"Tudo é melhor quando está sendo cantado. Quando você fala são só palavras, mas quando você canta seu coração é aberto e, então, vemos quem realmente você é". Essa frase junto de uma cena de Barry Allen assistindo Cantando na Chuva abrem o crossover musical de Flash e Supergirl. E nenhuma cena poderia abrir melhor um episódio como este.
O episódio musical de Flash sempre esteve lá pronto para ser feito e, de certa forma, eu me impressiono que levou três temporadas para acontecer. O elenco da série é completamente recheado de cantores e atores de musicais da Broadaway. Carlos Valdés, o Cisco, é cantor e já fez musicais como Once e Jersey Boys. Jesse L. Martin fez o clássico Rent — Os Boêmios, enquanto John Barrowman já atuou em Miss Saigon, O Fantasma da Ópera, Sunset Boulevard e tantos outros. Os protagonistas, Grant Gustin e Melissa Benoist, contracenaram em Glee junto com o ator convidado Darren Criss, que aqui vive o vilão Music Meister.
Se os atores sempre estiveram lá, os compositores convidados pela CW se mostraram pra lá de competentes. De um lado temos Pasek e Paul — de La La Land e Dear Evan Hansen — escrevendo a melhor música do episódio: um solo onde Barry se declara para Iris; do outro temos Rachel Bloom — de Crazy Ex-Boyfriend — escrevendo uma divertida música cheia de piadas com musicais e referências a outros heróis da DC.
O episódio jamais se leva a sério — e talvez essa seja sua maior virtude — seja com a "desculpa" para Barry e Kara cantarem durante 40 minutos ou com o enredo e os diálogos em um tom quase satírico, o episódio presta diversas homenagens, diverte e entretêm.
Quando um produto não musical faz um especial musical fica sempre aquela pergunta: será que os personagens vão reconhecer o quão absurda é a situação? Será que eles sabem que pessoas normais não expressam seu sentimento cantando e sapateando? Em Duet eles sabem muito bem disso e a metalinguagem do enredo proporciona piadas com a facilidade que as coisas acontecem em musicais e referências a West Side Story ao invés de Romeu e Julieta.
O número de abertura — como de praxe em musicais — é extremamente bem coreografado, grandioso, envolve todos os personagens, não desenvolve história alguma e, quando acaba, todos os personagens desaparecem. A única crítica que eu posso fazer quanto aos números musicais são que eu gostaria que eles fossem mais frequentes. O vilão Music Meister mal canta e é impossível não sentir pesar pelo excelente Darren Criss, que poderia estar mais presente no episódio.
Infelizmente, o episódio se perde quando tenta ser um típico episódio de The Flash. O melodrama desnecessariamente complicado e as batalhas com velocistas que sempre se resolvem da mesma maneira são dignas de virar os olhos.
Mesmo com a premissa boba, Duet consegue ser extremamente divertido, ter ótimas músicas e funcionar como uma ode aos musicais que os membros desse elenco tanto amam. No fim do dia, o episódio ainda avança a história da série, trazendo o amor de volta a Central City e a National City. De fato, tudo fica muito mais legal quando está sendo cantado.