Quando vi Control pela primeira vez, em uma demonstração feita pelos criadores, na E3 2018, fiquei fascinado pelo que vi. Uma casa sofrendo constantes alterações em um jogo de exploração, poderes de telecinese, uma arma que muda de forma. As possibilidades de jogabilidade eram imensas.
Isso sem falar na fama da desenvolvedora, Remedy Entertainment, conhecida principalmente por Alan Wake (2010) e, mais recentemente, Quantum Break (2016). O estúdio ganhou notoriedade, merecida, por fazer belos jogos cinematográficos e histórias criativas, que muitas vezes desafiam o limite da realidade.
Control fez jus a esta reputação. Eu entrei na experiência pensando no que a jogabilidade poderia proporcionar, mas acabei ficando por conta da história e dos mistérios que permeiam todos os elementos do título.
Limiar da realidade
Falar sobre a história de Control de um jeito que faça sentido é complicado, ainda mais sem dar spoilers. Eis o essencial: você acompanha a chegada de Jesse Faden à Antiga Casa, um local misterioso, cuja forma muda frequentemente. Lá fica o Departamento Federal de Controle, uma organização secreta que lida com casos “sobrenaturais” – por falta de uma palavra melhor, já que são muito mais voltados para o lado científico do que espiritual.
Jesse entra neste prédio com um objetivo próprio, mas, ao explorar o local, ela encontra uma pistola que também muda de forma. Pela lógica deste lugar doido, ela agora é a nova Diretora do Departamento e a única capaz de enfrentar uma misteriosa força, o Ruído, que está corrompendo a Antiga Casa e todos os seus habitantes.

Se nada disso fez muito sentido para você, a ideia do jogo é essa mesma. E é justamente o maior charme da narrativa, na minha opinião. Fiquei fascinado pelo universo estabelecido pelo título e pelos mistérios inerentes a ele. Esta foi uma das poucas vezes em que me vi lendo todos os documentos encontrados pelo ambiente.
Um feito impressionante, eu diria, já que as personagens deste mundo são bem menos cativantes. Jesse, apesar de ser protagonista, não é muito bem desenvolvida e suas motivações parecem ter sido jogadas de qualquer jeito. Sinceramente, pouco me importei com os acontecimentos que a afetam ao longo da campanha. O mesmo vale para quase todas as outras pessoas da história, infelizmente.
É bastante raro quando o mundo do jogo acaba sendo mais interessante do que as personagens. Até os objetos são curiosos. Em que tipo de outra situação eu poderia ficar intrigado por uma geladeira ou um patinho de borracha? Ou um prédio?

Aliás, se fosse depender só dos personagens, a história seria bem sem graça. Mas, como eu disse antes, a narrativa é a melhor parte e ela deve isso ao seu universo. O mistério e a insanidade dos acontecimentos, às vezes até de forma cômica, é o que o título tem de melhor para oferecer.
Contrariando isso, infelizmente, achei o final um pouco anticlimático. Tanto os desafios finais quanto o encerramento em si deixaram a desejar. No entanto, o jogo dá a entender que algo mais está por vir. Talvez uma expansão ou uma continuação? Seria muito bem-vindo!
Combate e exploração
O universo e a história de Control são excelentes, e fico feliz em dizer que a jogabilidade não fica para trás. Quer dizer, não muito. O jogo é ótimo, sim, mas tem alguns probleminhas – uns bobos, outros bem sérios.
A progressão segue o estilo “metroidvania”, ou seja, conta com um grande mapa interligado, no qual você pode visitar novos locais ao conseguir um determinado item ou uma habilidade nova. Mas este não é o foco, já que a narrativa é bastante linear e, na grande maioria das vezes, a exploração é opcional.
O problema nesta estrutura é que o visual não colabora com a exploração. A grande maioria dos ambientes é bem parecido e a paleta de cores não é muito variada, o que frequentemente torna muito difícil diferenciar os locais. O mapa de jogo também não é nada intuitivo, já que é em 2D, então pode ser bem complicado descobrir sua posição em um ambiente tridimensional.

