Antes mesmo do lançamento de O Esquadrão Suicida, a Warner demonstrou grande confiança no projeto ao anunciar uma série derivada no HBO Max. Chamada Peacemaker, a produção vai contar novas histórias do Pacificador, anti-herói vivido por John Cena nos cinemas.
Não foram revelados detalhes sobre a produção, que terá o retorno de Cena ao papel principal e de James Gunn como diretor e roteirista. Ainda assim, é possível achar dicas preciosas sobre os rumos do novo seriado da DC no filme original, que já está disponível no streaming.
[Atenção! A partir daqui, spoilers de O Esquadrão Suicida]
Não é exagero dizer que o Pacificador é um dos destaques de O Esquadrão Suicida, com um dos maiores tempos em tela em todo o longa. Ele é Christopher Smith, um homem treinado para matar desde pequeno pelo pai. Com isso, qualquer coisa vira uma arma em suas mãos. Mais do que apenas apresentar as habilidades e o senso humor mórbido do personagem, o roteiro dá a ele um dos arcos mais controversos do filme.
Como missão de vida, ele adotou a busca pela paz. Uma meta no mínimo curiosa, considerando que não há pudor algum em empregar violência extrema para manter essa dita “paz”. Essa característica é tão firme que o leva a matar Rick Flag, a quem considerava um herói, pelo simples medo de que o soldado iniciasse um incidente internacional ao revelar o Projeto Estrela do Mar ao mundo.
Depois de ser apresentado, matar indiscriminadamente e assassinar um ídolo, ele acaba morto pelo Sanguinário, que sacrifica o colega para salvar a vida da Caça-Ratos 2. Ou melhor, acaba dado como morto, porque a segunda cena pós-créditos revela que Smith foi resgatado pelo governo dos Estados Unidos e está pronto para realizar novas missões.
Chega a ser curiosa a forma como O Esquadrão Suicida trata o protagonista de seu primeiro derivado. Isso porque não há a menor sutileza em mostrar quão implacável e maligno ele pode se tornar para cumprir sua missão. A história faz questão de tornar o personagem detestável ao ponto de que boa parte da audiência certamente se pegou lamentando o fato de que ele sobreviveu aos eventos do filme.
Por outro lado, uma olhada mais cuidadosa na jornada do Pacificador dá pistas que revelam mais do que o estereótipo de “máquina de matar cumprindo ordens”. O Esquadrão Suicida propositalmente joga luz nas contradições do personagem em momentos como a busca por uma conexão com os colegas na boate ou o sofrimento em impedir Flag. Pequenos, esses momentos servem como pistas sobre quem é o Pacificador de verdade e lacunas para que a série preencha. À Variety, James Gunn garantiu que esse é o grande objetivo do derivado:
“Ele não é uma pessoa maligna, é só um cara mau. Ele parece meio irredimível no filme, mas acho que há mais o que explorar. Não tivemos a chance de conhecê-lo da forma como conhecemos alguns dos outros personagens. E esse é o tema da série. Precisei de oito episódios para fazer isso.”
Ainda que a história se passe após os eventos do filme, Peacemaker deve voltar aos traumas que levaram o personagem até a prisão de Belle Reve. O principal deles deve ser a relação do Pacificador com o pai, que não só o treinou, como pode ser fonte de grande trauma para o garoto. Uma pista está na cena do ônibus, quando ele concorda com um desabafo que o Sanguinário faz sobre a relação conturbada com o próprio genitor.
James Gunn já revelou que Wolfgang Smith, o pai do Pacificador — interpretado por Robert Patrick, o T-1000 do clássico Exterminador do Futuro 2 —, será fundamental para conhecer melhor o anti-herói. “Veremos de onde ele veio, o que fez, o que isso significa para ele e para onde está indo depois disso”.
Caso essa origem siga as HQs, essa relação será uma tragédia, já que Wolfgang tira a própria vida quando descobrem que ele foi chefe de um campo de concentração na 2ª Guerra Mundial. Esse trauma torna o pequeno Christopher cada vez mais violento, o que culmina em uma carreira militar repleta de assassinatos. Essa origem militar da família Smith pode ainda dar a James Gunn a chance de brilhar no comando de mais uma sátira violenta e ácida ao governo dos Estados Unidos.
Em primeiro lugar porque o cineasta já demonstrou muita disposição para isso no próprio longa. O texto não é nada sutil em usar o bizarro vilão Starro como metáfora para as barbáries que os EUA promoveram em sua política externa intervencionista — a Corto Maltese do filme ser na América do Sul não é mera coincidência. E assim, não há uma figura melhor para estrelar essa paródia do que o Pacificador, que há décadas incorpora o tipo “Capitão América que deu errado” nos quadrinhos.
Sendo o Pacificador um personagem movido também por uma espécie de patriotismo cego, ele se mostra perfeito para amplificar o fator crítico de O Esquadrão Suicida. Ao THR, o diretor disse que a série é “um pouco mais sobre sociedade” do que o filme foi, e prometeu conflitos entre o protagonista e Leota Adebayo, personagem que tem “visões políticas muito diferentes do Pacificador”.
Com isso, resta apenas esperar para descobrir o que o futuro reserva ao Pacificador. A DC deve revelar novidades da série durante o DC FanDome, evento que acontece de forma online e gratuita em 16 de outubro.
Peacemaker tem estreia marcada para 16 de janeiro de 2022.