Pokémon Scarlet & Violet | Review
Jogos introduzem ideias inovadoras que dão uma nova cara à franquia, mas sem deixar a nostalgia se perder
Faz algum tempo que os jogos principais de Pokémon parecem ter estagnado, repetindo a mesma fórmula com roupagens atualizadas ao decorrer dos anos, o que fez muitos fãs pedirem por mudanças e novidades. E, assim que Scarlet & Violet foram anunciados com uma proposta diferente, surgiu a esperança de que a tão esperada inovação estava a caminho.
Os jogos têm uma ambientação inédita e toda uma nova geração de Pokémon, além de apresentar, pela primeira vez na franquia, uma estrutura em mundo aberto e três arcos narrativos para a história.
A mistura resulta em uma aventura com escopo ambicioso, que não é perfeita em todos os detalhes, mas entrega uma experiência com conceitos e mecânicas que dão uma nova cara à franquia, mas sem deixar a nostalgia se perder.
Um mundo aberto de Pokémon
Pokémon Scarlet & Violet é uma mistura de heranças de Legends: Arceus e Sword & Shield, sendo a primeira dupla da série principal a apresentar um mapa em mundo aberto – ou seja, sem cidades interligadas ou necessidade de HMs e itens específicos para avançar.
Em poucas horas, o jogador já está livre para explorar todos os cantos da região de Paldea, que apresenta áreas diversificadas, como florestas, campos, desertos, montanhas, cavernas e mares, além de várias pequenas cidades. Ao contrário de como acontece nos títulos anteriores, os Pokémon lendários da vez (Koraidon no Scarlet e Miraidon no Violet) são apresentados logo no início e servem como montaria para a exploração. Além disso, há viagem rápida de qualquer lugar para pontos específicos, como Poké Centers e torres de observação.

Os Pokémon selvagens são sempre visíveis, então não há encontros aleatórios, algo que traz praticidade e fluidez à exploração de áreas abertas, além de deixar o mundo mais rico visualmente. É divertido andar pela região e observar os monstrinhos, que passeiam, dormem, nadam e voam livremente. Alguns são minúsculos e difíceis de enxergar, outros são imensos e imponentes. Há ainda aqueles que ficam pendurados em árvores ou paredes, então é preciso jogar uma Pokébola para a batalha começar. Isso faz com que o mundo aberto pareça vivo, no melhor estilo Pokémon.
Outras mecânicas também foram implementadas para deixar o gameplay mais prático e fluído, com um ritmo agradável ao jogador. As opções dos “Boxes” (onde seus Pokémon são armazenados), da mochila e do mapa são acessadas pelo mesmo menu e de qualquer lugar. Há itens espalhados por todo lado, o que rende um estoque parrudo, sem precisar depender de lojas. Os TMs (itens que ensinam uma habilidade específica para os Pokémon) agora podem ser criados a partir de material coletado em batalhas. Não há mais confrontos obrigatórios contra treinadores aleatórios, é preciso interagir para batalhar. E ainda é possível mandar o Pokémon para batalhar sozinho contra os selvagens, o que rende quantias menores de XP, mas é um ótimo quebra-galho para poupar tempo e golpes.

Todas as batalhas acontecem em tempo real e apresentam animações bem feitas de forma geral, mas que exageram no tempo de execução, o que deixa as lutas bem demoradas – mesmo ao ativar as opções de texto rápido nas configurações.
A principal novidade nas batalhas fica para a mecânica de Terastal, que potencializa os ataques do Pokémon, além de poder oferecer uma espécie de “tipo extra” – mais empolgante do que o Gigantamax de Sword & Shield. Por exemplo, um Dratini é um Pokémon tipo Dragão, mas ele pode ter um Tera Elétrico, podendo causar dano dos dois tipos quando o recurso for ativado.
Na prática, o Terastal foi decisivo nas batalhas, principalmente por durar até o fim da luta quando acionado e não apenas por algumas rodadas. No entanto, ele só pode ser ativado uma vez por batalha e precisa ser carregado em Poké Center ou Tera Raids (batalhas que oferecem uma chance maior de encontrar Pokémon com tipos Tera diferentes).
Três histórias em uma
Em Scarlet & Violet, você é um estudante de uma escola que incentiva os alunos a explorarem em busca de seu próprio “tesouro” – em outras palavras, encontrar um objetivo no mundo. Assim, três arcos são apresentados ao jogador que, em teoria, pode escolher qual seguir.
O primeiro é Victory Road, que consiste em derrotar os oito Ginásios para enfrentar a Elite Four, os treinadores mais difíceis da região, e se tornar um campeão. É a rota mais clássica e nostálgica, em que não há muitos segredos em termos de narrativa.
A maior novidade fica para os testes dos Ginásios. Para enfrentar cada líder, é preciso realizar uma tarefa específica. No entanto, a maioria é simples demais, sendo finalizada em poucos segundos. Poucas provações se destacam pela criatividade, como uma que pede para coletar dicas pela cidade para descobrir o prato favorito do líder no restaurante local — o que me colocou para pensar e explorar. Pena que o mesmo não pode ser dito sobre todos os testes.

