A série de Invencível surgiu como um sopro de novidade no momento em que os universos de super-heróis nas telas começavam a dar sinais de desgaste. O gosto de novidade veio direto do material base, já que a HQ original foi criada nos anos 2000 e já modernizava, com doses de sátira e homenagem, muitas das ideias que o gênero explorou ao longo das décadas anteriores. Um conceito que chega ao ápice na terceira temporada, a mais violenta e reflexiva – ao menos até agora.
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O terceiro ano já começa carregado, com o Invencível precisando lidar com o fato de ter matado um inimigo, o crescimento acelerado do irmão caçula, Oliver, e o início de um possível romance com Eve Atômica. Tudo isso enquanto se prepara para a chegada dos Viltrumitas, o poderoso povo alienígena de seu pai, Omni-Man, que prometeu conquistar a Terra.
Todos esses enredos são heranças da segunda temporada, cuja palavra-chave foi "amadurecimento". Faz sentido, portanto, que a terceira jogue Mark de vez na vida adulta, precisando lidar com questões mais sérias e tomando decisões mais drásticas. A principal delas sendo a própria definição do que significa ser um herói.
Em sua temporada mais sombria, Invencível desafia o protagonista e o elenco que o cerca a responder essa questão das formas mais variadas. A animação abre mão de respostas fáceis e coloca seus personagens constantemente em cheque a respeito de suas crenças e práticas, algo que cai como uma luva na proposta da série, que volta suas atenções ao dia a dia desses seres super-poderosos.
O tema é o denominador comum em uma leva de episódios diferentes entre si. Em vez de trazer um arco completo, com início, meio e fim, a produção do Prime Video honra a proposta de os capítulos seguem o cotidiano deste universo. Assim, cada capítulo traz um foco diferente, que vão desde consequências de eventos passados, pistas do que vem por aí em um futuro distante e a chegada de novas ameaças no presente.
Essa estrutura se torna um dos pontos divisivos do novo ano. Pelo lado positivo, há uma bem-vinda dose de imprevisibilidade, já que se torna difícil prever e se preparar para o que vem a seguir. O que, por sua vez, joga os mocinhos em situações diferentes, que os desenvolvem de formas inesperadas – não à toa muitos dos momentos significativos de alguns deles acontecem em suas vidas "civis".
O problema é que essa proposta joga contra a natureza da série. Apesar de funcionar muito bem nas HQs, que duraram 144 números e tiveram publicação mensal, as temporadas de Invencível duram oito episódios, que levam um ano para ficar prontos. Com isso, parecem perdidos os episódios que não trazem ligações claras com o arco maior em andamento.
Tal problema é acentuado quando Invencível esbarra em repetições. Há várias situações na terceira temporada que parecem muito alguns momentos já explorados anteriormente. A consequência é a diluição no impacto, causada tanto pelo abandono da já elogiada imprevisibilidade, tanto pela falta de surpresa quanto pela sensação de que sabemos onde certos eventos vão dar, eventualmente.
Felizmente, esses momentos são minoria e surgem mais como um alerta para o futuro do que um problema grave para o presente. Afinal, Invencível sempre tira cartas interessantes da manga para levar a jornada de seu protagonista para caminhos intrigantes que valorizam seus principais ingredientes: o carisma, a metalinguagem e, principalmente, a sanguinolência.
A era sombria de Invencível
Nas primeiras entrevistas a respeito da terceira temporada de Invencível, o criador Robert Kirkman definiu essa nova etapa como o início da era sombria da série, e não era para menos. O debate sobre os deveres e responsabilidades dos heróis passa a girar em torno da morte. Porém, a produção é sagaz o suficiente para não se restringir ao já cansado debate se herói deve matar ou não.
O tema ganha um retrato mais complexo do que costuma aparecer em outras produções do gênero graças às possibilidades de uma classificação indicativa para maiores. Assim, a violência, que sempre fez parte da mistura, ganha uma gravidade a mais ao representar na ação os dilemas morais e filosóficos no centro de todo o enredo.
É verdade que essa gravidade já se fez presente anteriormente nos momentos climáticos das temporadas anteriores, mas ela é quase onipresente na terceira. Assim, as esperadas pancadarias entre mocinhos e vilões ganham um peso maior, que a produção aproveita para que sua natureza gráfica não perca o significado e se torne gratuita.
E isso diz muito em uma temporada tão soturna, que exige sacrifícios e decisões difíceis o tempo todo, em especial do Invencível. A jornada heróica de Mark sempre foi marcada por dilemas que não se resolvem só pelos punhos, e agora cada um deles parece pesado demais para suportar. Uma carga que faz com que o encargo de "maior herói da Terra" seja menos um título e mais uma maldição. Afinal, como agir quando as responsabilidades se tornam grandes demais para seus grandes poderes?
É uma pena que essa riqueza narrativa não seja acompanhada pela animação. Pela terceira temporada seguida, a produção deixa a desejar em seu principal quesito, com um trabalho visual competente, mas muito aquém do que a própria trama pedia. Mesmo as sequências de ação, que tradicionalmente ganham um capricho a mais, não trazem o mesmo impacto de outrora – basta comparar a enorme batalha que encerrou o novo ano com a pancadaria que fechou o primeiro.
A reclamação é pertinente pelo fato de que Invencível já se provou um sucesso e merece um tratamento melhor pela equipe de produção. Afinal, se a saga toma voos cada vez mais altos em busca de formas de surpreender, chocar e emocionar o público, é de se esperar que o visual faça o mesmo, especialmente pelo intervalo de aproximadamente um ano entre as temporadas. Fica a torcida para que as já confirmadas próximas temporadas tragam o salto de qualidade que a produção merece.
As três temporadas de Invencível, assim como o especial focado na Eve Atômica, estão disponíveis para streaming no Prime Video.
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