De fenômeno da internet a filme de Hollywood, a jornada de Five Nights at Freddy’s para as telonas não foi das mais fáceis. A Blumhouse, produtora por trás de Halloween, Corra!, Sobrenatural e muitos outros, anunciou a adaptação em 2016. De lá para cá, o filme trocou de diretor e teve vários roteiros descartados.
Agora que o resultado enfim chega aos cinemas, fica claro que o atraso se deu para garantir o máximo de fidelidade aos games. Com envolvimento direto do criador Scott Cawthon, que assina a produção e o roteiro, o longa luta para transpor o máximo do jogo para a tela e nunca se esquecer de onde veio — mas até onde isso é uma coisa boa?
Se você passou a última década longe da internet, saiba que Five Nights at Freddy’s é uma franquia de jogos de terror iniciada em 2014, em que o jogador precisa sobreviver a ataques de animatrônicos possuídos. Com mecânicas simples e sustos impactantes, o jogo inicial conquistou o YouTube e originou uma saga repleta de continuações, prelúdios, minigames e até livros complementares, além de impulsionar uma comunidade fervorosa de teorias sobre a mitologia, fanfics e mil outros tipos de demonstrações de criatividade.
O filme busca adaptar os eventos do primeiro game ao acompanhar Mike (Josh Hutcherson), um homem ferrado na vida, que aceita trabalhar de segurança noturno de uma pizzaria desativada para tentar pagar as contas e manter a guarda de sua irmã mais nova, Abbie (Piper Rubio). O local, porém, é atormentado por animatrônicos possuídos e sanguinários.

Para o público mais fiel, é uma franquia chamativa pelos sustos, pelos mistérios, pelas tragédias (fictícias) que mudam o rumo da história e pelo contraste entre ameaça e carisma das máquinas de matar. Ao longo de uma década e graças ao esforço coletivo de fãs vocais, Scott Cawthon criou um verdadeiro universo com os próprios eventos importantes, piadas internas e divergências de opinião entre a comunidade.
O filme mergulha de cabeça nisso tudo, sem medo de quem fica para trás. Por um lado, é fascinante. Graças ao envolvimento de Cawthon, que revelou ter recusado diversos roteiros que descaracterizavam sua obra, o resultado é uma celebração do caminho trilhado pela franquia e pelos fãs.

Poucas adaptações conseguem usar a definição de “filme para fãs” de forma tão certeira quanto Five Nights at Freddy’s. Quem vai se emocionar com o visual impecável dos animatrônicos, com as referências ao amplo universo e com a retratação de eventos importantes da mitologia é quem passou a última década fazendo justamente isso internet afora. O longa é só mais uma oportunidade de levar isso dos fóruns, comentários e comunidades para a sala de cinema.
E se você nunca teve contato com os jogos? Bom, aí a experiência é outra — e muito menos empolgante.
Piada interna

O outro lado da moeda de “pregar para o convertido” é que o filme sequer tenta explicar qualquer coisa. Se você não embarcar na jornada, fica para trás mesmo. E é uma tarefa especialmente complicada, porque este é um longa estranho de acompanhar.
Mesmo quem espera um terror pipoca regado a sustos vai ter uma experiência diferente. O tom flutua praticamente de cena em cena, passando pelo suspense, drama, aventura e comédia sem espaço para respiro. O horror ter pouco impacto, seja pela tensão morna ou pela falta de violência gráfica, não ajuda a criar algo que possa se destacar além da bolha (gigante) de fãs.
No geral, é um filme difícil para quem não sabe do que se trata porque o mesmo esmero em adaptar o material-base não se mantém para produzir um filme interessante. Divertido talvez, mas inconsistente e pouco memorável. As atuações são medianas, os sustos são fracos, e a montagem dá um ritmo estranho que frequentemente alivia o drama, suspense ou humor ao se prolongar demais ou cortar antes da hora.

Há muito o que ser criticado em Five Nights at Freddy’s: Pesadelo Sem Fim, mas o veredito é totalmente dependente da sua conexão com a franquia. Se você cresceu nessa comunidade, verá uma representação fiel da mitologia, das especulações e do enorme apelo da saga.
Se é seu primeiro contato, receberá um filme pouco eficiente e uma avalanche de informações desconexas que mais dizem sobre o carinho dos fãs do que sobre o jogo em si. É uma adaptação muito fiel da experiência de cair no buraco de uma Wiki tocada pela comunidade, saltando de página em página repletas de especulações e piadas internas que mais confundem do que esclarecem.
Five Nights at Freddy’s: Pesadelo Sem Fim já está em cartaz nos cinemas brasileiros.