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Star Wars: Andor - 1ª Temporada | Crítica
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Star Wars: Andor - 1ª Temporada | Crítica

Série com Diego Luna firma-se como a melhor produção de Star Wars para o streaming, com trama competente e madura

Pedro Siqueira
Pedro Siqueira
23.nov.22 às 17h53
Atualizado há mais de 1 ano
Star Wars: Andor - 1ª Temporada | Crítica

Quando foi anunciada oficialmente, em 2018, Andor torceu o nariz de muita gente. Apesar da boa recepção de Rogue One: Uma História Star Wars (2016), o espião vivido por Diego Luna dificilmente estaria na lista de personagens que imaginaríamos carregando uma produção própria no universo Star Wars. Se o caro leitor permite um momento de autocrítica, até o redator que os escreve duvidou do potencial da história. Mas nunca foi tão delicioso estar errado. Porque assim como os azarões rebeldes da franquia, Andor veio e explodiu como uma baita surpresa, se firmando como a melhor produção de Star Wars para o streaming, e uma das grandes produções do ano na TV.

Situada 5 anos antes dos eventos de Star Wars - Episódio IV: Uma Nova Esperança (1977), a série aborda a formação do personagem na luta contra o Império. Luna retorna como protagonista, em elenco que tem Stellan Skarsgard, Genevieve O’Reilly, Adria Arjona, Fiona Shaw, Denise Gough e mais, excelentes em uma trama competente, ágil e tensa.

Os doze episódios da temporada apresentam Cassian Andor sobrevivendo pela Galáxia, enquanto busca a irmã perdida. Ao mesmo tempo, vemos a ascensão do Império com mãos de ferro, e os pequenos focos de rebelião que culminarão nas batalhas da trilogia clássica. O caminho do protagonista, então, cruza com o inescrupuloso Luthen Rael (Skarsgard), que o convoca para uma perigosa missão que mudará para sempre suas convicções.

Com mais tempo de tela do que nos cinemas, Diego Luna flexiona os músculos da atuação interpretando um Cassian inseguro, por vezes até desleixado, mas com a fagulha de luta em seu interior. O carisma do ator mexicano conquista empatia imediata, mas também projeta dualidade em cenas que questionam até que ponto as atitudes do rebelde são passíveis de perdão, sob a finalidade do "bem maior". A paranoia do personagem em perseguição constante é amparada por um roteiro eficaz, com a assinatura de um dos nomes mais importantes do gênero de ação moderno.

Roteirista da pentalogia Jason Bourne, Tony Gilroy traz toda a experiência das sequências de ação dos filmes para o universo Star Wars. É quase como se estivéssemos assistindo a um grande longa de espionagem, mas com naves espaciais e criaturas de outro mundo. Além de apresentar ao espectador por que o Império não está a uma galáxia muito distante da vida real

Andor retrata o poderio imperial em sua forma mais humana. Se uma Estrela da Morte capaz de destruir planetas ou um lorde sombrio de armadura negra causam grandes efeitos, mas ainda se inserem em um contexto fantástico, a série aborda como o totalitarismo vem de pequenas opressões, quando a mão ao redor do pescoço vai apertando tão lentamente que nem sequer percebemos.

Nesse sentido, Andor é Star Wars em sua forma mais “adulta” até agora, sem a arrogância e presunção geralmente atreladas ao termo. A história não pretende mudar os rumos da franquia, nem tem vergonha de assumir o lado mais fantasioso. Mas tudo coexiste em equilíbrio com reflexões importantes sobre o mundo ao redor.

Sem subestimar o espectador, a trama apresenta situações sutis que, despidas da capa de saga espacial épica, retratam opressões sistêmicas que você mesmo certamente já sofreu ou presenciou, ainda que nem tenha percebido. E sim, Star Wars sempre foi político. Gostem os fãs ou não.

O contraste entre os dois lados da luta é explícito até na bela fotografia, empregando locações reais no lugar do telão interativo The Volume associado à franquia desde The Mandalorian. E como isso faz diferença. Apesar dos perrengues e inseguranças da luta contra um mal aparentemente imbatível, vemos os rebeldes em ambientes abertos e vivos, em comparação à esterilidade dos corredores das naves e estações imperiais.

Se a rebelião de base, com os pés no chão e as mãos nas armas fica com Andor, a senadora Mon Mothma (Genevieve O’Reilly, de volta após participação cortada em A Vingança dos Sith) traz a luta aos altos escalões do mundo político. Decisão brilhante de roteiro, a subtrama da personagem funciona mostrando como cada pequena rebelião tem suas diferenças, sejam seus motivos, ou a forma de agir. Mothma tenta sabotar o sistema por dentro, funcionando praticamente como uma coprotagonista.

O que dizer também de Stellan Skarsgard, perfeito como Luthen Rael. O personagem é a melhor representação da zona cinzenta que é um homem quebrado por dentro, mas com garra para lutar pelo que acredita ser justo. Ainda que o combate custe um sacrifício próprio, ou dos companheiros de guerrilha.

Andor brilha ainda em um nível mais abstrato como produção do universo Star Wars em geral. Primeiro ao provar como uma equipe focada desde o início em como a história se desenvolve faz toda a diferença (em comparação com a desconjuntada trilogia recente dos cinemas). E, depois, ao conseguir superar o gosto azedo de produções medianas como Obi-Wan Kenobi e O Livro de Boba Fett. Ainda que as recepções mornas a tais séries certamente tenha contribuído para o inicial desinteresse na nova trama.

Com uma segunda temporada já garantida, Andor parece o tipo de série que será descoberta e discutida ao longo de muito tempo. Até o fã mais desencantado de Star Wars deveria dar uma chance à história do rebelde. Afinal de onde não se espera nada, é onde mais podemos nos surpreender. E que ótima surpresa foi lembrar como nada se compara a Star Wars, quando Star Wars é realmente bom.

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