Indo direto ao ponto, se Forspoken fosse um filme com pouco mais de duas horas, protagonizado por Ella Balinska (atriz que empresta seus talentos à Frey Holland, personagem principal), produzido pela Disney e com orçamento de um filme de super-heróis, seria o blockbuster do verão. Um clássico moderno infanto-juvenil, sem dúvida.
Mas, como um jogo de videogame com mais de 35 horas, há boas ressalvas.
Isekai fora do nicho

A história de Forspoken muito se assemelha aos infinitos animes de mundos alternativos que vemos todos os anos por aí. De acordo com o próprio termo cunhado pelos fãs, “Isekai”, literalmente “Outro Mundo”, é como são designadas as histórias que transportam seus protagonistas para um lugar diferente e cheio de novas possibilidades à sua vida pregressa, que quase sempre é um redemoinho de tristeza infinita.
É exatamente isso que acontece com Frey, protagonista do título. Forspoken mostra a jovem delinquente nova iorquina como única salvação de Athia, mundo místico que trava uma batalha feroz contra um mal desconhecido, que destrói tudo que encontra pelo caminho.
Óbvio que a garota não quer nada disso. Seu objetivo é apenas encontrar uma forma de voltar para casa, custe o que custar. Mas, aos poucos, ela entende que o seu propósito é maior que o simples egoísmo e uma nova Frey é forjada durante sua jornada. Clássico “Isekai”.
Segundo trabalho

A produção de Forspoken ficou à cargo da Luminous Productions. Para quem desconhece, a empresa é subsidiária da Square Enix e responsável pelo polêmico Final Fantasy XV. Curiosamente, não há vontade alguma de "esconder" as origens, já que o trabalho anterior tem seus próprios méritos.
No caso de Forspoken, toda a produção merece destaque. Desde roteiristas como Amy Henning (Uncharted) e Bear McCreary (O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, God of War: Ragnarok), até a trilha sonora de Garry Schyman (Bioshock), passando pelo elenco, com Ella Balinska (Resident Evil 2022) e Jonathan Cake, como o Algema.
Ao contrário de Final Fantasy XV, a ideia aqui é conceder mais liberdade aos jogadores para explorar e interagir no mundo criado por eles. Assim, o game segue mais uma linha tradicional de jogos de mundo aberto, com muitas referências a outros jogos dentro do gênero diluídas em seu conteúdo.

Como exemplos, há as famigeradas “Ubi towers”, torres que sempre escalamos nos mundos de Assassin’s Creed (e tantos outros jogos) para liberar o mapa e descobrir seus pontos de interesse. Há ainda uma exaustiva vontade de espalhar desafios chatos e repetitivos pelo cenário, além da clássica “coleta de lixo” que todo jogo moderno parece necessitar. Chega de colher flores e cascalhos pelo caminho, pessoal!
São excessos que parecem existir apenas para criar aquela famosa gordura nos jogos do gênero. “Não podemos ter um game de mundo aberto vazio, vamos atochar conteúdo genérico nele”, devem ter pensado. Há quem diga que Forspoken sofreu o baque com o lançamento de Elden Ring, mas parece que não entenderam realmente o que fez o mundo aberto do game da From Software se destacar dos demais.
Por conta disso, há uma certa quebra no ritmo do jogo em suas primeiras horas. São tantas atividades paralelas apresentadas ao jogador logo de cara, que acabamos ficando com medo de deixar algo importante para trás, ao irmos de encontro ao primeiro chefe do jogo. Por isso, algo que deveria durar não mais que cinco horas, se prolonga por 15 ou mais, dependendo do estilo de cada jogador.
Nada de novo

Em resumo, ao invés de explorarem o inusitado, se prenderam no básico. Não há absolutamente nada em Forspoken que traga um ar de novidade ao gênero. Do radar mágico que revela os segredos do mapa e nos guia durante toda a aventura, aos constantes desafios baseados em hordas de adversários. Não que inovar seja um pré-requisito para os lançamentos AAA (aliás, deveria ser!) – God of War Ragnarok e Ghost of Tsushima estão aí para provar que dá para fazer o arroz com feijão bem feito –, mas os constantes adiamentos sugeriram que, talvez, a Luminous Productions estivesse mirando algo fora de série.
O chato disso é que o game não parece um jogo novo. Tirando a parte técnica do visual e o desempenho do PlayStation 5 (com muitas ressalvas, inclusive), estamos fadados a repetir as mesmíssimas atividades de qualquer jogo de mundo aberto lançado nos últimos 10 anos ou mais.
Não precisou muito, por exemplo, para criar um pequeno paralelo do estilo de gameplay de Forspoken ao clássico da Sucker Punch, Infamous – principalmente depois de adquirir os poderes de Olas, uma das Theias, as grandes soberanas do mundo de Athia. Não veja isso como uma crítica, muito pelo contrário, curiosamente serviu como uma boa referência para o combate.
A poderosa Frey

Ao lado de Algema, seu bracelete falante (mas que só ela o escuta), Frey resolve seus problemas no mundo de Athia através dos seus recém-adquiridos poderes mágicos. Ela é capaz de manipular alguns dos principais elementos da natureza da forma que achar melhor.
Sem praticamente esforço algum somos agraciados com o poder da terra. Assim como os demais poderes que ela vai conquistar ao longo da aventura, o poder da terra se divide em dois formatos distintos: ataque e apoio.

