EA e Koei Tecmo unem forças em uma parceria inusitada para entregar Wild Hearts, uma aposta arriscada sob o selo EA Originals. Porém, ainda que tenha pouco de original, o título entrega uma diversão honesta e viciante.
Confira nossas considerações sobre o game abaixo.
Caçadores e monstros gigantes

O mundo de Wild Hearts é habitado por criaturas tão poderosas, que podem até mesmo influenciar na própria Natureza (ou seria o contrário?). Eles são chamados de Kemono e respeitados por todos os habitantes daquele mundo.
Mas é preciso se proteger quando, por alguma razão, uma grande quantidade de Kemono passa a migrar e agir de forma um tanto violenta na busca de sustento e sobrevivência. Aí surgem os caçadores responsáveis por eliminar tais ameaças e proteger cidades como Minato, um dos grandes fortes habitados por seres humanos daquele mundo.
O jogador assume o papel de um desses caçadores lendários, e com o diferencial de poder manipular livremente o poder dos karakuri, uma espécie de mecanismo quase mágico, criado no ar, e que facilita a vida de todos naquele mundo: das caçadas aos confortos domésticos.
E logo de cara o jogo já te coloca frente a frente com um dos grandes Kemono do jogo, um lobo gigante que manipula o gelo como quer. A batalha é injusta propositalmente – e, vai por mim, enfrentá-lo durante a campanha no momento certo é, no mínimo, 10 vezes pior – e logo somos apresentados ao personagem misterioso Mujina, que ajuda a criar seu personagem e entender um pouco a situação local.
Fauna e Flora

O universo de Wild Hearts é vasto, com alguns recortes interessantes, e cheio de matéria-prima para o caçador coletar pelo caminho. No geral, há muitas florestas abandonadas pelos humanos, sem a menor condição de sobrevivência, a menos que você seja um caçador e tenha sua própria barraquinha para descanso.
Os Kemono vivem livres e soltos em cada um dos mapas, e são apresentados aos poucos para o jogador. Eles se dividem em dois tipos: um menor, que pode ou não ser confrontado – inclusive, uma opção interessante é a de escolher entre matar ou acariciar os Kemono pequenos; - e claro, a cereja do bolo: os monstros gigantes que farão de tudo para acabar com a sua vida.
Confesso que é um pouco difícil para mim ter interesse por jogos de caça desse estilo, já que, tirando a parte da campanha, na qual os Kemono se apresentam de forma selvagem e sempre intimidadora, quando vamos buscar por materiais e realizar novamente essas caçadas épicas, quase sempre os Kemono gigante estão lá, de boas, sem fazer mal algum a ninguém (alguns até brincando de barriga para cima). Dá uma dózinha, mesmo dos mais feios.
Armas letais, inimigos também

Wild Hearts não tem evolução de personagem. Quer dizer, quase isso. A todo momento é preciso checar seu equipamento e atualizá-lo da forma que puder. E como fazer isso? Simples, utilizando as partes dos Kemono abatidos durante os inúmeros confrontos que terá até o final do jogo.
É preciso escolher, no entanto, o melhor caminho para avançar no game: armas ou armaduras primeiro. Em cada uma das caçadas é possível adquirir itens chave para a evolução do seu equipamento. Nesse momento entra um pouco da experiência anterior com esse tipo de jogo.
Estudar a presa, se preparar adequadamente para evitar os debuffs que o monstro pode causar (envenenamento, sonolência, sangramento, etc) e, neste caso, uma armadura vai te proteger melhor e ajudar no caminho para a vitória.

