O ator Chadwick Boseman, conhecido por seu papel como T’Challa no universo cinematográfico da Marvel, morreu nesta sexta-feira (28). Estamos todos de coração partido com essa perda. Como forma de se despedir do o ator, Anderson Shon imaginou como seria um homenagem do personagem ficcional para o herói da vida real.
YIBAMBE! YIBAMBE!
Descanse, meu irmão, descanse o sono dos leões sábios e prontos para uma nova jornada. A morte é algo curioso, apesar de certa é sempre surpreendente. Não digo que algumas pessoas merecem morrer (até merecem), mas você, meu irmão, com certeza não era uma delas.
Meu rosto era o seu rosto, meu corpo era o seu corpo, minha luta era a sua luta. Muitos só conheceram o manto do Pantera Negra por você ter me emprestado voz e alma, não há gratidão que expresse o que senti ao me ver estampado como símbolos para diversas negras e negros da nossa sociedade.
Em Wakanda está decretado um mês de luto, mas sem pararmos a nossa luta, pois a guerra está longe de acabar.
YIBAMBE! YIBAMBE!
Nunca o conceito do ubuntu esteve tão vivo: Uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas. E você, Chadwick, ao colocar o manto do Pantera Negra se vestiu com a pele de vários dos irmãs e irmãos cansados de não se verem nas telas ou que só se enxergam em papéis que reforçam estereótipos que não nos traduzem.
É necessário a ressalva de que a lei da bondade só gera bons frutos. O irmão Denzel Washington te proporcionou os seus estudos nas artes cênicas e você proporcionou representatividade para negros e negras espalhadas pelo mundo.
A generosidade sempre foi um aspecto forte das comunidades afro, eu só percebi o erro que cometia ao fechar Wakanda pro mundo graças ao Killmonger, mas tenho certeza, meu irmão, que você já sabia disso. Não existe mais a minha história e a sua história, existe a nossa.
YIBAMBE! YIBAMBE!
O racismo sim é uma guerra infinita, o que não significa que não podemos combatê-la. Wakanda Forever não é só uma expressão, é uma filosofia de vida. Aqui, você sabe muito bem, meu irmão, todas as pessoas são eternas, as memórias vivem em cada monumento erguido, em cada brisa assoprada pela deusa Bast, em cada criança com olhar atento e ouvido massageado pelas histórias de nossos antepassados.
A imortalidade do corpo é um objetivo dos fracos, nós, wakandanos, já praticamos a imortalidade da alma. Você, Chadwick, é o nosso mais novo imortal.
YIBAMBE! YIBAMBE!
Hoje não é um dia feliz, mas alguns dias realmente não podem ser, afinal, servem para nos lembrar que existe uma vida sendo vivida nas ondas do destino. O amanhã é tão incerto quanto uma estrela cadente, é necessário dar importância somente para o que realmente é essencial. E sabe, Chadwick, os símbolos importam e têm a capacidade de passear pelo tempo, não se importando com definições de presente, passado, futuro, eles simplesmente existem.
Por isso, afirmo, e creio que você também afirmaria, o quanto o Pantera Negra precisa continuar existindo e influenciando uma geração de negras e negros que precisam levantar bandeiras, marchar por seus direitos, brigar por suas vidas. Em uma realidade em que tentam silenciar o som da nossa respiração, não podemos parar jamais.
Te agradeço por ter honrado a figura do Pantera Negra e ter feito com que vários dos nossos queiram estar com os nossos. O culto da Pantera acontecerá novamente, mas não para termos um novo rosto, e sim para continuarmos com a nossa alma. Wakanda forever.
YIBAMBE! YIBAMBE!
Anderson Shon é escritor, professor, poeta, nerd e super-herói nas horas vagas. Autor dos livros Um Poeta Crônico e Outro Poeta Crônico. Escreve matérias para o jornal Voz da Favela, ministra um curso de escrita criativa: A Liga dxs Lanternas, expôs suas opiniões na coluna Black Nerd do Correio Nagô e tem um site de contos.