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Avatar: O Caminho da Água | Crítica
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Avatar: O Caminho da Água | Crítica

Novo épico de James Cameron faz valer longa espera com experiência audiovisual única

Gabriel Avila
Gabriel Avila
13.dez.22 às 14h47
Atualizado há mais de 2 anos
Avatar: O Caminho da Água | Crítica

Treze anos separam Avatar: O Caminho da Água do primeiro filme, que roubou os holofotes em 2009 graças a sua inovação tecnológica. Muita coisa mudou nesse tempo, o que dá à continuação desafios que vão além de ser um “bom filme”. Parece quase contra-intuitivo lançar uma produção tão cara e com três horas de duração, no momento em que os conteúdos precisam ser rápidos e mastigados para rápida apreciação e divulgação.

A seu favor, a produção tem o realizador James Cameron. Conhecido por verdadeiros clássicos como O Exterminador do Futuro 1 e 2, Aliens, O Resgate (1986) e Titanic (1997), o cineasta se tornou um mestre dos blockbusters e, para os estúdios, uma máquina de fazer dinheiro. É com esse prestígio lucrativo que o cineasta apresenta Avatar 2, um novo épico que encanta, empolga e faz valer a longa espera.

O início do novo Avatar é como um lembrete de por que o público se apaixonou pelo primeiro filme. Usando o destrutivo retorno dos humanos a Pandora, a produção encapsula alguns dos melhores momentos do longa de 2009, desde uma reapresentação apaixonada do planeta alienígena, até combates que remetem ao clímax do original.

Mais do que um repeteco, essa escolha é feita para retomar a magia que ficou no imaginário do público há mais de uma década, enquanto apresenta a nova realidade dos protagonistas Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldaña). Líderes de sua tribo, a dupla construiu uma família composta por três filhos, uma Na’vi gerada misteriosamente pela Avatar da doutora Grace (Sigourney Weaver) e um garoto humano que ficou para trás quando a humanidade deixou Pandora ao final do antecessor.

Essa introdução, por si só, já demonstra a estrutura tecnológica preparada por Cameron para seu novo show. Ainda que o filme volte a cenários e situações já conhecidas pelo público, o visual deslumbra graças à riqueza de detalhes de textura, ao trabalho de iluminação e até mesmo ao brincar com a velocidade de frames por segundo durante as cenas.

É um espetáculo impressionante não apenas para as grandiosas cenas de ação, mas também pelos momentos mais intimistas. O longa usa o avanço técnico para aproximar os Na’vi do público, tornando-os palpáveis tanto pelo visual, quanto pelo drama de família fugindo dos horrores de uma guerra.

Se o visual já fascina em terra firme, a produção dobra a aposta ao levar a família Sully para se abrigar com a tribo aquática. Refazendo a mecânica de apresentar as maravilhas e peculiaridades de um mundo novo, Avatar 2 surpreende mais uma vez pela imaginação e capacidade de execução.

Há um conceito antigo de que “filme de água” é caro e difícil de fazer, em partes porque o resultado não costuma ser convincente o suficiente para o público. Apaixonado pela ideia de filmagens aquáticas desde O Segredo do Abismo (1989), que aprimorou no sucesso histórico de Titanic, e o acompanhou durante sua fase documental, James Cameron mata o desafio no peito e cria algumas das experiências sensoriais mais ricas do cinema nos últimos anos.

Resultado de anos de preparação nos bastidores, a chegada aos recifes de Pandora transmite toda a empolgação dos realizadores ao público. Para o horror daqueles que exigem o corte de cenas que não avançam a trama, Avatar 2 deliberadamente para tudo para mostrar personagens se conectando com a vida marítima.

Para o filme, explorar o novo cenário é tão importante quanto o enredo em si, no sentido de existir enquanto obra de cinema. Qual outra forma de arte seria capaz de movimentar milhões de dólares na construção de aparatos tecnológicos de ponta para registrar a atuação de seres humanos em meio a um balé de criaturas aquáticas alienígenas? E mais: fazendo isso da forma mais realista e apaixonada possível?

E veja bem, não é como se Avatar 2 não tivesse uma história ou que o filme – ou este texto – esteja dizendo que roteiro é secundário e não mereça destaque. A questão é que o projeto se propõe a usar o audiovisual para trazer uma experiência que aqueles que adentram as salas de cinema nunca tiveram até então.

É claro que tamanho encanto seria vazio sem uma história por trás, e esse pode ser o quesito que vai dividir o público de Avatar mais uma vez. O enredo não escapa de um simplismo que por vezes deixa a desejar. Mesmo utilizando uma sinceridade descarada ao literalmente dizer que não tem respostas para determinadas situações no momento, o texto também cai em armadilhas que tornam a história desnecessariamente datada.

Não ajuda o fato de O Caminho da Água encontrar problemas para unir diferentes tramas de uma forma fluida. Em sua megalomania, a produção não consegue inserir de forma natural o lembrete de que o mal está rondando os protagonistas. Os avisos de que os vilões se aproximam acabam mais parecendo interrupções do que parte integral da história que o filme está realmente interessado em mostrar.

Essa é uma frustração que surge porque, desde o início, o roteiro do longa se mostra muito superior ao Avatar original. Essa história finalmente se importa com os personagens o bastante para lhes dar personalidade, arcos e carisma. Não à toa é uma trama que foca tanto em família e paternidade – temas muito caros à obra anterior de James Cameron.

Uma prova dessa melhoria é justamente quando dois núcleos que não funcionam muito bem separadamente se unem. Além de colocar fim à intercalação estranha entre esses eixos, essa junção dá início a um clímax tão poderoso, que praticamente apaga da memória os estranhamentos experimentados até ali. Especialmente quando nos damos conta de que cada recurso apresentado anteriormente como parte da exploração inicial retorna para tornar as cenas de ação ainda mais grandiosas.

Em retrospecto, é curioso como a grande batalha de Avatar 2 ecoa vários dos grandes momentos da filmografia de Cameron. É possível fazer paralelos com diversos clássicos citados anteriormente, como se o cineasta desenhasse na tela que tudo o que realizou antes foi, de alguma forma, uma preparação para o que realiza hoje.

Essa conclusão de forma alguma busca comparações, já que esses filmes marcaram a história do cinema de ação e ficção científica de uma forma que O Caminho da Água talvez nem chegue perto. Ainda assim, o filme de 2022 atinge um resultado admirável que une urgência, beleza e emoção em meio a um confronto interplanetário retratado vistosamente com riqueza em detalhes. São tantas camadas que não é estranho que o cérebro traga lembretes constantes de que absolutamente nada daquilo é real.

E é essa ambição que torna Avatar: O Caminho da Água um filme que merece ser visto. A produção justifica 13 anos de espera e mais de três horas de duração com um espetáculo que vai na contramão da fórmula a qual Hollywood se acostumou para produzir um sucesso.

O novo filme rejeita se vender com base no elenco estelar – já que a maior parte dos atores aparece apenas em sua versão Na’vi – ou em cenas produzidas com intuito de viralizar. Aqui, a aposta é no meio e na mensagem, por mais rasa que ela possa parecer, com a união entre tecnologia de ponta e a paixão de um batalhão de artistas capitaneado por uma das maiores mentes do cinema blockbuster.

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