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The Last of Us é a adaptação exemplar de um videogame | Crítica
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The Last of Us é a adaptação exemplar de um videogame | Crítica

Série da HBO manteve uma fidelidade alta à história e aos pilares do jogo, enquanto ainda teve espaço para preencher lacunas importantes

Tayná Garcia
Tayná Garcia
13.mar.23 às 08h00
Atualizado há mais de 1 ano
The Last of Us é a adaptação exemplar de um videogame | Crítica
The Last of Us/HBO/Divulgação

Assim que a HBO anunciou a produção de uma série live-action de The Last of Us, os fãs da franquia ficaram divididos, graças à famosa “maldição das adaptações de games”.

Não é surpresa que a maioria das adaptações de jogos eletrônicos para televisão ou cinema até hoje não deu muito certo. Poucas produções acertaram, como as séries animadas Arcane e Castlevania.

No entanto, ainda faltava um live-action que realmente acertasse a mão. E, apesar de ter feito parte do grupo que estava cético com a série, agora vejo The Last of Us da HBO como um exemplo de como adaptar um jogo da maneira certa.

“Resistir e sobreviver”

Com nove episódios ao todo, a primeira temporada de The Last of Us adapta os acontecimentos do jogo da Naughty Dog, originalmente lançado em 2013. O tom geral da adaptação é de fidelidade ao material original, mas não sem pequenas mudanças e adições que expandem e complementam a narrativa da franquia.

A produção foi comandada por Craig Mazin, do aclamado Chernobyl, e Neil Druckmann, diretor criativo do game. A dupla juntou experiências de mídias diferentes para trabalhar em um roteiro que faz um excelente trabalho ao “traduzir” a história de Joel e Ellie para outra mídia, cortando o que não faria sentido em uma série (como momentos com muito gameplay) e adicionando novos acontecimentos para amarrar toda a trama.

Assim, a série permanece nos mesmos passos do original na maior parte do tempo, mas esporadicamente faz desvios para trilhar caminhos inéditos. Um deles foi a adaptação do arco de David que, apesar de comprimir um capítulo inteiro do jogo em um episódio, entrega um mergulho maior na psicopatia do vilão. Além disso, a aparição curta, mas importante de Ashley Johnson como Anna, a mãe de Ellie, confirmou teorias da comunidade sobre a imunidade da personagem ao fungo Cordyceps. No entanto, senti a falta do mesmo tratamento em alguns momentos, como o que acontece com Ellie e Riley após a mordida do infectado no sétimo episódio.

Mas, de forma geral, o roteiro é bem pensado e cuidadoso, entregando uma história coerente que agrada tanto fãs de longa data quanto novos espectadores que nunca ouviram falar sobre TLOU.

A série brinca muito com simbolismos em vários episódios, como a cena dos morangos com Frank e Bill (Imagem: The Last of Us/HBO/Divulgação)

O ritmo da série não é constante, oscilando a cada capítulo. Alguns episódios têm uma pegada mais lenta e contemplativa, outros são mais acelerados – o que não é algo necessariamente negativo, mas pode incomodar espectadores que querem ação o tempo inteiro. Dois capítulos inteiros, por exemplo, são compostos apenas por flashbacks, o que faz com que a trama principal não avance de forma direta. No entanto, pela maneira como foram construídos, os vejo como um respiro bem-vindo à história, que mostra mais do universo de The Last of Us sem ficar preso apenas na dupla Joel e Ellie – algo que, como fã dos jogos, eu esperava ver na série por se tratar de uma mídia diferente.

Desde o primeiro segundo, é perceptível que a HBO apostou alto na produção, que apresenta uma qualidade elevada em questões técnicas. A fotografia e a montagem de cada episódio são cuidadosas, com foco no que cada momento quer transmitir ao espectador, ora sensibilidade e simbolismos, ora tensão e tom pesado. A mixagem de som apresenta o mesmo tratamento, sendo um elemento crucial para a criação da atmosfera de momentos importantes, como as cenas silenciosas entre Henry e Sam no quinto episódio e a sequência no hospital de Joel na finale.

