Ao separar o protagonista Din Djarin (Pedro Pascal) do pequeno Grogu ao final da segunda temporada, The Mandalorian se encontrou em uma situação especial. Além de caminhar com louvor a linha do fan service de bom gosto ao trazer um Luke Skywalker (Mark Hamill) no auge tomando o alienígena mirim como aprendiz, a série do universo Star Wars acenava a rumos interessantes para Djarin, transformado para sempre pelo convívio com o parceirinho. É uma pena, então, que todo esse potencial seja jogado pelo ralo em uma terceira temporada retrógrada, irregular e, por que não, maçante.
De volta às aventuras pela galáxia ao lado de Grogu, Djarin busca redenção por ter removido o próprio capacete, pecado quase imperdoável aos olhos do credo mandaloriano. A jornada leva o caçador de recompensas ao planeta Mandalore, onde Djarin unirá forças com Bo-Katan Kryze (Katee Sackhoff) para unir os mandalorianos espalhados em diferentes facções para retomarem sua terra natal.
Se o treinamento relâmpago de Grogu e a apressada reunião do pequenino com o mandaloriano em O Livro de Boba Fett (2021-2022) já torceu vários narizes para os rumos da saga espacial, The Mandalorian chegou ao terceiro ano aparentemente disposta a desfazer tudo que conhecíamos do personagem ao longo das últimas temporadas. A começar pela própria premissa.
É estranho ver Djarin retornar tão fervorosamente à cega no credo mandaloriano quando passamos uma temporada inteira justamente com o personagem aprendendo a largar o fanatismo. Roteirista e criador da série, Jon Favreau afirmou em entrevista à Empire que “não poderia fazer um reset” na trama, mas não há nada na temporada que justifique o retorno da dupla, que acaba escanteada na própria história.
Em vez de Djarin, o protagonismo de The Mandalorian se volta para Bo-Katan e a cultura mandaloriana. É sintomático até que Katee Sackhoff agora divida o crédito de elenco principal com Pedro Pascal, creditado sozinho nos dois primeiros anos. Embora a atriz entregue uma atuação competente, transmitindo bem as nuances da guerreira, é incompreensível como Mando e principalmente Grogu se tornaram quase enfeites de luxo.

Antes no centro das várias tramas que envolviam a aventura, Djarin agora se torna, de certa forma, mais testemunha do que participante ativo nos eventos da temporada. O astro até tem seus momentos de ação, mas atua mais como impulsionador para que Bo-Katan brilhe. Inegavelmente fofinho, Grogu é sempre divertido de ver em tela, mas limita-se às gracinhas de sempre, mais uma vez um lamento do potencial desperdiçado que poderíamos ver do guerreirinho como usuário da Força.
As falhas poderiam até se justificar caso o arco maior da temporada fosse envolvente, mas a trama de retomar Mandalore torna-se maçante com a falta de perigos reais e o investimento emocional do público com o arco. Embora seja parte importante das animações The Clone Wars e Rebels, Mandalore nunca foi explorado nos filmes e séries da franquia, tampouco é explicado ao público por que o arco deveria ser importante.
Mal comum em séries de “aventura da semana”, o ritmo irregular fica mais evidente no terceiro capítulo, “O Convertido”. Embora bem intencionado, o episódio falha ao tentar estabelecer um tom mais sério que destoa do arco da temporada. Já “Armas de Aluguel”, sexta parte da temporada, eleva tanto a “leveza” que quase cai na paródia.
Se a história não convence, ao menos as sequências de ação seguem competentes. Os mandalorianos em ação rendem alguns dos melhores momentos da série, como o combate armado nas ruas do planeta Nevarro no episódio 5, “O Pirata” e a apoteótica luta final contra o vilão Moff Gideon (Giancarlo Esposito) em “O Resgate”, capítulo final da temporada.
Ao espectador, resta a torcida de que o deslize após duas temporadas envolventes reavalie os rumos a serem tomados em um “possível” quarto ano, com aspas enormes — visto que uma renovação, ainda que não oficializada, é praticamente impossível de ser negada, ainda mais com o recém anúncio de um longa nos cinemas para fechar as tramas da TV. Que Djarin e Grogu tomem então o conselho de Yoda em Os Últimos Jedi (2017), de que o “melhor professor, o fracasso é.”. Como deve ser.