Aggretsuko estreia na Netflix em 20 de abril de 2018.
Uma panda vermelha pequena, fofa, funcionária exemplar que faz sua parte na sociedade... e coloca toda sua raiva pra fora cantando death metal: essa é Retsuko, personagem da Sanrio — empresa responsável pela Hello Kitty --, que vai ganhar uma série animada na Netflix, chamada de Aggretsuko (combinação de agressive e seu nome, Retsuko).
A personagem surgiu de um concurso promovido pela Sanrio, da mesma forma que o popular Gudetama: o ovo preguiçoso foi criado a partir de ideias para um personagem sossegado, sugeridas pelos funcionários da empresa. Com o sucesso dele, a Sanrio resolveu repetir a dose, mas, dessa vez, pediu sugestões para um personagem "diferente". O resultado foi Retsuko e seus berros guturais para aliviar o estresse.

Em 2016, antes de protagonizar a série da Netflix, Retsuko fez parte de uma série animada com episódios de cerca de um minuto, dirigidos e produzidos por Rarecho. O animador conseguiu essa oportunidade pois era conhecido no Japão por seus trabalhos independentes, como a série de animações curtas The Legend of the Yawaraka Tank, que já soma mais de 50 episódios.
Na Netflix, Aggretsuko tem episódios de 15 minutos. Rarecho continua assinando a direção, mas agora, com uma equipe mais completa, abandona a função de animador — embora atue também como roteirista, faz o storyboard e empreste a voz para Retsuko — mas só quando ela está cantando death metal. "Já faz parte da personagem", disse ele, rindo, em uma conversa descontraída comigo e um grupo de jornalistas de vários países, no escritório da Netflix, em Tóquio, em uma videoconferência.
Sentado em um cantinho que parecia ser seu local de trabalho, o animador e diretor estava bem a vontade e começou o papo do início de tudo, sobre sua experiência com a personagem e o processo de criação das cenas ainda no Adobe Animate, antigo Flash, software que usou para fazer a primeira série animada de Retsuko. Uma coisa curiosa é que ele aprendeu a animar no software pela internet: quando pegou o projeto da primeira animação, foi correndo se preparar, abriu uma aba do YouTube e começou seus estudos ali mesmo.

No começo, Rarecho precisava de duas ou três semanas para conseguir completar um episódio de um minuto. Mas, conforme foi se acostumando com as ferramentas e ganhando experiência, o animador tornou-se capaz de entregar um episódio em apenas 24 horas.
Muitos dos personagens que aparecem na série já existiam no universo da Sanrio, em quadrinhos ou outras mídias, e foram adaptados para a animação. Vimos alguns deles nos primeiros episódios, e também acompanhamos um pouco do processo de animação na tela do diretor, que nos mostrou como as cenas são compostas no Animate: para começar, há toda a parte de criação dos personagens que vão aparecer na cena. Roupas, expressões, ações, tudo é feito separadamente e cada parte pode ser acrescentada ou retirada de forma independente, facilitando a edição.
Por ser feita em um programa próprio para isso, a animação se torna um processo muito mais simples do que o que vimos no estúdio Production I.G., responsável por B: The Beginning. Ainda há a separação entre key frames e in betweens, mas, nesse caso, o espaço entre um quadro importante e outro é feito automaticamente pelo Animate. O estúdio Science Saru, de Devilman Crybaby, também usa essa ferramenta para dar vida às suas criações.
Depois de falar sobre a personalidade de Retsuko e comentar que não tem o costume de ouvir death metal, Rarecho se despediu com uma palhinha de seu trabalho de dublagem na animação — mostrando a técnica que também aprendeu no YouTube:
A panda vermelha pode não ter tanto apelo e não ser tão popular quanto a Hello Kitty, o sucesso mundial da Sanrio, mas certamente existem muitas pessoas que vão se identificar com Retsuko e as situações que ela tem que passar no trabalho e na vida: o estresse do dia a dia é o mesmo, o jeito de colocar pra fora é que é um pouco diferente, afinal ainda não fui no YouTube para aprender a cantar death metal.