A maquiagem, os efeitos práticos e o CGI foram bem utilizados durante toda a temporada. A série usou uma mistura dos três elementos para a criação dos infectados pelo Cordyceps, e o resultado são criaturas que parecem ter saído diretamente dos jogos, sem serem caricatos, mas versões realistas e realmente assustadoras.

No entanto, fica a sensação de que a produção poderia ter mostrado mais infectados ao decorrer da temporada. Apesar de causarem impacto sempre que aparecem, tivemos poucos momentos realmente focados nos monstros. Há até episódios inteiros sem eles, então ficou aquele gostinho de "queria mais".

A aparição do Baiacu foi um dos momentos mais impactantes da série (Imagem: The Last of Us/HBO/Divulgação)

Ao todo, a série contou com uma equipe de seis diretores, que mantiveram a qualidade durante toda a temporada. Destaques ficam para a estreia de Neil Druckmann na direção do segundo episódio e a sensibilidade da cineasta Liza Johnson no sétimo capítulo, focado em Ellie e Riley.

O elenco conta com nomes de peso, que entregam atuações à altura do esperado. Bella Ramsey (Game of Thrones) rouba a cena como Ellie em praticamente todo episódio, apresentando toda a personalidade da personagem, tanto em momentos cômicos quanto mais frágeis. Pedro Pascal (The Mandalorian) também brilha como Joel, mas demora para engrenar na pele do personagem, ganhando destaque em cenas mais emocionantes.

Entre os personagens secundários, os destaques ficam para Murray Bartlett (The White Lotus) como Frank, com uma atuação que encanta e sensibiliza, e Scott Shepherd (True Detective) como David, que entrega um vilão odioso.

A caracterização dos personagens com maquiagem e figurino é fiel ao material original, com direito a roupas quase idênticas às do jogo – até mesmo o moletom “napolitano” de Ellie e a clássica jaqueta bege de Joel. São pequenas referências para os fãs de longa data, que intensificam (mais ainda!) a impressão de fidelidade ao game.

The Last of Us também é conhecido por ter um elenco de personagens e desenvolvedores que prezam pela diversidade. Além de ter uma protagonista lésbica (Ellie), o jogo de 2013 e a sequência, The Last of Us Part II, apresentam vários personagens LGBTQIA+ e de diferentes etnias. É interessante ver que a série acompanha a mesma linha, com um elenco de atores e personagens também diversificado.

Procura pela luz acabou

Curiosamente, os melhores episódios da adaptação para mim foram 3º, 5º e 7º – e por motivos completamente diferentes.

O terceiro capítulo, focado em Bill e Frank, por não apenas expandir como aprofundar uma história secundária e passageira do jogo, dando uma aula de construção de personagens e exaltando o tema principal de TLOU. O quinto episódio, do arco de Henry e Sam, pela excelência em montagem e mixagem de som e entrega da maior cena de ação da série, em que o Baiacu e até uma “criança Estalador” (algo inédito!) foram introduzidos. E, por fim, o sétimo capítulo por ser um mergulho no passado de Ellie com imensa sensibilidade e sutileza.

No fim, a primeira temporada da série de The Last of Us manteve a essência da franquia que muitos jogadores passaram a amar e ampliou aquilo que conhecíamos, provando que, ei, é possível criar um live-action fiel e consistente de um videogame! É claro que inevitavelmente a fórmula focada em narrativa do jogo foi um facilitador para a adaptação em uma mídia sem interatividade, mas ainda é revigorante ver que uma série tão bem feita e concisa foi originada de um game.

Também é fascinante poder conversar e ouvir as opiniões de espectadores que não conheciam a franquia e ver que, após 10 anos e em um mídia totalmente diferente, The Last of Us mantém a mesma magia. A série realmente conseguiu reproduzir o que o jogo alcançou em 2013.


A primeira temporada de The Last of Us está disponível na íntegra no HBO Max. A segunda temporada da série já foi confirmada.

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