A saga da franquia Bruxa de Blair começou em 1999 quando um filme no formato de documentário chegou aos cinemas alegando que trazia imagens reais, gravadas por três estudantes que desapareceram logo após as filmagens.
O clima era de mistério e o formato, até então, inovador: câmeras na mão e imagens tremidas para simular que tudo aquilo era real. A Bruxa de Blair de 1999 foi o filme que popularizou o subgênero Found Footage que abrange também longas como Atividade Paranormal e V/H/S.
Quase duas décadas depois, Found Footage virou um recurso um tanto batido e já não gera o mesmo impacto nos espectadores. Esperava-se que uma tentativa de reviver a franquia Bruxa de Blair pudesse dar um novo fôlego para esse estilo cinematográfico e, quem sabe, até apagar da memória o desastroso Bruxa de Blair 2 – O Livro das Sombras, mas não é bem o que acontece.
Ligação com o original
Bruxa de Blair é uma continuação direta do longa de 1999 e é protagonizado por James, o irmão de Heather, a garota que pede desculpas na câmera em uma das cenas mais icônicas do filme original. Ele está obcecado por encontrar a irmã e acredita que, com ajuda de apetrechos tecnológicos como GPS, drones e diversos tipos de câmera, ele e os amigos podem conseguir explorar a floresta em segurança.
Durante o primeiro terço da história, o filme consegue estabelecer bem os personagens. A motivação do protagonista e a amizade do grupo é retratada com pequenas interações antes de a aventura começar de verdade, explorando até mesmo o background racista dos dois guias que se oferecem para ajudar (um pequeno detalhe que é mostrado através da reação do grupo às bandeiras dos confederados penduradas em um dos cenários). Porém, como eles são a única (e talvez última) opção de James, os amigos decidem seguir em frente.
O longa faz questão de contar novamente a origem da bruxa e todos os eventos estranhos que já aconteceram na floresta. Existe um esforço genuíno em apresentar aquele universo para uma nova geração que talvez nunca tenha ouvido falar do filme original, mas tudo isso só contribui para a decepção que vem a seguir.
Por mais que sejamos constantemente lembrados de que se trata de uma sequência, as ambições do longa não vão para além de um remake, e ele acaba não conseguindo possuir o mesmo encanto do original.
Apego até demais
Bruxa de Blair é decepcionante por se prender demais a um modelo estabelecido no primeiro filme. A história não acrescenta absolutamente nada à mitologia da bruxa e mesmo os sustos são eventos que não surpreendem ninguém que tenha assistido ao original.
É ainda mais frustrante se for levado em conta que essa obra é criação do diretor Adam Wingard e do roteirista Simon Barret, responsáveis por um segmento de V/H/S e também pelo longa Você é o Próximo, no qual fazem um excelente trabalho de usar clichés para subverter as expectativas.
Em diversos momentos da história possível ver a construção de uma base para algo que poderia virar várias pequenas tramas, mas esses pontos são abandonados sem chegarem à plenitude e acabam sendo trocados por caminhos óbvios. Isso se refere tanto ao desenvolvimento de alguns personagens, quanto cenas que começam sugerindo momentos extremamente aflitivos, mas em seu desfecho não chega à altura de sua premissa. Tal característica, por sua vez, acaba também aparecendo na trama maior, que se alonga sem trazer novos elementos e se encerra sem impacto. O temor que fica mais claro durante toda a projeção de Bruxa de Blair é o medo de ousar.