A franquia Hitman nasceu lá no distante ano 2000 e podemos dizer que foi em sua primeira década de vida que ela obteve maior sucesso. Em 2016, a IO Interactive resolveu recomeçar a história do agente 47 com o reboot Hitman. Dois anos depois, e agora publicado pela Warner Games, chega Hitman 2 dando prosseguimento ao bom trabalho desenvolvido nessa nova etapa da série.
Felizmente, o estúdio manteve todas as qualidades do primeiro game ao mesmo tempo em que trouxe alterações para tornar a jogabilidade ainda mais interessante. Outra boa decisão tomada para esse segundo jogo é o formato de lançamento. Ao contrário do anterior, Hitman 2 já chega como um pacote completo, com todas as missões da campanha principal disponíveis de uma só vez, além de outros modos extras.
O inimigo do meu inimigo
O termo “sequência direta” com certeza é o mais apropriado para se referir a Hitman 2 pois ele literalmente retoma tudo exatamente de onde seu antecessor parou, a começar pela história. Sem entrar em spoilers, para quem não terminou o primeiro título, o plot inicial do jogo começa com o Agente 47 indo atrás do Cliente Misterioso. O modo de contar a trama se mantém o mesmo, com pequenas cenas entre as missões. Não é um enredo super complexo, mas é bom o suficiente para justificar a ação.
Como mencionado anteriormente, o jogo já vem completo, mas a estrutura de fases é a mesma do primeiro Hitman, com missões em lugares distintos do globo e que vão sendo liberadas progressivamente (o tutorial é literalmente o mesmo, inclusive). Em cada uma delas há uma pequena introdução, mostrando ao jogador o local, os alvos, perigos e eventuais oportunidades que podem ser aproveitadas. Cada umas dessas missões é um pequeno mundo aberto e é aqui que nosso agente mostra seu potencial.
Cada estágio é enorme e um verdadeiro parquinho de oportunidades. Nossa única obrigação é eliminar os alvos, como fazer isso é totalmente por conta do jogador. É possível seguir algumas linhas de missões — seja selecionando no menu ou as descobrindo ao acaso em conversas de NPCs — ou simplesmente seguir seu instinto e sua sorte. O jogo mesmo lhe dá essas opções no menu, podendo selecionar o quanto de indicações de interface serão mostradas, certamente algo que deve agradar a todos.

O mundo é uma arma em potencial
Falando nos estágios, aqui é o primeiro ponto que essa sequência melhora seu antecessor. No geral, as fases são maiores e mais vivas do que os mapas do primeiro game. As missões em Miami e Mumbai são bons exemplos disso, com as centenas de NPCs andando de um lado para o outro em um mundo que não para. Essas multidões não estão aí de graça já que fazem parte de uma nova mecânica, na qual o Agente 47 pode se misturar ao meio do povo e despistar eventuais perseguidores, como acontece nos jogos da série Assassin’s Creed.
Outras novidades incluem novas armas não letais, a clássica maleta está de volta e o mais importante na minha opinião, o Picture in Picture: com ele uma pequena telinha se abre quando algo de interesse ocorre — um corpo é localizado ou algum NPC sai para investigar. Ela também aparece toda vez que você é visto por uma câmera de segurança. Câmera essa que por si só não faz nada, mas vai alertar todos os seguranças se te pegar fazendo algo errado.

De resto, a estrutura mecânica de Hitman 2 é a mesma já vista no primeiro, o que nem de longe é um demérito. É uma ótima fórmula que já havia nos mostrado suas qualidades e que agora foi refinada ainda mais e colocada em uso em mapas ainda mais elaborados. Mesmo tendo somente seis fases, o que para uma única campanha realmente não é muito, cada estágio oferece um leque vasto de possibilidades de ações e é nessa proposta de rejogar várias vezes as mesmas fases que o jogo se apoia.
Essa exploração também rende alguns benefícios, dando pontos de Nível de Conhecimento. Quanto mais desses níveis ganhamos de um mapa específico, destravamos locais alternativos para iniciar as missões e itens escondidos no mapa pela inteligência da ICA (agência a qual Hitman faz parte). Terminar a história não demora muito, mas Hitman 2 se apoia ao seu alto fator de replay, incentivando jogadores a repetir as missões de diversas formas diferentes e testarem todas as possibilidades.
Para fechar esse tópico, a IO Interactive atualizou todos os mapas do primeiro Hitman com os novos recursos e os disponibilizou via DLC — gratuito para quem já possui o jogo. Se tiver a oportunidade, vale revisitar as fases antigas.