Fora isso, o progresso geralmente funciona muito bem. Há diversas missões paralelas e muitas delas só podem ser descobertas ao explorar, seja coletando um documento, encontrando uma pessoa pedindo por ajuda ou se deparando com um objeto fazendo coisas esquisitas.
As missões que ajudam a expandir o mundo e os personagens de Control são as melhores, algumas até mais interessantes do que a história principal. Elas normalmente contam com desafios diferentes, que vão desde quebra-cabeças criativos até chefes opcionais. As recompensas podem ser novas habilidades ou recursos relevantes.
Também existem outras atividades paralelas que são meras tarefas repetitivas, como eliminar certos inimigos de um jeito específico. Estas só servem para conseguir materiais, a maioria dispensável, e deixei de sentir a necessidade de fazê-las depois de pouco tempo.
Falando em inimigos, a ação é um dos pontos altos do título. Jesse conta com a Arma de Serviço, que pode mudar de forma para atacar de diferentes formas, imitando tiros de pistola, metralhadora, escopeta, rifle de precisão e até lança-mísseis.

Além da arma, a protagonista desbloqueia diversas habilidades, usadas tanto no combate quanto na exploração. É possível, por exemplo, lançar objetos do cenário em inimigos ou utilizá-los para criar uma barreira. Jesse também pode tomar o controle de adversários fracos, atingi-los com uma explosão de telecinese ou até voar por alguns segundos.
A munição de todas as formas da Arma de Serviço é compartilhada e se recarrega sozinha, mas precisa de alguns segundos para isso. A mesma lógica serve para a barra de energia de habilidades. Isso cria um interessante ciclo que incentiva o uso de diferentes métodos para enfrentar as forças hostis.

Uma pena que a variedade de inimigos não é muito grande. Depois de algumas horas de jogo, senti que as batalhas ficaram repetitivas. Às vezes dá para ignorar os inimigos e sair correndo para outro lugar, mas nem sempre é simples assim.
Um problema relacionado a isso é que, ao morrer, Jesse retorna para um dos Pontos de Controle, que são basicamente locais onde podemos teletransportar pela Antiga Casa. Sendo assim, você frequentemente vai retornar para lugares bem longe de onde estava, à vezes o obrigando a enfrentar inimigos de novo, só para tentar derrotar aquele chefe difícil mais uma vez. E talvez perder novamente.
Também não ajuda o fato de que o tempo de carregamento ao se teletransportar ou ao morrer pode ser demorado. Isso, junto ao progresso perdido, se torna um teste de paciência sem sentido, que poderia ser evitado simplesmente permitindo retornar para o começo da batalha.
O maior problema, no entanto, é o desempenho. Joguei em um PlayStation 4 tradicional e me deparei com quedas sérias de performance. Isso acontece principalmente durante os combates mais intensos, com a taxa de quadros caindo bruscamente e muitas vezes até mesmo travando o jogo por alguns segundos.

O mero ato de abrir o mapa já causa queda de quadros, isso quando ele não demora para carregar. Ao pausar e retornar, normalmente também são necessários alguns segundos até que tudo volte a funcionar. Até mesmo nas cutscenes há problemas de desempenho, muitas vezes resultando em áudio fora de sincronia.
A sensação é de que o jogo simplesmente não foi feito para rodar no console. Não tive a oportunidade de testá-lo nas outras plataformas, mas senti que o jogo talvez seja melhor aproveitado em um PC razoavelmente potente. Isso é só um palpite vago, claro, já que esses problemas provavelmente podem ser resolvidos no futuro com alguma atualização. O título certamente merece esse esforço.
Tome o controle
Como comentei no começo, Control inicialmente me chamou a atenção pelas possibilidades de jogabilidade que sua proposta sugeria. E, neste sentido, não me decepcionou nem um pouco, mesmo com alguns defeitos. Eu esperava muito mais no começo e ainda assim fiquei satisfeito.
No entanto, é na narrativa e no universo estabelecido pelo jogo que mora seu encanto. A Remedy Entertainment provou mais uma vez que é mestra em criar histórias intrigantes que nos prendem na cadeira. E, ouso dizer, este é o melhor título da desenvolvedora até hoje.
Control está disponível para PC, Xbox One e PlayStation 4. Este review foi feito com uma cópia para PlayStation 4 cedida pela 505 Games.