A franquia Premonição sempre foi honesta quanto à fórmula que segue. O primeiro filme estabeleceu uma receita que acabou seguida por todas as sequências, ao ponto de que o sucesso de cada uma dizia mais respeito à "dosagem" de cada ingrediente do que à adição de novos. Marcando o retorno da trama após quase uma década, Laços de Sangue, sexto filme da série, não quebra a tradição e diverte ao trazer generosas porções de sangue e humor macabro.
À primeira vista, o longa traz sim novidades para a franquia. A costumeira jornada de um grupo de pessoas sendo caçado pela Morte após evitá-la graças a uma premonição é ligeiramente modificada. Desta vez, a ceifadora demorou muito mais do que o normal para caçar Iris Campbell (Brec Bassinger), a "vidente", que teve a chance de viver décadas e construir uma família. Infelizmente, essa força oculta tarda, mas não falha, entrando em ação para caçar a sobrevivente e a linhagem que nunca teria existido se ela tivesse morrido originalmente.
A partir daí, o roteiro escrito por Guy Busick (Pânico) e Lori Evans Taylor (O Nascimento do Mal), com base em uma história criada pela dupla em parceria com Jon Watts (Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa), retorna à dinâmica consagrada: mortes inexplicáveis começam a acontecer obedecendo a uma ordem específica, colocando as vítimas em uma corrida contra o tempo para escapar de seu destino final.
A primeira grande preocupação quanto a um filme de Premonição são as mortes, e isso os diretores Zach Lipovsky e Adam B. Stein (ambos de Aberrações) matam no peito. Porém, antes de chegarmos lá, é importante dizer que o longa toma a acertada decisão de pisar fundo no humor macabro, que acaba se tornando um dos grandes responsáveis pelo sucesso da produção.
Não é de hoje que a franquia faz rir com a desgraça de alguns de seus personagens, mas Laços de Sangue utiliza esse recurso como um dos pilares da nova história. Não que o longa seja secretamente uma comédia, mas a abordagem cômica em torno de parte dos eventos dá um belo empurrão para que a jornada seja menos descompromissada e, portanto, mais divertida de se acompanhar.
Afinal de contas, os cinco filmes anteriores tiveram variados graus de seriedade, e alguns deles pecaram justamente ao não conseguir tornar a parte dramática convincente a um público que, francamente, quer sangue. Então é um alívio que o novo consiga tornar os personagens carismáticos sem se levar a sério demais, especialmente porque esse tom dá mais abertura aos absurdos que tendem a acontecer nessas histórias.
Assim como nos longas anteriores, Laços de Sangue passa longe de ter uma história profunda ou reflexiva. Mesmo a irreverência não salva a produção de forçar a barra algumas vezes para a história avançar, sobretudo quando tenta estabelecer o drama familiar da protagonista, Stefani (Kaitlyn Santa Juana), que nunca convence de verdade e parece estar ali mais para a trama ter algum rumo para além da sobrevivência. Assim, o humor sinistro surge como um bem-vindo tempero para um arroz com feijão requentado.
Felizmente, Premonição 6 se encontra quando precisa falar sério de verdade, ou seja, para estabelecer os perigos que cercam os personagens e fazê-los lutar pela própria vida, o longa é capaz de criar uma atmosfera de suspense competente. Consciente de que a nossa imaginação é capaz de pintar imagens piores do que qualquer desgraça que apareça em tela, os cineastas alimentam a antecipação que potencializa o horror das mortes – ou o alívio de sua fuga.
As mortes de Premonição 6
E já que o assunto é passar dessa para uma melhor, Premonição 6: Laços de Sangue faz bonito em relação às mortes. A dupla de diretores demonstra ter entendido os recados do além ao apresentar óbitos criativos, que estão sempre desafiando o público a adivinhar o que pode acontecer e se empenha para que o resultado final supere qualquer adivinhação.
O longa diverte, em especial, com a variedade nas fatalidades incluídas na trama. Aproveitando a antecipação citada acima e um orçamento polpudo, o longa faz com que cada uma seja marcante à própria maneira, seja pelo teor gráfico, surpreendente ou até esperado – e olha que não há nada mais fácil do que torcer para que alguém leve a pior em um filme de terror.
Infelizmente, nem tudo são flores nesse quesito também. Seduzido pelas possibilidades dos efeitos visuais, Premonição 6 por vezes se apoia demais em computação gráfica, chegando a chamar atenção demais para o recurso, trazendo um nível de artificialidade indesejado. O que fica ainda pior considerando que há fatalidades igualmente fantasiosas que não sofrem com esse problema.
Porém, entre mortos e feridos, Laços de Sangue marca um bom retorno para a franquia. Armado do que deu certo no passado e com boas novas ideias para trazer à mesa, a produção passa longe de reinventar a roda, mas a conduz com carinho e sanguinolência em um lembrete de que às vezes a morte pode ser divertida. Chocante, surpreendente e angustiante? Sim. Mas também divertida.
Premonição 6: Laços de Sangue estreia nos cinemas do Brasil em 15 de maio.