[Atenção! Spoilers abaixo!]
The Long Night tinha a difícil tarefa de corresponder à enorme expectativa em torno daquele que prometia ser o confronto decisivo em Game of Thrones. Não à toa, os showrunners David Benioff e D. B. Weiss — que desta vez também assinaram o roteiro — confiaram a direção a Miguel Sapochnik, responsável por alguns dos pontos altos da série, como Hardhome (S05E08) e Battle of the Bastards (S06E09). No aspecto técnico, o episódio, em grande medida, cumpriu sua missão.
O diretor não deixou a desejar, imprimindo um tom brutal, frenético e por vezes claustrofóbico à maioria das cenas de combate, além de ter construído grandes momentos de suspense (como as chamas das armas dos dothraki se apagando ao longe) e tirado bom proveito da estupenda trilha sonora de Ramin Djawadi para transmitir o clima de absoluto desalento nos instantes finais. Talvez o único deslize tenha sido a opção pela fotografia extremamente escura, que, embora em sintonia com a estética da série e com a temática de The Long Night, tornou difícil acompanhar algumas cenas, em especial, as com os dragões.
Além da ação — astuciosamente desenvolvida em escalada, acompanhando as ondas de ataque —, outro grande acerto foi explorar o terror. Desde o início, a série já flertava com o gênero, algo que vinha se tornando cada vez mais frequente; porém, esta foi a primeira vez em que abraçou todos os elementos em uma única sequência, a de Arya (Maisie Williams) na biblioteca: a ambientação, o medo primal, o acúmulo de tensão e, finalmente, o jump scare.
Do ponto de vista narrativo, o episódio derrapou na conclusão de alguns pontos que haviam sido preparados antes. A cripta, por exemplo, configurava-se como possível cenário de acontecimentos importantes; todavia, tudo o que se viu lá foram algumas interações afetuosas entre Sansa (Sophie Turner) e Tyrion (Peter Dinklage) e as mortes de uma porção de figurantes. Por sinal, toda a atmosfera de despedidas estabelecida em A Knight of the Seven Kingdoms acabou não se concretizando — ou pelo menos, não na escala antecipada.
A perda mais importante foi a de sor Jorah (Iain Glen). Seu fim, ao lado de Daenerys (Emilia Clarke), completou o arco de modo satisfatório. No entanto, faltou aquele momento catártico que o personagem merecia — até mesmo a morte de uma coadjuvante de menor importância, como lady Mormont (Bella Ramsey), foi mais emotiva e impactante. De modo similar, reduzir o sacrifício de sor Beric (Richard Dormer) a mero cumprimento de papel reduziu seu peso dramático. Por outro lado, Theon (Alfie Allen) ganhou tratamento melhor: ao receber o perdão de Bran (Isaac Hempstead Wright) e cair defendendo um membro da família que traiu, ele teve, enfim, sua redenção.
Uma bem-vinda reversão de expectativas foi deixar de lado o tão esperado embate entre Jon Snow (Kit Harington) e o Rei da Noite e colocar Arya como algoz do líder dos Outros, em mais um ótimo exemplo de como a série consegue amarrar eventos anteriores. Após lembrar a visão sobre “olhos castanhos, olhos verdes e... olhos azuis” que havia tido em seu primeiro encontro com a pequena Stark, em The Climb (S03E06), Melisandre (Carice van Houten) ainda fez uma referência ao último diálogo que Arya teve com seu professor de esgrima, Syrio Forel (Miltos Yerolemou), em The Pointy End (S01E08). Por fim, quando se viu diante do Rei da Noite, a pequena assassina o enganou trocando a adaga de mãos, mesmo truque que havia aplicado no treino com Brienne (Gwendoline Christie), em The Spoils of War (S07E04).
Se por um lado foi um dos momentos mais empolgantes de Game of Thrones até aqui, por outro, o fim da grande ameaça aos Sete Reinos levanta questões sobre os rumos que a série vai tomar. Todas as atenções, é claro, se voltam para Porto Real e a batalha com Cersei (Lena Headey), a frota de Euron (Pilou Asbæk) e a Companhia Dourada. Pode-se esperar pelo menos duas coisas: o atrito entre Jon e Daenerys deverá aumentar, e a conquista das Ilhas de Ferro por Yara (Gemma Whelan) será importante.
Que venham os próximos três!