Há o crescimento de uma tendência nos últimos anos, de jogos que são completas reconstruções de títulos clássicos e mais antigos, como os aclamados Resident Evil 2 e Final Fantasy VII Remake. Tais lançamentos deram uma nova noção ao que entendemos como “remake” na indústria.
Assim, quando a Naughty Dog anunciou The Last of Us Part I, muitos (eu inclusa) esperavam que a nova versão apresentasse mudanças relevantes para justificar o título de remake e o preço cheio de US$ 70 (R$ 350, no Brasil). No entanto, como boa parte da comunidade já suspeitava, não é exatamente assim.
Diferente, mas igual
The Last of Us Part I realmente apresenta um visual repaginado, não apenas para os protagonistas, mas também para cada cenário.
As maiores diferenças ficam justamente para a aparência dos personagens, incluindo inimigos humanos e infectados. Até os cadáveres dos Vaga-lumes nas ruas estão completamente diferentes, por exemplo, e os Estaladores ainda mais grotescos. Há também detalhes minuciosos, como a arma branca de Joel que, agora, fica pendurada por uma fita de couro na mochila.
Os visuais da nova versão são mais realistas e bonitos, mas (e talvez meu lado saudosista esteja falando mais alto), confesso que prefiro os antigos, com exceção de David, que está com uma aparência mais condizente com sua personalidade.

Já os cenários estão atualizados, mas levemente diferentes – só que, em muitos casos, você não chega a notar o que é novo, além do gráfico modernizado. Isso acontece porque muitas mudanças estão nos pequenos detalhes. A zona de quarentena de Boston é um exemplo. As atualizações consistem na posição de detalhes gerais dos prédios (como portas e janelas), lixos e poças de água nas ruas e tom da iluminação. E só percebi as novidades ao comparar lado a lado com o original — e elas não afetaram muito a experiência.
No entanto, há locais em que as diferenças são mais nítidas. Água com tonalidade e textura atualizadas, esporos mais brilhantes, vegetação mais verde e iluminação retrabalhada dão cara nova a certas ambientações, como a cidade do Bill e o depósito de ônibus. Essas são alterações de encher os olhos.
As características restantes dos cenários, como o tamanho e a estrutura das áreas e a disposição de itens, são as mesmas e não tiveram mudanças.

É preciso destacar que também há locais com detalhes pequenos que ainda estão com uma textura bem parecida com a do original, como as garrafas marrons, as televisões e outros itens menores.
Quase o mesmo gameplay
A jogabilidade de The Last of Us Part I é a mesma do original, mas com pequenas alterações, como a retícula de mira do arco e movimentos atualizados no combate corpo a corpo. Além de novas mecânicas ligadas aos inimigos. Agora, aparece um botão de finalização quando um humano se rende e, ao explodir um infectado, seu corpo se parte ao meio e a criatura ainda pode ficar viva e se arrastar pelo chão atrás de você. São adições relativamente pequenas, mas bem divertidas na prática.
O jogador também pode esperar por momentos em que os Espreitadores, uma classe de infectados, vão aparecer. Mas melhor não revelar mais para manter a surpresa, só fica o aviso de que um certo gerador ficou ainda mais assustador…

A posição e o comportamento dos inimigos, além da animação dos personagens, ainda são os mesmos. Pude até usar as mesmas táticas para as abordagens furtivas do original e todas funcionaram.
Já a inteligência dos NPCs foi levemente aprimorada e é possível perceber como eles se posicionam melhor quando um inimigo se aproxima. Mas eles continuam completamente invisíveis para os adversários e ainda ficam no caminho do jogador às vezes, o que pode atrapalhar.
As novidades em termos de conteúdo ficam para o modo Speedrun e os modificadores, que são skins e filtros de imagem e áudio. No entanto, os extras só são desbloqueados ao zerar o game uma vez – o que não é uma escolha inteligente, já que jogadores veteranos podem querer aplicar uma das mudanças logo na primeira run por já estarem familiarizados.
Vale ainda ressaltar que o DLC Left Behind continua como um conteúdo separado do jogo base, mas conta com as mesmas melhorias gráficas e opções extras.
The Last of Us Part I também adiciona as opções de acessibilidade visual, auditiva e motora da sequência. Os recursos possibilitam personalizar controles, interface, gráficos e elementos do jogo, além de habilitar leitores de texto com voz (com opção para português) e até uma resposta tátil do DualSense para os diálogos.

Os recursos do DualSense são bem sutis, de forma geral. Apenas se movimentar causa leves tremores constantes em cada lado do controle, além de ações como ligar a lanterna, as gotas da chuva, nadar, os batimentos cardíacos e andar de cavalo também terem um feedback suave no controle.
A dublagem em português brasileiro é a mesma, mas a localização do texto parece ter sido refeita, uma vez que conta com termos diferentes e… até alguns erros de tradução e de tipografia.
Encontrei falhas na descrição de atualização da arma e principalmente nos diálogos, com “word” sendo traduzido para “mundo”, a frase “hey, there” como saudação para “ei, ali” e erros de gênero e plural, por exemplo. Isso prejudica a experiência de quem opta por legendas em português e não é familiarizado com a língua inglesa.

“É tudo que você esperava?”
É inevitável afirmar que The Last of Us Part I é mais uma remasterização do que um “remake feito do zero”, como os desenvolvedores estavam descrevendo.
Com isso em mente, não é uma nova versão ruim do original. Longe disso. Na verdade, pode até ser visto como a versão definitiva da história de The Last of Us. Só que não dá para ignorar o fato de que será vendido com preço de lançamento inédito – o que, de fato, não é. Além disso, também veio com conteúdo cortado: não conta com o multiplayer Facções.
É um jogo que vale a pena para os fãs mais apaixonados pela franquia e aqueles que nunca jogaram o original. Por isso, o lançamento do título para PC no futuro é mais interessante do que a própria chegada ao PlayStation 5.

Particularmente, faço parte do primeiro grupo, e a revisita no PS5 foi uma jornada emocionante, que me fez rir com as piadas da Ellie, passar nervoso com os Estaladores e me emocionar com o final mais uma vez. Só que é preciso reconhecer que não vale o preço cheio pelo conteúdo apresentado.
No fim, o erro do “remake”, na verdade, veio do departamento de marketing da Sony e da Naughty Dog, que prometeu mais do que deveria.
Este review foi feito com uma cópia cedida pela Sony.
The Last of Us Part I será lançado no dia 2 de setembro para PlayStation 5 e posteriormente para PC.