Após mais de 20 anos na espera, Monkey Island finalmente está de volta! A clássica franquia da LucasArts, que fez sucesso nos anos 1990, retorna com um jogo inédito – e pelas mãos dos próprios criadores, a dupla Ron Gilbert e Dave Grossman.
Return to Monkey Island é uma sequência direta de Monkey Island 2: LeChuck’s Revenge, de 1991, que teve um dos finais mais misteriosos da história dos videogames por acabar com um imenso gancho. E só agora teremos respostas… ou quase isso.
Macaco de três cabeças
O jogo se passa vários anos após LeChuck’s Revenge e apresenta uma nova aventura do pirata Guybrush Threepwood, agora mais velho e em busca do Segredo da famosa Ilha dos Macacos, que ninguém faz ideia do que é.
No entanto, o pirata zumbi LeChuck, arqui-inimigo de Guybrush, teve a mesma ideia e também pretende encontrar o Segredo. Os dois, então, voltam a travar um conflito de rivalidade, enquanto partem para a ilha mais uma vez.
Assim, temos o início de uma história tão maluca, enigmática e divertida que faz jus ao que tornou a franquia conhecida, ao mesmo tempo que entrega uma experiência moderna, que não se sustenta apenas em nostalgia.

Com diálogos bem-humorados e inteligentes, a trama apresenta elementos e acontecimentos bizarros, reviravoltas inusitadas e ensinamentos que são passados de forma leve e descontraída. Além de apresentar um sistema de escolha, que gera reações e diálogos diferentes, mas não afetam o desfecho da trama.
A história também conta com muitas referências aos primeiros capítulos da série, principalmente The Secret of Monkey Island, e apresenta lugares e rostos já conhecidos pelos fãs. A ilha Sopapo, Dona Vodu, Elaine e Wally são alguns dos retornos mais marcantes e que têm muita importância no desenrolar da narrativa.
Há ainda espaço para brincadeiras com as referências, com Guybrush tirando sarro que os finais de suas aventuras sempre ficam cada vez mais doidas e a aparição de momentos com metalinguagem, em que personagens sinalizam que estão dentro de um jogo ou fazem menção aos desenvolvedores. Por conta disso, jogadores novatos podem ficar meio perdidos.
Para tentar contornar esse problema, o game até oferece um sistema extra no menu principal, chamado de "Caderno", que apresenta o que aconteceu na franquia até o momento. No entanto, a explicação é feita de forma confusa nas páginas de um livro, que resume até demais os acontecimentos das aventuras passadas, o que faz com que as explicações fiquem desorganizadas e até sem ligação entre si. Isso não atrapalha o jogo em si, mas também não ajuda a contextualizar a história para quem nunca jogou, o que torna essa parte uma experiência para quem já é fã do título.

Aponte e clique
Como era de se esperar, Return to Monkey Island retoma o gênero point and click, com muitos quebra-cabeças a serem resolvidos para progredir na jornada.
O jogo oferece dois níveis diferentes de dificuldade. O primeiro (considerado padrão) é o Modo Casual, que apresenta puzzles bem pensados e divertidos. O jogador precisa estar atento à história e aos diálogos para traçar ligações entre personagens, objetos e lugares para solucionar os problemas. É preciso explorar muito, combinar itens e sempre interagir com os cenários para isso – além de também ser criativo na hora de pensar na lógica de um enigma, uma vez que há elementos malucos na trama.
Já o outro é o Modo Difícil, em que os puzzles ficam um pouco mais complicados. A base e a ideia dos quebra-cabeças permanecem as mesmas, mas a maneira como conseguir um objeto ou realizar uma tarefa muda para dar uma dificultada extra.
Além disso, os dois modos contam com um sistema de dicas para o jogador que se sentir “travado” em algum problema e quiser uma mãozinha. Trata-se de um livro mágico da Dona Vodu, com pistas do que é preciso ser feito a seguir, mas que não entregam tudo de cara e tentam incentivá-lo a pensar na direção correta em vez de apenas dar a resposta.

Return to Monkey Island opta por não retomar a arte em pixel, apostando em um visual inédito para a franquia.
A aparência se assemelha a visual novels e um estilo inspirado em quadrinhos, com uma paleta colorida e vibrante. Enquanto os cenários adotam uma estrutura em 2.5D, em que é possível explorar as áreas sem limitação “side-scrolling”, mas ainda mantém um aspecto dimensional no visual geral. Toda a mistura reforça a ideia de que o jogo se trata de uma experiência é moderna e não retrô.
A trilha sonora é o elemento mais nostálgico do game, trazendo novamente os compositores Peter McConnell, Michael Land e Clint Bajakian a bordo. As músicas remetem tanto ao que conhecemos como Monkey Island quanto ao gênero point and click, com um toque sempre animado e agitado que estabelece um clima de aventura.

O título conta com texto e legendas em português brasileiro, mas não dublagem. A localização está cuidadosa e adaptações em piadas e trocadilhos foram feitas para os diálogos funcionarem na nossa língua. Além disso, até bilhetes, fachadas e cartazes foram traduzidos e estão escritos em português nos próprios cenários, o que é um detalhe importante que auxilia aqueles que não estão familiarizados com inglês, o idioma original do game.
Os fins justificam os meios (ou não)
Duas décadas se passaram, mas Ron Gilbert e Dave Grossman provaram que não perderam o jeito de contar uma boa história.
Return to Monkey Island é o retorno de uma clássica franquia que todos esperavam, que ainda consegue surpreender e entregar uma experiência atual – e, vale ressaltar, também é um projeto muito pessoal para os criadores, que são refletidos no próprio Guybrush.
Sem entregar todas as respostas (afinal, se entregasse, que graça teria se tratando de Monkey Island?), o novo jogo da série é um point and click carismático, inteligente e uma mistura perfeita entre a novidade e o nostálgico. No entanto, é uma experiência para quem já é fã e não serve como uma porta de entrada.
Seja como for, definitivamente é um capítulo obrigatório para todos que já pisaram na Ilha dos Macacos.
Este review foi feito com uma cópia cedida pela Devolver Digital.
Return to Monkey está disponível para PC e Nintendo Switch.