Um dos aspectos mais elogiados por qualquer fã do Batman é a dualidade do personagem que muda totalmente de personalidade ao colocar o uniforme. Muitos, inclusive, teorizam quanto a qual parte está sendo mais verdadeira a si mesmo: Bruce Wayne ou o próprio Batman? Essa é uma pergunta complexa, que o diretor e roteirista do próximo filme do morcegão passou um bom tempo pensando na resposta.
Durante o Television Critics Assossiation Press Tour, Matt Reeves (Planeta dos Macacos: A Guerra) falou sobre a verdadeira a essência do personagem e citou o romance O Medico e o Monstro como uma grande inspiração para The Batman.
Em entrevista ao IndieWire, ele diz:
Quando nós estávamos escrevendo a história eu sempre olhava pra trás para O Médico e o Monstro e essa ideia de um 'outro eu' e de que nós somos feitos de múltiplas personas.
A conexão que Reeves faz tem a ver com o fato do Batman ser um personagem duplo dentro da DC. Ele é um humano naturalmente "normal", mas está ao lado de deuses e mulheres superpoderosas. Há um distanciamento entre esses dois tipos de heróis, mas o Batman mostra que os humanos também tem algo de extraordinário dentro deles e de suas personalidades.
O Batman e o livro O Médico e o Monstro
O Médico e o Monstro é um romance gótico que trata de pessoas com múltiplas personalidades e os lados bons e ruins de cada um. No final do livro de 1886, temos a revelação de que Jekyll (médico) e Hyde (monstro) são a mesma pessoa. Tudo aquilo se tratava de um experimento para tentar separar o lado bom e os impulsos sombrios de uma determinada personalidade multifacetada.
Durante o livro, o personagem usa dessa separação para aproveitar de seus dois alteregos e chega a fazer determinadas ações que ele não faria se fosse uma pessoa só. A figura do monstro começa a espancar pessoas, coisa que um médico respeitado pela sociedade jamais faria por conta das aparências. Ao fim da história, o doutor perde o controle desta divisão de personalidade e se torna um monstro o tempo todo — algo relacionável com certas histórias do Batman.
O paralelo com o Batman é claro. O morcego também divide sua personalidade em dois: mantendo as aparências de um magnata bilionário, e saindo as ruas para espancar pessoas em prol de algo que ele julga fundamental. Assim como Jekyll e Hyde, as personalidades de Bruce e Batman fazem parte de um mesmo indivíduo. Quando o morcego coloca o capuz (ou quando o médico se transforma em um monstro) é quando o verdadeiro instinto aflora de maneira pura.
O diretor e roteirista diz que vê o herói com uma figura ambígua, não sabendo qual é sua personalidade predominante: "Tem horas que eu acho que a personalidade do Bruce não é quem ele realmente é, mas aquilo funciona mais como uma espécie de disfarce".
Reeves inverte os papeis da forma como pensamos e coloca Bruce como um disfarce para o Batman, pois a figura encapuzada é quem trás os instintos mais primais para o Detetive das Sombras. "Tem horas que eu penso no Batman como um disfarce, mas, às vezes, eu vejo que ali está a sua essência verdadeira. Surge uma espécie de lado instintivo que é muito puro", aponta Reeves sobre o Batman realizar as vontades do personagem, enquanto Bruce é um mero disfarce para se adequar a uma sociedade.
O Batman não funciona sendo só o Batman, e Bruce Wayne não funciona sendo somente ele. Isso é o que Matt Reeves diz ser mais fascinante sobre o personagem: "Somos feitos de diferentes aspectos de nós mesmos que nos fazem completos. Não acho que podemos reduzir alguém a apenas uma parte do que eles são."
Ainda não foram divulgados detalhes da trama, mas o diretor desmentiu que o filme seria uma adaptação de Ano Um.
Recentemente, Matt Reeves entregou o roteiro para a Warner, e o estúdio gostou bastante do que leu.
The Batman não tem previsão de estreia.