O Poltergeist de Enfield é um dos casos mais documentados de fenômeno paranormal no mundo. Ele serviu de inspiração para longas como Poltergeist - o Fenômeno, de 1982, vários documentários e um mockumentary da BBC em 1992, chamado GhostWatch. Agora, o acontecimento retorna aos holofotes com Invocação do Mal 2.
Para fazer com que a história pareça nova, James Wan constrói os personagens mostrando suas vidas comuns antes de qualquer acontecimento paranormal: o dia a dia dos Hodgson, as dificuldades causadas por um pai ausente, irmãos apoiando ou implicando uns com os outros.
Tudo isso para estabelecer que esta é uma família como qualquer outra, que apenas por acaso foi vítima de algo inexplicável. Isso faz com que o terror fique mais próximo e que o espectador perceba que aquele grupo de indivíduos não fez nada que merecesse uma punição cármica.
Empatia
Nenhum deles fez algo cruel, ninguém estava acampando ao lado de um serial killer, eles não acabaram de se mudar para uma mansão mal assombrada, nenhuma das crianças desobedeceu alguma regra e liberou uma maldição ancestral.
Os problemas pelos quais a família Hodgson passa antes dos eventos paranormais poderiam ser o de qualquer pessoa que está assistindo ao filme. Isso baixa as defesas do espectador e gera empatia. Eles são pessoas comuns que não fizeram nada para "merecer" aquilo. Por conta disso, o espectador sente que não está protegido e que, assim como aqueles indivíduos, poderia ser atormentado por uma entidade ou espírito mal intencionado.
Casal Warren
Diante de uma família que precisa de ajuda para enfrentar um fenômeno sobrenatural, Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) são mais uma vez convocados pela igreja para investigar o fenômeno e descobrir se vale a pena fazer qualquer tipo de intervenção ou mesmo um exorcismo.
Porém, Lorraine não está disposta a enfrentar mais um caso por sentir que a vida de Ed está ameaçada de alguma maneira. Mesmo querendo dar apoio a uma família supostamente atormentada por uma entidade maligna, ela não consegue aceitar a ideia de arriscar a vida do amor da vida dela.
Essa dualidade entre o desejo altruísta de ajudar os Hodgson e o medo de perder Ed é evidenciada em diversos momentos de Invocação do Mal 2 apenas pelo olhar de Lorraine. Seja em ocasiões relativamente banais, como um café da manhã em família ou uma cantoria em volta de um violão, ou mesmo cenas tensas enquanto as manifestações paranormais de fato acontecem.
Baseado em fatos reais
Para deixar aquele universo das telonas mais próximo da nossa realidade, todos os cenários foram recriados com perfeição. Como o Poltergeist de Enfield foi um caso muito documentado, é fácil achar imagens na internet para comparar com o longa. Houve um cuidado muito grande para que as imagens originais criassem vida nas telonas e para caracterizar Londres no final dos anos 1970.
Porém, mais do que simplesmente retratar um lugar real, James Wan soube usar muito bem os cenários e os ângulos da câmera para aumentar a tensão em Invocação do Mal 2 sem se valer apenas de sustinhos fáceis.
O longa se importa tanto em retratar bem aquela época que inclui até os questionamentos que existiram sobre tudo não passar de uma grande farsa criada por adolescentes com muita criatividade. O roteiro consegue dar uma resposta para as dúvidas existentes, sem subestimar a inteligência do espectador.
Grandiosidade
Invocação do Mal 2 tem apenas um problema que quebra um pouco o clima: a necessidade de superar o primeiro longa.
O primeiro título da franquia teve um orçamento de apenas US$ 20 milhões e, mesmo com esse troco do pão (para os padrões de Hollywood), conseguiu tornar a história realmente intrigante e fazer referências a clássicos de terror.
No segundo, agora com um orçamento oito vezes maior, algumas cenas tentam forçadamente ser mais grandiosas, com perigos maiores e mais assustadores. É compreensível que isso aconteça, devido à pressão pelo sucesso gerada pelo bom resultado do primeiro filme (que faturou US$318 milhões) e também para evitar seguir caminhos muito similares. Porém, esse exagero para tentar surpreender acaba não funcionando como o esperado e cenas dos minutos finais (quando a tentativa para impressionar é mais óbvia).
O longa não chega nem perto de errar tanto quanto Annabelle, por conta do ritmo, de um roteiro mais coeso e da maneira de engajar o espectador, mas fica a apenas um passo de estar no mesmo patamar do primeiro Invocação do Mal.
Querer acreditar
Um filme de terror pode ser contado simplesmente através de sangue, morte e sustos fáceis em sucessão, e ainda assim atingir o seu objetivo. Porém, Invocação do Mal 2 não pega nenhum atalho e consegue contar sua história através do contraste com períodos de calmaria e de medo, incluindo também a beleza de uma época recriada com perfeição através de figurinos, cenários e objetos de cena.
O impacto causado por Invocação do Mal 2 não é tão forte quanto o de seu predecessor, mas consegue mostrar a capacidade de James Wan de entreter (ou assustar) o público e fazer com que você queira acreditar em uma história tão desgastada quanto a do Poltergeist de Enfield.