Tudo ao alcance dos gatilhos e botões de ombro do controle. A sensação de precisarmos controlar mais do que damos conta de início é assustadora. Sem percebermos, já estamos atacando com três tipos de magias diferentes, ‘bufferando’ outras, criando armadilhas no chão e atacando três inimigos de uma vez. É uma sensação de poder absoluto deslumbrante, pura magia.
Não há nada a reclamar do combate. A quantidade de habilidades é mais do que satisfatória, não há necessidade de se privar de utilizá-las em prol do gerenciamento de pontos de Mana ou qualquer coisa do tipo. Vale tudo na hora de enfrentar os inúmeros seres corrompidos pela Ruptura – o mal que assola Athia.
Ao longo da jornada podemos evoluir os poderes de Frey e destravar novas vantagens às magias já adquiridas. A parte chata é que sempre precisamos retornar a uma ‘safe house’ para marcarmos os feitiços que gostaríamos de evoluir (três de cada vez).
Parkour

Junto com os feitiços, vem também o "parkour mágico", que facilita o traslado no gigantesco mapa fornecido pelo jogo. O mapa é enorme, em proporções que fazem a gente se perguntar “para quê tanto?”, sabe? Ainda mais porque não há muita variedade de objetos no cenário, apenas uma grande colagem e reutilização de estruturas e construções já vistas em outros pontos genéricos do mapa de Athia.
Correr pelo gramado é fácil, escalar penhascos às vezes requer um certo planejamento (pelo menos até descobrirmos novas habilidades da personagem). No combate, segurar o botão de parkour nos garante esquivas precisas e acrobáticas. O parkour de Frey faz valer o investimento de tempo na exploração do mundo de Forspoken, sem dúvida.
Jogue em 120hz

Na versão para PlayStation 5 (experimentada para a realização da crítica) nos é fornecida uma opção especial para rodar o game em 60hz ou 120hz. A escolha diz respeito a taxa de atualização da imagem, quanto maior esse número, maior o número de vezes que a tela troca de imagem dentro de um segundo. Só é preciso confirmar se a sua televisão comporta uma velocidade de 120hz (ou mais).
Fazer o jogo rodar a 120hz deixa tudo mais fluido, sem a sensação de que os comandos estão passando por algum tipo de latência. E tanto o jogo rodando em modo desempenho ou qualidade máxima é favorecido com a escolha.
Mesmo assim, não dá para escaparmos de certas quedas de frames aqui e ali, incluindo uma demora na renderização de texturas em determinadas cutscenes feitas com os gráficos em tempo real do jogo, ou mesmo nos combates contra múltiplos inimigos ou monstros gigantes. E é aqui que mora o grande problema de Forspoken.

Acho que ninguém aqui acredita mais nas imagens oficiais de referências dos jogos que estão para serem lançados, né? Óbvio que a qualidade da imagem ali, seja foto ou vídeo, sempre será superior ao produto final. Em Forspoken as coisas não são diferentes e há muito o que se considerar.
E não é uma repentina demora na renderização das texturas durante o parkour em velocidade elevada que vai fazer você desistir do game. Mas percebemos queda de frames durante algumas das lutas, incluindo momentos grandiosos, como lutas contra dragões gigantes, feiticeiras que manipulam milhares de bolas de fogo ao mesmo tempo, ou entidades demoníacas que trazem uma tempestade consigo.

Mesmo com todos esses problemas, Forspoken é um jogo bonito. Não tão bonito quanto ele gostaria (e deveria), mas algumas passagens impressionam. Impossível não derrubar o queixo no primeiro confronto com a Dragonesa antes do fim da primeira hora de jogo. Pena que nem sempre a história segue por esse caminho.
Forspoken não se esforça muito para ser um jogo memorável, mas não é ruim. A jornada de Frey Holland é, sem dúvida alguma, digna de ser conhecida pelos jogadores. Fãs de mundo aberto tradicionais não terão do que reclamar, e, quem sabe, com futuras correções ele não se transforme também, assim como sua protagonista. (Já sonho com um possível DLC amarrando todas as pontas soltas deixadas pelo game).
________________________________________________________________________________
Forspoken está disponível para PlayStation 5 e PC. Essa review foi feita com uma cópia disponibilizada pela Square Enix.