Cidade de Deus: A Luta Não Para nasce com uma missão, no mínimo, arriscada. A série tem a difícil tarefa de dar sequência a Cidade de Deus (2002), um verdadeiro clássico do cinema brasileiro e mundial. Ciente do peso que carrega, a produção da HBO começa jogando seguro, utilizando uma nostalgia calculada para trazer o público de volta à CDD.
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A Luta Não Para é situada em 1994, vinte anos após os eventos do filme. No ano em que o Brasil comemorou o Tetra no futebol e chorou a morte de Ayrton Senna, reencontramos Buscapé (Alexandre Rodrigues), que novamente exerce a função de ser os olhos, ouvidos e lentes do espectador. Um reencontro marcado pelo tom de homenagem ao longa.
O primeiro capítulo da série não faz cerimônia para recriar elementos de sua obra-mãe, tanto para fazer a devida celebração quanto para se firmar como parte desse universo. Para além de simples referências, que certamente trazem a satisfação de relembrar uma grande história, esse passeio pelo passado também serve para definir os caminhos que a trama vai percorrer no presente.
Afinal de contas, essa festa nostálgica serve também de ponte para trazer os personagens originais para a nova história, refrescando a memória de quem já os conhece e os apresentando para possíveis novos espectadores. Uma forma ágil de deixar todo mundo na mesma página e posicionar a “velha guarda”, cujas novas etapas se tornam uma atração quase à parte.
A Luta Não Para traz de volta boa parte dos personagens que sobreviveram aos eventos de Cidade de Deus, e dedica parte de seu episódio de estreia a preencher a lacuna de duas décadas entre os títulos. A produção da HBO faz valer o formato seriado, que dispõe de mais horas do que um filme, utilizando-o para desenvolver melhor algumas figuras já carimbadas, e aproveita suas presenças para que a história ganhe novos pontos de vista.
É assim que os retornos de Berenice (Roberta Rodrigues), Barbantinho (Edson Oliveira) e Cinthia (Sabrina Rosa) são justificados. Especialmente porque a série demonstrou apetite para trazer diversidade entre quem são os moradores da Cidade de Deus, e essas figuras ganham novos papéis, desenvolvidos com a devida importância de quem fez história ali quando tudo era mato – em alguns casos, literalmente.
Outra figura-chave nessa ponte entre passado e presente é Bradock (Thiago Martins), personagem que se torna um dos pilares do enredo criminal de Cidade de Deus. Enquanto, no original, sequer tinha nome, ele chega agora com personalidade, história, aliados e inimigos próprios. E, mais do que isso, é uma das peças que mover adiante uma história que está interessada em ir além de relembrar as glórias do passado da CDD.
Novos rostos na Cidade de Deus
É claro que Cidade de Deus: A Luta Não Para não nasceu simplesmente para matar a curiosidade do público sobre o paradeiro de figuras da comunidade. Em seu primeiro episódio, a série apresenta Curió (Marcos Palmeira) como o novo chefe do crime no local, e já prepara uma nova disputa pelo poder, algo que é tanto o motor para a nova história, como sua parte mais delicada.
O NerdBunker teve acesso aos dois primeiros episódios da série, e eles quase ficaram marcados pelo gosto de repetição. Afinal, colocar grupos fortemente armados para guerrear no local parece tanto uma reprise da disputa entre Zé Pequeno (Leandro Firmino) e Cenoura (Matheus Nachtergaele), que chega ao ponto do paralelo nada sutil ser verbalizado por uma das personagens.
Em contrapartida, a equipe foi esperta o suficiente para deixar o “quase” no ar. Afinal de contas, enquanto a guerra marcou o clímax do filme, aqui ela explode logo no começo da história e surge menos como uma consequência e mais como uma causa, plantando sementes para as jornadas dos personagens.
Além disso, a produção já abriu caminho para tocar em assuntos que foram abordados de forma tangencial no original, como a política, além de novos braços do crime, surgidos após os acontecimentos do longa. Aspectos que devem dar pano para manga nos próximos capítulos.
Ainda é cedo para cravar se A Luta Não Para faz valer o retorno à Cidade de Deus. Porém, o equilíbrio entre a reverência ao passado e o apetite por contar novas histórias torna esse início promissor o bastante para conquistar um voto de confiança. Agora basta a produção cumprir as expectativas, já que, se tratando de Cidade de Deus nas telonas, se correr o bicho pega e se ficar, o bicho come.
Cidade de Deus: A Luta Não Para chega à HBO e à Max neste domingo (25), às 21 horas, no horário de Brasília.