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Red: Crescer é uma Fera | Crítica
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Red: Crescer é uma Fera | Crítica

Novo filme da Pixar usa comédia barulhenta e drama caloroso para fugir dos clichês das histórias de amadurecimento

Gabriel Avila
Gabriel Avila
11.mar.22 às 18h37
Atualizado há mais de 1 ano
Red: Crescer é uma Fera | Crítica

Poucos temas são tão universais na arte quanto o amadurecimento. As dores e confusões de crescer permeiam a ficção justamente por ser um assunto palpável que pode alcançar o público em um nível pessoal. Novo filme da Disney Pixar, Red: Crescer é uma Fera brilha ao trazer sinceridade no retrato de um tópico coletivo de maneira única e singela.

São necessários poucos minutos para que o espectador embarque na história. Em um monólogo verborrágico e hilário, a protagonista Meilin Lee apresenta seu pedaço de mundo e aqueles que o habitam. Disparando piadas e informações como uma criança empolgada em contar algo com urgência, a introdução sutilmente posiciona as peças do quebra-cabeças a ser montado.

Essas características mapeiam os rumos da trama, dando uma falsa sensação de previsibilidade que é quebrada quando o fator fantástico entra em cena. O agitado cotidiano ocupado por tarefas em casa e farras com as melhores é virado de cabeça para baixo quando um dia a jovem acorda na forma de panda-vermelho. Sem saber direito o que está acontecendo, ela descobre que a nova versão é ativada quando ela se empolga ou fica nervosa.

É claro que a transformação é uma metáfora para puberdade, o confuso momento da vida em que o corpo passa por mudanças e tudo parece ainda mais grave e urgente. Porém, a direção de Domee Shi (que comandou o excelente curta Bao) não se contenta com o óbvio e dá à mudança o drama e a urgência necessários para que esse paralelo tenha impacto.

O surgimento de pelos, a angústia por não conseguir controlar o próprio corpo, a sensação de inadequação dentro do próprio lar e muitas outras questões são óbvias ao ponto de que o filme não precisa se esforçar para deixar a relação mais clara. A transformação é utilizada de forma esperta como centro de todas as tramas desenvolvidas até ali. Ela é aproveitada tanto para fortalecer os laços da garota com suas amigas – que a ajudam a fazer as pazes com seu lado monstro em uma das cenas mais belas de toda a história da Pixar –, quanto em levá-la a conhecer sua herança familiar.

Dirigido e escrito por cineastas com descendência asiática, Red apresenta o cotidiano e a cultura da família com um olhar carinhoso e cuidadoso. As tradições, costumes e a rotina dos Lee dão tom à história com uma verdade que nunca pende para o viés exótico tão comum em produções norte-americanas.

É perceptível que muito do que está em tela tem inspiração nas experiências reais das criadoras, especialmente no que diz respeito às relações familiares. Essa autenticidade faz com que uma trama aparentemente específica, por acompanhar uma família canadense de ascendência chinesa, se torna universal e celebra essa herança ao invés de propor comparações ou juízos de valor.

Para traduzir esse turbilhão de conceitos e inspirações, Red conta com uma animação competente que equilibra as várias características apresentadas na história. Injustamente criticado nas redes sociais desde o anúncio da produção, o visual passa longe de ser decepcionante e traz coesão a um projeto que passa por corredores de escola, templos religiosos, palcos de show e até planos extramundanos.

Em questão de dublagem, quem preferir a versão brasileira estará tão bem servido quanto quem conferir o áudio original. Com a responsabilidade de fazer rir nos momentos cômicos e emocionar nos dramáticos, as atrizes Nina Medeiros e Flávia Alessandra dão personalidade e carisma à Meilin e sua mãe Ming, respectivamente. Uma tarefa nada fácil, considerando que a versão original conta com Rosalie Chiang e Sanda Oh nos papéis.

Mesmo cheio de carisma e sensibilidade, Red encontra um problema de ritmo que faz com que a história perca o vigor gradativamente. Momento de resolução das várias tramas estabelecidas de forma sólida, o terceiro ato demora a engrenar e só se encontra quando abandona a grandiosidade barulhenta em favor da ternura.

Felizmente, a produção reencontra seu rumo e chega ao fim em uma nota alta que faz jus à carismática, empolgante e emocionante jornada que construiu até ali. Red: Crescer é uma Fera segue a fórmula Pixar de emocionar adultos e divertir as crianças, uma conciliação que nunca fez tanto sentido quanto em uma história sobre as dores e alegrias de crescer.

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