Regras do Amor na Cidade Grande é um drama coreano nada tradicional | Crítica

Nas últimas décadas, a Hallyu, também conhecida como “onda coreana”, tornou-se conhecida em diversos países, seja pela música dos grupos de k-pop, ou pelos romances dos k-dramas (não confundir com doramas). Nesse sentido, falar sobre obras do país geralmente faz o público pensar em grandes histórias de amor, em que um se sacrifica pelo outro em uma cena emocionante. Tudo isso está presente em Regras do Amor na Cidade Grande mas, felizmente, de uma forma diferente.

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O filme, comandado pela diretora Lee Eon-hee e selecionado para o Festival de Toronto em 2024, acompanha a jovem e determinada Jae-hee (Kim Go-eun), que se encontra com Heung-soo (Steve Sang-Hyun Noh), um colega da universidade. Mas, em vez de tornar essa história uma jornada de amor romântico, Regras do Amor na Cidade Grande toma o caminho de mostrar o amor entre dois amigos que se ajudam em todos os momentos, inclusive quando Heung-soo quer esconder das pessoas ao redor que é gay.

Enquanto Jae-hee o ajuda na questão, o rapaz também defende a garota, vista com maus olhos por muitos colegas por ter estudado em outros países e gostar de sair para baladas à noite. Assim, a relação improvável entre uma jovem de espírito livre e um rapaz que está se descobrindo se transforma em um filme que fala sobre os diversos tipos de afeto. Claro, não é demérito nenhum quando a história é focada no amor romântico, como em muitos k-dramas, mas uma narrativa que escolhe um caminho diferente acrescenta novas camadas à produção cultural da Coreia, e à nossa própria percepção sobre as obras do país.

Uma ode aos estranhos

Jae-hee e Heung-soo desenvolvem uma bela relação de amizade ao longo do filme (Divulgação)

Um dos grandes trunfos de Regras do Amor na Cidade Grande é a construção dos personagens, que começa logo nos primeiros minutos de projeção. É quase impossível não ficar encantado pela rebeldia de Jae-hee, que questiona como a comunidade coreana lida com o que é diferente.

Exatamente por isso, também é fácil entender o ponto de vista de Heung-soo, que se preocupa em como será visto pela família, amigos e sociedade, caso assuma que é gay. Em muitos momentos, os dois protagonistas discordam de como lidar com as situações, mas o interessante é que isso faz o próprio público pensar nas intolerâncias que acontecem no mundo atualmente, e em como é difícil ser diferente (de verdade) em uma sociedade que nos coloca em caixinhas.

Ao longo da história, vários personagens coadjuvantes cruzam os caminhos de Jae-hee e Heung-soo, trazendo novas questões e discussões, mas o foco da história segue sendo a jornada dos dois para entender a vida na casa dos 20 e poucos anos. E isso torna Regras do Amor na Cidade Grande um filme que pode ser leve e divertido em certos momentos, espelhando esse importante momento de descoberta da vida, e também denso em cenas que aprofundam os preconceitos e até violências que os dos personagens vivenciam.

Inspirado em um livro de Park Sang-young, Regras do Amor na Cidade Grande encerra sua projeção com uma mensagem bonita do que torna a relação entre Jae-hee e Heung-soo tão única e importante, e faz com que todo espectador sonhe em ter uma amizade como essa. No fim, mesmo que seja difícil assumir a própria personalidade em um mundo tão caótico, o filme termina com a positiva mensagem de que ser fiel a si mesmo e às pessoas que ama sempre vai valer a pena, não importa a dificuldade.

Regras do Amor na Cidade Grande chega aos cinemas brasileiros em 10 de abril.

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