O segundo é Path of Legends, no qual o objetivo é encontrar os cinco Titãs, Pokémon que ficaram gigantes e mais fortes após comerem uma erva mística. O jogador conta com a ajuda de Arven, um jovem que pretende criar sanduíches medicinais com as plantas – mas que também guarda segredos sobre seus objetivos.
Esse é o arco mais inusitado, tanto em termos de história quanto de jogabilidade. É preciso procurar e caçar os titãs, que têm imensas barras de HP. A parte curiosa é que as missões rendem recompensas que tornam a exploração mais dinâmica – e faz Path of Legends ser praticamente obrigatório para quem quiser explorar Paldea com mais agilidade e facilidade.

Por fim, o terceiro arco é Starfall Street, em que a ideia é derrotar as cinco bases da Team Star, um grupo de estudantes arruaceiros que se rebelaram contra a escola e decidiram criar suas próprias regras, causando caos por todo lugar que passam.
Com a ajuda de um personagem misterioso, o jogador precisa se infiltrar nas bases e derrotar 30 Pokémon em um tempo limite de 10 minutos para, então, impressionar o líder do local e desafiá-lo em uma batalha.
As lutas contra o chefe são desafiadoras, uma vez que o adversário sempre usa uma equipe forte de Pokémon e até um carro chamado Starmobile para tentar te derrotar.

Cada arco tem suas vantagens. Enquanto Path of Legends brilha mais em termos de história e é essencial para melhorar a exploração, a Starfall Street rende as batalhas mais difíceis do jogo e Victory Road é pura nostalgia.
No entanto, a premissa inicial de Scarlet & Violet é apresentar um jogo sobre liberdade de escolhas, mas não senti na prática. Os NPCs te incentivam a seguir todos os arcos ao mesmo tempo – e não demora para perceber que, na verdade, é preciso fazer isso. Você realmente está livre para explorar toda Paldea desde o início do game, mas não pode fazer o que quiser e na ordem que desejar. As áreas são divididas por níveis, então o jogador naturalmente explora primeiro os locais que estão nivelados com sua equipe.
Os três arcos ainda se complementam na trama. No fim, é obrigatório finalizá-los para dar continuidade ao jogo a partir de certo momento, o que faz com que a sensação de liberdade se limite à exploração de áreas abertas e seja uma ilusão para a história em si. Não é algo que prejudicou minha experiência, uma vez que me senti instigada a seguir todos os caminhos. Mas pode decepcionar aqueles que buscavam mais liberdade de narrativa dentro da fórmula Pokémon.

Scarlet & Violet têm um visual que oscila e apresenta altos e baixos. Com gráficos cartunescos e coloridos, há momentos em que a aparência dos personagens, cenários e Pokémon estão bem feitas. No entanto, há cenas em que os mesmos elementos parecem inacabados e mal polidos, com texturas chapadas ou piscando. A performance também parece cambalear, com NPCs travando ao andar, além de detalhes gerais dos cenários aparecendo só quando o jogador se aproxima.
Essência renovada
Pokémon Scarlet & Violet não é perfeito, longe disso. Mas adiciona um frescor que a franquia precisava, sem deixar que a essência estabelecida pelos clássicos Red & Blue lá no final dos anos 1990 se perca no caminho.
Passei dezenas de horas em Paldea, enquanto me perdi pela exploração do mundo aberto e me vi empolgada com o desenrolar e reviravoltas das histórias, além do desenvolvimento dos personagens inéditos e da apresentação de toda uma nova geração – de uma forma que não tinha acontecido com outros títulos recentes da série.
No fim, Scarlet & Violet introduzem conceitos e mecânicas que não apenas deixam a jogabilidade mais fluida e acessível, como também expandem as possibilidades dentro do universo de Pokémon, o que é algo que os fãs clamavam e ainda anima pelo o que ainda está por vir na franquia.
Esta review foi feita com uma cópia cedida pela Nintendo de Pokémon Scarlet. Vale lembrar que as edições se diferem em alguns Pokémon exclusivos, os Pokémon lendários e o Professor (Sada ou Turo).
Pokémon Scarlet & Violet serão lançados no dia 18 de novembro, exclusivamente para Nintendo Switch.