Ainda mais porque Wild Hearts é extremamente convidativo a ser jogado em party de até quatro jogadores. O crossplay (possibilidade de sincronização com qualquer plataforma que o game está disponível) ajuda muito na hora de buscar ajuda online.
As armas são divididas em múltiplas categorias. Desde o estilo (espadas, martelos, arco e flecha e por aí vai), cada uma se diferenciando entre o tipo (corte, perfuração, explosão) e o principal elemento natural que representa (vento, fogo, água, etc).
Ao todo são oito tipo de armas que podem ser forjadas, desde algumas mais simples, como a katana (arma de uso básico e bastante eficiente), até outras um tanto mais elaboradas que requerem maior estudo, como o wagasa cortante (um guarda-chuva com lâminas) ou o bastão karakuri (arma mais exótica do jogo, com cinco variações que podem ser utilizadas ao mesmo tempo durante o combate).
Karakuri

A grande estrela de Wild Hearts (ao lado dos Kemono, claro) é o Karakuri, um artefato misterioso que ajuda o caçador em sua jornada. Diz a lenda que no passado inúmeros caçadores eram portadores desse poder misterioso mas que, por algum motivo, se perdeu na história.
Os karakuri transformam a experiência do jogo. É o ineditismo que faltava aparecer na história. Esse poder pode ser utilizado desde a primeira caçada e segue seu próprio caminho de evolução. De vez em quando é comprado com pontos obtidos nas caçadas, de vez em quando em epifanias no meio do combate (o tipo mais legal).

E eles servem para tudo. Na caça, são artefatos que podem explorar as fraquezas do Kemono, como uma bomba de fogos de artifício, derrubando do ar os personagens alados; como uma parede maciça, que impede o avanço do Kemono em sua direção; e até mesmo como um martelo gigante, bem aos moldes “Acme”, dos desenhos do Pernalonga.
O poder do karakuri é contado através da quantidade de “linhas” que o jogador possui (o número embaixo, bem no meio da tela). Cada peça montada pede um número X de linhas e, ao se esgotarem, o jogador precisa colher mais no cenário exatamente ao estilo Fortnite.

Vale a experiência do jogador em saber quando e como utilizar cada um dos karakuri disponíveis para o combate. Lembrando sempre que não é possível equipar toda a variedade de karakuri disponíveis ao mesmo tempo, mas aí entra a boa conversa entre os membros da equipe para que cada um supra a necessidade do outro no confronto.
É possível criar karakuri que não servem exclusivamente para o combate, mas também para armazenar itens e até se locomover melhor no mapa. O jogo tenta explorar bastante essas habilidades de conjuração e exploração de itens de apoio na hora da caçada, cabe só ao jogador tomar bom proveito disso – especialmente os karakuri de coleta de materiais.
Lembra um pouco aquele outro jogo…

A comparação não é infundada: Wild Hearts e Monster Hunter (Capcom) têm muito mais em comum do que deveriam. Do planejamento da caçada, até as formas de matar o monstro e como ele (monstro) recua durante o combate – dividindo a ação em até quatro momentos – é tudo muito parecido.
O que faz as coisas tomarem um rumo diferenciado está, primeiramente, no combate com karakuri. Uma equipe bem estruturada, com cada um criando seus próprios artefatos e colaborando com a luta (ao invés de simplesmente se jogar para cima do monstro), faz toda a diferença, principalmente nas caçadas finais da campanha.
O sistema de fôlego do jogo também é diferente. Ao invés de contar ataques e defesa, ele apenas contabiliza os movimentos defensivos (esquiva e corrida) primariamente, além de um único ataque mais forte do personagem.

A criação e evolução de armas também se destaca aqui. Inúmeros caminhos possibilitam que o jogador crie uma arma com características únicas. O mapa é extenso, mas idêntico a todas as armas - os caminhos percorridos são o diferencial. Ah, e a possibilidade de voltar atrás em qualquer decisão e ter todos os seus materiais de volta, a qualquer momento.
Existem pequenos problemas de performance do jogo (principalmente no PC), com quedas de framerate, latência na jogatina online, iluminação de cenário aqui e ali, mas nada que pequenos patchs de correção não resolvam.
No fim, Wild Hearts é uma aposta ousada da EA, apresentando um jogo completamente japonês a novas audiências. Daqui para frente é o trabalho de manutenção do jogo que vai falar mais alto e transformar o game numa franquia ou não.
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Wild Hearts está disponível para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC.