Em 2021, Ghostbusters: Mais Além trouxe a amada franquia dos Caça-Fantasmas de volta em uma continuação embalada em nostalgia. O projeto deu tão certo que ganhou uma sequência em Ghostbusters: Apocalipse de Gelo, que tenta seguir os passos do anterior e até chega perto, mas não sem cometer deslizes.
No novo filme, os Caça-Fantasmas estão de volta a Nova York. O trio Spengler formado pela mãe Callie (Carrie Coon) e os filhos Trevor (Finn Wolfhard) e Phoebe (Mckenna Grace), junto a Gary Grooberson (Paul Rudd), se muda para o quartel de bombeiros que servia de escritório para o time original e, de lá, parte para salvar a cidade de fantasmas e assombrações.
A etapa inicial da produção se mostra um passo adiante natural para o gancho deixado por Mais Além, ao focar no estabelecimento dos novos personagens como Caça-Fantasmas. Graças ao carisma do elenco, a dinâmica familiar traz alguns dos melhores momentos cômicos da produção, ao mesmo tempo em que desenvolve conflitos que vão ditar a participação dos personagens no filme – ainda que alguns sirvam mais para o fanservice.
A forma como Apocalipse de Gelo escolhe apresentar esse novo status para a equipe familiar é colocá-la direto na ação. Se aproveitando de técnicas modernas, a produção enche os olhos com uma perseguição em alta velocidade pelas ruas de Nova York, com direito a um Ecto-1 veloz e furioso, raios de prótons voando para todo lado e muito caos. Velhas ferramentas mostrando que ainda dão conta do recado.
E, por falar em elementos clássicos, os personagens dos anos 1980 também são bem integrados à trama. Em vez de guardados para o clímax, os veteranos têm uma participação maior na trama, permitindo que o público aproveite mais a companhia deles. Especialmente porque a velha guarda tem carisma para dar e vender, e as trocas que têm entre si e com os novatos são certeiras na maior parte do tempo.
Ao nos trazer de volta para esse universo e acompanhar o cotidiano dos Caça-Fantasmas, a reta inicial prepara o caminho para que Ghostbusters: Apocalipse de Gelo marque outro ponto alto na saga. Infelizmente, a produção se perde quando precisa estabelecer a nova grande ameaça, ou seja, justamente quando deveria justificar a própria existência.
O roteiro assinado por Jason Reitman e Gil Kenan não lida bem com a preparação do tal “apocalipse” do título. O texto se esforça para não abandonar nenhum dos vários personagens envolvidos na trama ao dar diferentes responsabilidades para cada um deles. Porém, nenhuma das tramas isoladas é cativante o suficiente e a integração entre elas é frouxa. Não é raro, por exemplo, perceber que uma narrativa é escanteada e só ganha permissão para voltar a progredir quando se torna conveniente para as outras.
Há ainda o desperdício de boas ideias para expandir a franquia. Tendo em vista que os Caça-Fantasmas do original se cercavam de cacarecos pseudocientíficos divertidos, o novo Ghostbusters tenta dar um passo além ao trazer novas tecnologias para combate e estudo do sobrenatural. Um potencial enorme que não é cumprido pela simples falta de imaginação dos realizadores, que só pensam nas bugigangas como facilitadores, tirando todo o caráter criativo e cômico delas.
Essas questões poderiam até ser perdoadas se não prejudicassem a trama principal, focada no amadurecimento da jovem Phoebe. Porém, até mesmo essa jornada, que deveria servir como bússola e coração do projeto, é mal executada, com um vai-e-vem previsível que não faz justiça à personagem, que foi tão importante e bem tratada na produção anterior.
Tudo isso caminha até a explosão do clímax, que amarra todas as histórias reforçando as virtudes e os defeitos da produção. Uma conclusão que só não se torna agridoce pelo grande esforço dos criadores em se redimir ao puxar as cordas certas para recriar a magia do filme original. Essa não é a mais criativa das saídas, mas ao menos é efetiva o bastante para que o público volte para casa com um sorriso no rosto – antes de inevitavelmente esquecer da produção alguns dias depois.
No fim das contas, chega até a ser curioso que alguns dos problemas de Ghostbusters: Apocalipse de Gelo são herança direta de Mais Além. Porém, enquanto a produção anterior temperou o banquete de nostalgia com um gostinho de recomeço, a nova deixou a desejar ao não corresponder à expectativa de firmar os Caça-Fantasmas do presente. Dessa forma, o filme atual chega ao fim sem acrescentar muito à saga, mas sem ofender a herança que carrega.