Kung Fu Panda 4 chega aos cinemas oito anos após o lançamento de Kung Fu Panda 3 (2016), tido anteriormente como o fim da trilogia que acompanhou as aventuras de Po, o panda porradeiro. Por se tratar de um recomeço, é natural que os fãs esperem do quarto filme uma justificativa sólida o suficiente para trazer a franquia de volta à vida. É essa busca que move a produção, que não encontra exatamente uma resposta, mas diverte pelo caminho.
A história mostra um novo caminho se abrindo para Po. Honrando o desejo de Oogway, ele precisa se tornar o novo líder espiritual do Vale da Paz e, por consequência, escolher o novo Dragão Guerreiro. Em dúvida sobre qual caminho seguir, o urso ainda precisa cuidar da chegada da Camaleoa, que quer tirar a paz do local utilizando o poder de se transformar em velhos inimigos do nosso herói. Como aliada, ele conta apenas com Zheng, uma misteriosa raposa que cruza seu caminho.
Essa breve sinopse já dá o tom do projeto, que se desdobra na tentativa de ser tanto uma continuação ao que veio antes quanto um ponto de entrada para novos fãs. Porém, a balança pende mais para os recém-chegados, com uma história que modifica a estrutura de uma típica aventura de Kung Fu Panda com foco em iniciar uma nova lenda.
O roteiro escrito por Jonathan Aibel e Glenn Berger, responsáveis por todos os anteriores, em parceria com Darren Lemke (Shazam!), propõe uma mudança de ares em quase todos os sentidos. Desde os locais que Po visita, até o elenco de apoio, tudo serve ao propósito de expandir o universo do personagem e trazer um novo leque de possibilidades.
Os melhores momentos de Kung Fu Panda 4 são aqueles em que esse conceito é bem executado. Nesse quesito, o destaque é Zheng, que vai além do papel de aliada improvável e apresenta um mistério que entretém conforme se revela. Para entender quem ela é e de onde veio, o panda conhece lugares e figuras que acrescentam muito à produção, especialmente no quesito humor.
O problema é que nem tudo são flores e a narrativa sofre com momentos menos inspirados. Esse tópico é melhor ilustrado pela Camaleoa, uma vilã cujo trabalho não faz jus à importância que o roteiro tenta dar a ela. Por mais que seja vendida como uma grande ameaça e até se porte como tal, a produção não justifica esse sentimento ao dar a ela uma participação curta e carregada de clichês.
O exemplo se torna ainda mais propício graças à forma pouco inventiva como os poderes da personagem são explorados. Afinal de contas, o jeito encontrado para que eles chamem a atenção e pareçam ameaçadores é utilizá-los para mimetizar velhos inimigos de Po. Uma decisão equivocada que não só tira a força da personagem, como depende dos filmes anteriores para funcionar. Uma traição à proposta de iniciar uma nova era para a saga.
Nessa indecisão entre surfar nas glórias do passado ou estabelecer um futuro, Kung Fu Panda 4 ganha uma bela força da parte visual. A animação segue o estilo estabelecido pelos longas anteriores, mas dá um salto de qualidade graças a uma direção de arte ligeiramente mais estilizada. Não há uma grande ruptura com o que foi feito antes, mas um aperfeiçoamento que torna o retorno a esse universo um colírio para os olhos.
Esse aprimoramento fica claro na textura de personagens e objetos, além da coesão entre os diferentes tipos de cenários mostrados no filme. Há unidade entre as paradisíacas paisagens do Vale da Paz, a caótica Cidade do Zimbro, os sombrios palácios da Camaleoa e mais, fazendo com que o filme salte aos olhos em comparação aos anteriores.
Esse upgrade é aproveitado pela direção de Mike Mitchell (Trolls) em parceria com Stephanie Stine (She-Ra e as Princesas do Poder), que nunca perde de vista a importância da ação e do humor. A pancadaria diverte por ter um ritmo ágil que sabe transitar entre os momentos épicos e sérios e os voltados à comédia. Não por acaso, muitos dos melhores momentos da produção estão mais próximos ao segundo tipo.
Ainda que demore a confiar no público a ponto de parar de explicar a piada logo após fazê-la, a produção vai soltando a mão e deixa o humor fluir sem grandes obstáculos. Com forte influência da comédia pastelão, a animação dá nova vida a velhas piadas de forma que o reencontro com Po se torna agradável como sempre.
Ao fim da jornada, o saldo de Kung Fu Panda 4 é positivo, mesmo com a indefinição entre o velho e o novo. Na etapa final, o filme até parece tentar se explicar quando faz uma metáfora sobre como mudanças no cardápio de um restaurante impedem que os pratos percam o sabor. Resta aos realizadores, caso invistam em novas continuações, escolherem os ingredientes certos para que a refeição seja tão apetitosa quanto já foi um dia.
Kung Fu Panda 4 chega aos cinemas do Brasil em 21 de março.
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