Os minutos finais do quinto episódio de Mulher-Hulk: Defensora de Heróis levou os fãs – e provavelmente até os detratores – a aguardar ansiosamente pelo próximo. Lançado nesta quinta-feira (22), o capítulo cumpriu uma promessa. Só não a que o público da Marvel esperava.
[A partir daqui, spoilers do sexto episódio de Mulher-Hulk]
Antes de mais nada, é preciso tirar o cavalinho da chuva: o Demolidor ainda não apareceu em Mulher-Hulk. Após mostrar rapidamente o novo uniforme do herói na conclusão do quinto episódio, a produção resolveu brincar com os fãs ao guardar o retorno de Matt Murdock para o futuro. Uma manobra arriscada que traz um desafio extra para a produção compensar a quebra de expectativa.
A saída encontrada foi retomar os pontos altos da produção, de forma quase oposta ao capítulo anterior. Se “Malvadinha, Verdinha e de Calça Apertadinha” frustrou por trazer um repeteco pouco criativo de ideias já abordadas, dessa vez a série brilhou ao dar continuidade a seus temas principais com graça e bom humor.
É claro que a trama, por mais divertida e empolgante, pode não aplacar a frustração de quem for ao Disney+ pensando unicamente em matar as saudades do Homem Sem Medo. Porém, essa abordagem cumpre na marra a promessa feita por Jennifer Walters (Tatiana Maslany) de que essa história é sobre ela. Se o público estava com dificuldades em lembrar “sobre quem essa série é”, um capítulo intitulado "Apenas Jen" vem a calhar.
De volta à comédia romântica
A justificativa para não trazer o Demolidor (ainda), é que Jen foi convidada para um casamento, evento repentino descrito pela protagonista como "inconveniente" – a mesma sensação de ter que esperar por mais uma semana para rever um velho conhecido. Aproveitando o tema, Mulher-Hulk retoma o mergulho na comédia romântica do episódio quatro, voltando a abordar a luta interna entre os lados humano e Hulk da protagonista.
Não demora muito para que ela entenda que foi convidada pela noiva, que não via há anos, apenas para ajudar com a limpeza na cerimônia. Entre os intermináveis papos furados sobre “namoradinhos” e uma proibição de aparecer como a sexy Mulher-Hulk para não roubar os holofotes, ela encontra conforto em Josh. Convidado do noivo, ele cai de amores por Jen, e não por seu álter ego verdão.
A partir daí, a trama de Jen passa a beber fortemente das comédias românticas. A dinâmica de casal se descobrindo em meio a encontros e desencontros funciona, especialmente após destacar semanalmente o fracasso na vida amorosa da protagonista. É acertado o foco em fazer com que o público torça para que os pombinhos dêem certo, trazendo novo sabor ao retomar o que foi apresentado anteriormente.
Mas, para a infelicidade de Jen, não é só o amor que lhe bate à porta. Inconformada pela derrota nos tribunais, Titânia (Jameela Jamil) se infiltra no casamento para acertar as contas fisicamente. Esse enredo dá um destaque maior para a vilã, que foi muito mal utilizada no quinto episódio, mas não aprofunda tanto sua personalidade e motivações. Como esperado, elas caem na porrada, os presentes percebem que a influencer está errada e ela se recolhe derrotada, novamente jurando vingança.

Porém, vale notar também que a série continua ignorando o fato de não ter explicado por que ela invadiu o tribunal no primeiro episódio. Caso não resolva essa questão no futuro – possivelmente em uma piadinha ao melhor estilo Marvel –, será uma grande bola fora. Fica parecendo que a rivalidade entre a protagonista e sua grande inimiga começou do nada e sem motivo.
Com grandes poderes, vêm grande canalhice
Não é porque a Mulher-Hulk está de folga que a série abandona o cotidiano do escritório de advocacia. O sexto episódio mostrou a advogada Mallory Book (Renée Elise Goldsberry) e a assistente Nikki (Ginger Gonzaga) unindo forças para defender o Senhor Imortal, um herói obscuro do Universo Marvel.
Na série, Craig Hollis (David Pasquesi) é um canalha de marca maior que usa a imortalidade para forjar a própria morte cada vez que passa a ter problemas no casamento. Um dia a farsa foi descoberta, o que levou seu grupo de viúvas e viúvo a abrir um processo por danos morais.
Esse enredo é tão simples quanto descrito acima, mas divertido por retomar o foco nos cantos mais esquisitos do Universo Marvel. Nesse caso, o Senhor Imortal aparece unicamente para servir à comédia que pode ser encontrada no absurdo de viver em um mundo como esse. A falta de pretensão em apresentar um personagem que será importante no futuro ou indicar a formação de uma nova super equipes e etc só joga a favor dessa figura, que cativa justamente pelo que é – e não pelo que promete se tornar.

Mulher-Hulk esmaga haters
O desfecho da comédia de tribunal, porém, abre as portas para a chegada da grande ameaça da temporada. Nos minutos finais, Nikky e Mallory descobrem um fórum de haters da Mulher-Hulk, um espaço que mistura memes ofensivos com ameaças reais. O grande moderador é justamente o “chefe” da Gangue da Demolição, que parece muito interessado em tentar roubar o sangue da heroína novamente.
Nesse ponto, a série encontra uma forma muito sagaz de abordar o ódio que personagens femininas – e de minorias – recebem no mundo real cada vez que ganham destaque. É cutucar a ferida de forma prática, abrindo mão da sutileza em favor da reflexão. Não é uma saída inédita – Batman (2022) fez isso recentemente, mas traz um sabor novo ao MCU, que finalmente toma coragem para falar com a parcela nociva de seu público, sem se esconder.

Fica a expectativa para saber como esse tema será resolvido na trama, já que o próprio Marvel Studios estragou boas ideias com execução pífia – como o raso final feliz dado ao Agente Americano em Falcão e o Soldado Invernal para que o estúdio pudesse reutilizar o personagem no filme dos Thunderbolts. Ainda assim, ficam os aplausos à série por flexionar seus músculos e fazer bonito mesmo sem recorrer à saída fácil de trazer o Demolidor de volta.
Mulher-Hulk ganha novos episódios às quintas-feiras no Disney+.