O Poço, filme original da Netflix, é um dos mais assistidos da plataforma nos últimos tempos. Por conta de seu final ambíguo, ele está sendo bastante comentado nas redes sociais e deixou muita gente em dúvida sobre o que realmente aconteceu.
Se você já assistiu ao longa, pode continuar para ler o final explicado de O Poço, com trechos de uma entrevista com o diretor. Caso contrário, é melhor ligar a Netflix antes de continuar.
O que é O Poço?
A premissa do filme é que existe um poço com centenas de andares, cada um com dois prisioneiros. Todos os dias, uma plataforma desce levando comida e parando por cerca de dois minutos em cada andar.
A cada mês, as pessoas trancadas lá acordam em um novo nível aleatório. Quem está nos primeiros, pode se empanturrar em um verdadeiro banquete, mas quem está nos mais baixos não tem tanta sorte e não tem nada para comer.
Os personagens
O primeiro que conhecemos é Goreng. Um homem que entrou voluntariamente no poço para ficar seis meses e receber um diploma em troca. Entretanto, ele não fazia a menor ideia de como o sistema funcionava e o que o esperava no local.
O protagonista acorda na mesma cela que Trimagasi, um homem que foi condenado por matar uma pessoa por acidente e que responde todos os questionamentos de Goreng com "Óbvio". Poucos dias depois, ele conhece Miharu, uma mulher que todos os meses desce junto com a plataforma para buscar o filho. A existência da criança é posteriormente questionada, pois mulheres grávidas e menores de idade não poderiam entrar no local.
Em seguida surge Imoguiri, uma burocrata que também entrou voluntariamente no poço, com a esperança de mudá-lo de dentro para fora e que explica que a ideia do sistema é, supostamente, gerar "um ato de solidariedade espontânea". Por fim, ele conhece Baharat, um homem temente a Deus que aceita a proposta de Goreng de convencer os outros prisioneiros a racionarem comida para que pessoas dos andares mais baixos não morram de fome.
Qual o significado do final de O Poço?
Juntos, Baharat e Goreng descem na plataforma e inicialmente usam a força bruta para impedir que as pessoas comam mais do que precisam e deixem o suficiente para que outros, nos andares mais baixos, se alimentem. Até que um dos outros prisioneiros sugere que eles conversem antes de atacar e também ajuda a elaborar um plano de deixar um único prato intocado e enviar de volta para o nível zero, onde preparam a comida, para mandar uma mensagem de que todos estão aprendendo a trabalhar juntos para sobreviver em "um ato de solidariedade espontâneo".
Conforme vão descendo, os dois descobrem que poucas pessoas estão dispostas a ouvir e acabam se ferindo gravemente. Além disso, eles percebem que o poço tem muito mais andares do que eles previamente imaginaram, que seriam 250.
Ao chegarem no nível 333, eles encontram uma garotinha faminta, que seria a filha que Miharu estaria procurando há tanto tempo. A dupla então abre mão do último prato que estava guardando e deixa que ela se alimente.
Goreng também percebe uma dura verdade: apesar de ter ouvido tantas vezes que ninguém com menos de 16 anos podia entrar no poço, isso claramente era uma mentira. Os indivíduos no poder não parecem se importar com as regras e nem com o fato de de terem muito mais andares do que a comida sustentaria, que supostamente seria planejada para 200 níveis ou 400 pessoas, segundo o que ouviu de Imoguiri.
Ele então decide enviar a garotinha de volta ao topo como uma mensagem para os funcionários do andar superior, que parecem estar tão alheios à realidade quanto Imoguiri. A ideia não é mostrar um ato de solidariedade e sim expor que o sistema é cruel, corrupto e que não poupa mesmo os inocentes.
Em meio às suas alucinações antes da morte, ele também percebe que a mensagem (a criança) não precisa de um mensageiro (ele) e ele desce da plataforma para deixar que apenas a menina retorne à superfície.
Em entrevista ao site DigitalSpy, o diretor do longa, Galder Gaztelu-Urrutia, explica que, na visão dele, o filme não é uma crítica apenas ao capitalismo, mas a todos os sistemas vigentes:
Nós certamente acreditamos que tem que existir uma melhor distribuição de riqueza, mas o filme não é estritamente sobre o capitalismo. Pode ter uma crítica ao capitalismo no começo, mas nós mostramos que assim que Goreng e Baharat tentam socialismo para convencer os outros prisioneiros a compartilhar a comida por vontade própria, eles acabam matando metade das pessoas que eles tentam ajudar.No fim, o problema surge quando você tenta exigir a colaboração de todos e você vê que não há nenhuma grande conquista no final. Goreng faz o que ele está disposto a fazer, que é levar a panna cotta e a criança até o nível mais baixo, mas ele não muda a cabeça de ninguém sobre compartilhar a comida.
Galder também afirmou que intencionalmente deixou o final em aberto, chegando até a cortar uma cena em que a garotinha emerge do poço:
Pra mim, aquele nível mais baixo não existe. Goreng morre antes de chegar e aquela é apenas a interpretação dele do que ele sentiu que tinha que fazer. No fim, eu queria que ficasse aberto a interpretação, se o plano funciona e se os indivíduos de cima sequer se importam com as pessoas no poço. Nós na verdade gravamos um final diferente da criança chegando no primeiro nível, mas tiramos do filme. Eu vou deixar o que acontece na sua imaginação.
O Poço está disponível na Netflix.