

Um vilão inédito com aquele cheirinho de filler ruim

Por acreditar na profecia, Guraad cria os Cavaleiros Negros. No anime original, eles eram exatamente iguais aos protagonistas (sem explicação), mas malignos, o que já era uma ideia bem tosca. Aqui eles foram substituídos por um exército de soldados genéricos sem poder que usam armaduras tecnológicas. Sinceramente, não sei o que é pior.

Até que essa mudança não seria tão ruim, se Guraad e seus Cavaleiros Negros não fossem os principais antagonistas da primeira temporada. Por algum motivo, decidiram focar neste vilão inédito e sem graça, praticamente deixando de lado a ameaça do Santuário.

A batalha contra os Cavaleiros de Prata, por exemplo, é apressada e perde a importância, sendo quase irrelevante para a trama. Mas, por algum motivo, acharam uma boa ideia dedicar um tempo considerável para mostrar os protagonistas enfrentando tanques, helicópteros e soldados genéricos.

Ah, é isso mesmo que a gente queria ver em um remake de Saint Seiya...

Esta falta de foco é um dos piores problemas no remake. Como eu disse anteriormente, as mudanças da história não são ruins, mas a execução delas é. Parece que quiseram inovar na trama, mas acabaram perdendo a mão. O resultado é uma série que se arrasta pela sua primeira temporada, mesmo tendo apenas 12 episódios. Mas estes estão longe de serem seus únicos defeitos.

Meteoro de problemas

Quero muito falar sobre o fato de Shun ser uma mulher. Normalmente eu apoiaria essa decisão, mas sinto que foi uma escolha preguiçosa da produção. O personagem foi selecionado apenas porque sua versão original era delicada e afeminada. Para mim, é justamente por isso que ele deveria ter continuado igual. O impacto da representatividade seria muito maior se qualquer um dos outros quatro principais tivesse mudado de gênero — talvez o Ikki, já que ele é frequentemente considerado o mais poderoso dos Cavaleiros de Bronze.

Gostei da Shun assim, mas dava para ter sido melhor

Isso me incomodou, claro, mas Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco tem outros problemas muito mais fundamentais. A própria animação deixa a desejar e muitas vezes me parece preguiçosa, com cenas reutilizadas em diversos momentos. O anime original fazia o mesmo, então dá para dizer que isso acontece por causa da nostalgia, mas não deixa de ser uma desculpa esfarrapada.

Em uma série de ação, a animação costuma ser essencial para manter o interesse do espectador. Aqui, no entanto, as lutas não são nada empolgantes. Pelo contrário, são genéricas e bastante chatas de assistir.

E por falar em combates, não espere muita variedade. Fãs costumam brincar, dizendo que o grande poder de Seiya no anime original era ser o personagem principal, mas aqui seu protagonismo está pior do que nunca. Ele é praticamente o único dos cinco Cavaleiros de Bronze que tem lutas importantes. Na maior parte do tempo, os outros apenas participam de batalhas insignificantes.

Mas nem tudo na parte visual é um problema. Se existe algo que merece o elogio, é a aparência das armaduras dos Cavaleiros, que são cheias de detalhes interessantes. Desta vez, o design delas foi pensado para funcionarem mais parecidas com armaduras de verdade, com articulações nos locais certos. Além disso, a roupa que fica por baixo agora é parte delas, com um tecido especial.

Ao mesmo tempo, os trajes conseguem se manter bastante fieis aos conceitos originais. Também gosto de como eles ficam arranhados e sujos durante o combate, embora só tenham duas texturas: completamente limpos ou totalmente detonados, logo depois de levarem primeiro golpe.

Os detalhes são muito legais!

De qualquer forma, por mais legais que as armaduras sejam, elas não salvam Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco, que também acabou prejudicada com uma péssima apresentação da própria Netflix. Para começar, a animação foi dividida em duas partes, sendo que a segunda foi lançada seis meses depois da primeira. Os fãs tiveram que esperar esse tempo todo, achando que começaria um arco novo, focado nos Cavaleiros de Prata e no Santuário, para continuarem vendo a mesma ladainha de Guraad e dos Cavaleiros Negros.

Além disso, me incomodou que a primeira parte não tinha o idioma japonês e a opção só chegou com a segunda. Sei que sou minoria por não querer assistir dublado em português, mas achei a versão brasileira bem fraca.

É legal demais que grande parte das vozes originais estejam lá, mas senti que elas estão muito artificiais. A impressão que passa é que tentaram dar um ar descolado para o trabalho, nos moldes de Yu Yu Hakusho e One Punch Man, mas falharam miseravelmente, resultando em algo cheio de gírias forçadas e diálogos que dão vergonha alheia.

Cosmo fraco

Talvez a série da Netflix até consiga atrair um público novo, que não seja familiar com a obra original, mas como releitura de Os Cavaleiros do Zodíaco, ela é bastante fraca e cheia de defeitos. Não digo isso apenas como fã da franquia, mas também como alguém que simplesmente queria assistir algo interessante.

A apresentação ruim, as escolhas duvidosas e a entediante história, entre outros problemas menores, atrapalham o que tinha potencial para ser uma versão mais leve e divertida de um clássico. Ainda acho que os fãs deveriam conferir o remake por curiosidade, talvez junto de seus filhos ou sobrinhos, mas apenas tenham em mente que Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco está muito longe de alcançar o sétimo sentido.

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