Após estabelecer as bases para vários acontecimentos futuros, A Casa do Dragão chega ao terceiro episódio apostando em uma pequena passagem de tempo.
Embora cause certo estranhamento nos fãs da franquia principal, que seguia um formato mais linear, o movimento é crucial para avançar a história para momentos importantes, ao mesmo tempo em que não deixa a história monótona.
[Spoilers do terceiro episódio de A Casa do Dragão a partir daqui]
Quando a HBO anunciou que iria adaptar a Dança dos Dragões, os fãs dos livros ficaram em dúvida de como a série conseguiria condensar anos de disputas em algumas temporadas. E a resposta veio no terceiro episódio de A Casa do Dragão, que conta com uma pequena passagem de tempo.
Após anunciar o casamento com a jovem Alicent Hightower (Emily Carey) ao final do capítulo anterior, o rei Viserys (Paddy Considine) já começa a parte três tendo um herdeiro homem para chamar de seu, o pequeno Aegon Targaryen. Antes disso, o capítulo entrega mais um momento com dragões, dessa vez com Caraxes atacando os inimigos de Westeros na região dos Degraus.
Tal batalha, mencionada no episódio dois, segue acontecendo, e conta agora com o apoio de Daemon (Matt Smith), que vai para a luta junto com seu imponente dragão. O trecho repete uma característica já citada no texto anterior, de misturar cenas de ação e momentos de drama, apostando nas forças de cada uma dessas narrativas para construir uma história maior.
Em paralelo, a produção mostra uma mudança na relação entre Alicent e Rhaenyra (Milly Alcock). Se antes as duas eram grandes amigas, que rezavam juntas pelas almas de suas mães, agora há uma rivalidade. A jovem Hightower é rainha e, por conta disso, tem mais autoridade do que a princesa dentro da corte. Para a garota de cabelos prateados, é uma experiência amarga se sentir deixada de lado, após receber o título de “deleite do reino”, quando era a única herdeira. Ainda que continue nomeada como a sucessora de Viserys, Rhaenyra é esperta o suficiente para saber que o novo casamento, a presença de um filho homem e mais uma gravidez a caminho a ofuscaram quase totalmente.
Ao escolher fazer uma passagem de tempo, A Casa do Dragão foca em mostrar a caçada que celebra os dois anos de idade do bebê Aegon Targaryen. E, seguindo a tradição de Game of Thrones, os torneios e caçadas são um prato cheio para grandes acontecimentos. Aqui, o rei Viserys vê a ocasião como uma boa oportunidade para arranjar um casamento para Rhaenyra. O soberano acredita que a princesa já está na idade de se casar, e deve escolher alguém para ser seu rei consorte. Já a reação de Rhaenyra, como era de se esperar, é explosiva. Afastando todos os nobres que lhe fazem a corte, a jovem sai em uma cavalgada frenética e é seguida por Sor Criston Cole (Fabien Frankel), iniciando uma relação que promete ter desdobramentos futuros.

O terceiro episódio também deixa claro que o reinado é um peso para Viserys. Em vários momentos, o rei se sente pressionado a escolher entre a filha mais velha e o novo herdeiro. É interessante tal sentimento ser desenvolvido justamente em um capítulo de caçada. Após ter mais um momento estressante, Viserys é chamado para matar um animal que foi encurralado. Ao ver a criatura amarrada e puxada por todos os lados, o rei enxerga ali um pouco de si mesmo: todos querem algo dele. No meio de um jogo político tão grande, há momentos em que o soberano parece apenas um homem simples e sonhador, que gostaria, acima de tudo, de ter uma família feliz, mas é esmagado pelo peso do Trono de Ferro.
Como dito no começo deste texto, Daemon é um dos grandes destaques do episódio, embora apareça apenas no começo e no final. Com apenas algumas cenas, o príncipe mostra por que é um dos grandes nomes da casa Targaryen de sua época. Ao receber a informação de que o rei mandará ajuda para sanar a disputa, o personagem de Matt Smith faz um movimento ousado: finge uma rendição para atacar, praticamente sozinho, seus inimigos. A ação mostra como Daemon é imprevisível e toma decisões no calor do momento – neste caso, ao considerar a mensagem do irmão como uma afronta, quase uma caridade da coroa, que ignorou o conflito por tanto tempo.
A questão é que, apesar de impulsivo, o príncipe é extremamente habilidoso e ama o campo de batalha. Mesmo em meio ao caos, ele se diverte ao ver sua estratégia dar certo e, finalmente, leva o exército à vitória. É preciso uma certa suspensão de descrença por parte do público, porque o personagem se coloca em grande perigo e sai apenas ferido de algo que poderia facilmente tê-lo matado. Mas não há como negar que é gratificante ver, novamente, uma grande batalha no cenário de Game of Thrones. Daemon é um personagem extremamente controverso, mas a série faz um bom trabalho ao criar uma certa empatia do público com ele.

Com todas essas características, o terceiro episódio de A Casa do Dragão segue a toada empolgante da série até aqui. As decisões narrativas tomadas pelos showrunners, como mudar acontecimentos de lugar e fazer uma passagem de tempo, são positivas. Ainda que o público possa sentir falta de momentos grandes, como o nunca mostrado casamento entre o rei Viserys e a jovem Alicent, fato é que a escolha pelo que mostrar está focada no ritmo do seriado. Afinal, mesmo sem ter a cerimônia, o roteiro deixou muito claro todas as dinâmicas que entraram em jogo depois dali. Agora é esperar que a produção continue no bom caminho.
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A Casa do Dragão ganha novos episódios aos domingos, na HBO e HBO Max.