Pinóquio por Guillermo del Toro | Crítica

Épico animado de Guillermo del Toro encanta e emociona na busca pelo significado de humanidade

Gabriel Avila Publicado por Gabriel Avila
Pinóquio por Guillermo del Toro | Crítica

Criado no século XIX pelo escritor Carlo Collodi, Pinóquio se tornou um dos grandes personagens da literatura, marcando gerações graças ao texto original e infinitas adaptações. No cinema, a versão mais recente é Pinóquio por Guillermo del Toro, um épico em stop-motion da Netflix, que encanta com o espetáculo visual e emociona com uma história carismática.

É inegável que parte do legado do menino de madeira se deve a outra animação, que se tornou um clássico absoluto do gênero. Com isso em mente, os roteiristas Del Toro e Patrick McHale (Hora de Aventura) focaram seus esforços em trazer novos conceitos para complementar e expandir o que é conhecido pelo público.

Essa decisão fica clara desde a primeira cena, que se dedica a contar a história de Gepeto antes de criar o brinquedo que dá nome à história. Mais do que um prólogo, a sequência estabelece todo o contexto do nascimento de Pinóquio, unindo tragédias pessoais, um cenário da Segunda Guerra Mundial e um universo fantástico de grilos falantes e espíritos da floresta.

É nessas circunstâncias que Pinóquio chega à história, como uma folha em branco ansiosa para ser preenchida. Embalada por uma bela canção composta pelo genial Alexandre Desplat – que repete com Del Toro a parceria que lhe rendeu o Oscar por A Forma da Água (2018) –, o garoto apresenta uma versão ingênua e empolgada que mal pode esperar para desbravar um mundo que já ama, sem sequer entender.

O Pinóquio de Del Toro é misto de euforia e pureza tipicamente infantis, de forma que as falhas que lhe levam adiante surgem naturalmente. Se o texto trata o personagem com carinho, a interpretação de Gregory Mann no áudio original é um deleite à parte. Fazendo frente a outros veteranos do elenco de voz – como Ewan McGregor,Tilda Swinton, Ron Perlman e outros –, o garoto dá um show completo, transitando com graça entre comédia, drama e números musicais.

Para dar vida a esse conjunto, Del Toro uniu forças ao diretor Mark Gustafson e às equipes do estúdio ShadowMachine e da lendária The Jim Henson Company para criar um stop-motion de cair o queixo. A parte visual é um espetáculo por si só, que impressiona pela riqueza de detalhes que pulsa vida pela tela.

Um recurso valiosíssimo que a dupla de diretores usa para prestar homenagens ao cinema de horror e fantasia com toda a autoralidade que lhes cabe. Tudo isso enquanto cria sequências grandiosas que mostram a força do stop-motion e brindam este Pinóquio com sua melhor animação desde o clássico da Disney.

Com a definição do protagonista e o universo que o cerca, a história finalmente coloca em andamento seu objetivo principal: refletir sobre o que significa ser humano. Esse tema, que se perpetuou desde os textos originais até as adaptações mais recentes, se traduz em cada elemento da jornada. Nesse ponto, a escolha de Guillermo del Toro se mostra essencial para o sucesso do projeto.

Com uma carreira invejável, o cineasta mexicano é conhecido por misturar fantasia e horror com muita paixão. Vários signos da filmografia do realizador dão as caras em Pinóquio, como contexto de guerra, a afeição a figuras aparentemente monstruosas e, em especial, a maldade escondida no coração dos homens.

A união desses elementos enriquece o tema da busca pela humanidade em uma nova roupagem, colocando o boneco contra conflitos palpáveis. Não há exemplo melhor para isso do que a redefinição do que significa ser um “menino de verdade”.

Toda essa sobriedade é contraposta pelo lado fantástico do enredo, que não tem a menor vergonha em se enquadrar no gênero de fábula. O contato com seres divinos, planos astrais e animais que falam, faz com que este Pinóquio transite entre o sagrado e o profano de uma forma que quem assistir ao filme vai entender. Essa mistura faz com que a história cresça até tomar contornos épicos e atingir seu ápice em uma conclusão emocionante, que faz jus à grandiosidade de Pinóquio.

Aliás, chega a ser um alívio que o filme da Netflix venha fechar 2022, um ano em que o público brasileiro teve acesso a outras duas adaptações. Após o lamentável live-action da Disney e a excêntrica produção russa Pinocchio: O Menino de Madeira, o filme de Del Toro chega para provar que os clássicos ainda podem encantar e comover.

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