O mundo secreto do online
Além de uma campanha que já oferece bastante conteúdo no single-player, Hitman 2 traz um pacote de recursos online interessante. Os modos de Missões de Alvos Elusivos e os Contratos personalizados, que permitem aos jogadores criarem suas próprias missões, voltam do primeiro game. Outros dois modos fazem sua estreia: Sniper Assassin e Ghost. O primeiro, como o nome indica, traz missões exclusivas para uso de sniper — que até já existiam antes de forma pontual, mas agora ganham um padrão mais definido —, com possibilidade para jogo solo ou em dupla. Ponto negativo é que de lançamento só um mapa está disponível.
A cereja do bolo, contudo, é o Modo Ghost que, de forma bem direta, é o PVP de Hitman 2. Por mais estranho que essa frase pareça, é um formato no mínimo interessante. Funciona da seguinte forma: dois jogadores começam de um mesmo ponto no mapa sem nenhum item equipado. Ambos têm um alvo em comum e outros vão surgindo em sequência, ganhando quem fizer cinco pontos primeiro.
A grande sacada que faz o modo Ghost funcionar é que os dois jogadores possam ver o personagem um do outro, eles jogam em “mundos paralelos” que não interferem entre si de forma direta. Estranho em um primeiro momento mas uma ideia que se mostra acertada. Quando lembramos que muita gente não sabe se comportar on-line, duas pessoas no mesmo “plano” poderia ser meio frustrante.

E onde está a ação desse modo, você me pergunta? Bom, quando um dos jogadores executa o alvo, o adversário tem 20 segundos para finalizar a vítima ou perde o ponto. Essa urgência inesperada adiciona uma nova perspectiva à jogabilidade, pois te obriga a agir rápido, tornando os confrontos intensos e até um pouco caóticos. Uma atitude agressiva de sucesso pode forçar o rival a cometer um erro, ao mesmo tempo que um deslize pode expor sua identidade e colocar tudo a perder.
É compreensível que o Modo Ghost não seja para todos, pois ele vai na contramão da jogabilidade normal de Hitman, colocando pressa e correria no lugar do planejamento habitual de uma missão. Vejo ele como uma boa quebra de mecânicas, oferecendo mais uma nova abordagem a um universo já conhecido. Novamente o ponto negativo vai para a falta de mais mapas disponíveis no lançamento.
Meu nome é 47
Hitman 2 pega tudo que deu certo no primeiro jogo, adiciona pequenas melhorias e as aplica em cenários ainda maiores e complexos. Isso e o fato de ter abandonado o modelo de lançamento por episódios já são dignos de elogios. Os inúmeros objetivos extras para localizar itens especiais ou executar alvos de formas bem específicas são ótimos e dão uma longa sobrevida ao game. Aliás, algumas execuções mais bizarras valem todo o trabalho para realizá-las.
Os modos on-line também têm seus méritos. Os Contratos permitem uma variação enorme dos objetivos da campanha, dando liberdade aos jogadores estipularem situações bem específicas, devendo ser o grande destaque das opções multiplayer. Os novos Ghost e Sniper Assassins tem potencial mas, neste primeiro momento, com um único mapa liberado em cada modo ficam devendo um pouco. Espero que a IO Interactive não demore muito a disponibilizar mais desses conteúdos para que o interesse sobre eles não decaia.
De modo geral, Hitman 2 é um ótimo jogo, que dá um caminhão de ferramentas e deixa o jogador fazer uso delas da forma como achar melhor. Um bom passo nessa nova fase da franquia e que ainda deve render bons frutos no futuro.
HITMAN 2 chega no dia 13 de novembro para PC, PlayStation 4 e Xbox One. Esse review foi feito com uma cópia para PS4, cedida pela Warner Games.