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Um Completo Desconhecido celebra Bob Dylan com espetáculo rebelde | Crítica
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Um Completo Desconhecido celebra Bob Dylan com espetáculo rebelde | Crítica

Cinebiografia brilha com elenco talentoso liderado por Timothée Chalamet

Gabriel Avila
Gabriel Avila
27.fev.25 às 11h48
Atualizado há cerca de 1 mês
Um Completo Desconhecido celebra Bob Dylan com espetáculo rebelde | Crítica
Searchlight Pictures/Reprodução

Hollywood é apaixonada por cinebiografias de ícones da música. Contar a história de uma figura que que já é amada, utilizando as canções que a levaram ao estrelato para embalar o projeto, é uma fórmula certeira de sucesso – tanto que, às vezes, o filme nem precisa ser lá muito bom para fazer boa bilheteria e vencer prêmios. Felizmente, Um Completo Desconhecido não se contenta com o básico e traz espetáculo e rebeldia para contar a história de Bob Dylan.

Fazendo jus ao próprio título – que, por sua vez, é um verso do clássico "Like a Rolling Stone" –, Um Completo Desconhecido parte do momento em que um jovem e talentoso Bob Dylan (Timothée Chalamet) chega a Nova York em busca de conhecer seus heróis e do sonho de viver de música.

A etapa inicial do filme é marcada pelo encanto do descobrimento. Mais do que apresentar Bob Dylan, a produção se dedica a explorar também o mundo que o cerca através da perspectiva maravilhada de seu protagonista. Assim, a necessária contextualização sobre quem são seus ídolos, colegas e pares românticos é conduzida com empolgação e sagacidade.

O contexto em que Bob está é igualmente generoso e retribui a atenção que ele lhe dedica com a chance do próprio se mostrar. Por exemplo, é só quando conhece – e nos apresenta – Pete Seeger (Edward Norton), grande nome da música na época, que o garoto ganha a palavra para falar sobre si e demonstrar o próprio talento.

Essa dinâmica se repete com boa parte do elenco principal, que fornece ao protagonista material para se mostrar em diferentes frentes. É assim no romance com a artista e ativista Sylvie Russo (Elle Fanning), na complicada relação pessoal/profissional com Joan Baez (Monica Barbaro) e por aí vai. Tais personagens são interessantes à própria maneira e igualmente servem como espelhos cujos reflexos ajudam a montar a imagem de Dylan.

Essa dinâmica torna o elenco um dos grandes destaques de Um Completo Desconhecido. Os atores respondem à difícil tarefa de interpretar pessoas reais, incluindo ícones da música cujas trajetórias foram bem documentadas, com a devida reverência, mas conferem identidade e carisma o suficiente em cada personagem para ir além do campo das imitações.

O grande trabalho dos astros é potencializado pela direção de James Mangold (Logan), que encontra um equilíbrio sutil entre dois interesses aparentemente distintos. Por um lado, há esforço em retratar momentos históricos, responsáveis por construir as lendas em tela, com a devida imponência. Porém, nunca escapa ao cineasta o senso de que se tratam de pessoas reais, com defeitos e contradições. Uma combinação que se complementa e torna o enredo mais interessante.

Especialmente porque Um Completo Desconhecido conta com uma grande aliada para contar sua história: a música. A produção se esforça para que cada canção avance e engrandeça a trama. As composições surgem na tela menos como uma compilação de hits e mais como um desdobramento natural do enredo. Algo marcado ao longo de toda a projeção, mas que fica evidente no clímax, que transmite a importância de um evento que entrou para a história mesmo para quem não o conheça de antemão.

As sequências musicais colocam outro holofote em Timothée Chalamet. Além de encarar de frente a responsabilidade de soltar a voz na produção, o ator também convence ao trazer uma presença de palco envolvente. Seja tocando sozinho no quarto, para multidões em um festival ou em uma aparição inesperada em um programa de TV, ele domina a tela de uma forma que se torna impossível desgrudar os olhos dele.

O astro, inclusive, brilha mesmo quando não está nos palcos. Chalamet cresce junto do personagem, que passa por uma evolução curiosa ao longo dos poucos anos cobertos pela trama. Um amadurecimento que acontece graças a conflitos, crenças e contradições, mas também a um carisma enorme e magnético. Um conjunto transmitido habilidosamente pelo ator.

Todos esses elementos já tornariam Um Completo Desconhecido uma cinebiografia musical muito competente e agradável. Porém, a produção dá um passo adiante e traz mais camadas a Bob Dylan, em uma consciente recusa de colocar seu protagonista em caixinhas.

O roteiro, escrito por James Mangold e Jay Cock (Gangues de Nova York) com base no livro Dylan Goes Electric!, de Elijah Wald, é perspicaz ao se recusar a propor respostas fáceis e definitivas sobre o artista, retirando qualquer arrogância em ser a “obra definitiva” a respeito dele. Em vez disso, a produção defende uma interpretação, dentre tantas possíveis, e faz com que ela dê o tom ao projeto: a rebeldia contra qualquer rótulo ou regra.

O compromisso tão forte que é até possível sair de Um Completo Desconhecido com a impressão de que o longa não se aprofundou no retratado. Uma ideia que a produção afasta com sutileza, ao buscar na alma deste jovem talentoso, rebelde e sonhador o combustível para o incêndio que ele causou no mundo da música. E, no fim, em vez de explicar, ele vem para te fazer sentir – um tributo perfeito para um artista que canta, no refrão de sua maior canção, a pergunta: "como você se sente?". Graças a Chalamet e companhia, o sentimento é bom.

Um Completo Desconhecido está em cartaz nos cinemas do Brasil.

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