Victor Frankenstein é um filme que se passa na Inglaterra, no século 19, e tem um começo visualmente incrível: cores vibrantes em um ambiente circense que mostra desenhos de livros de anatomia misturando-se com pessoas e animais reais.
Os minutos iniciais são instigantes e mostram a origem circense de um homem corcunda e sem nome (Daniel Radcliffe), o fascínio dele por medicina, os abusos que sofreu por ser diferente, e o primeiro encontro com Victor Frankenstein (James McAvoy), um estudante de medicina fascinado por vencer a morte.
Victor dá ao rapaz o nome de Igor e o ajuda a escapar dos abusos. Em retribuição, o novo assistente demonstra que é absolutamente brilhante e se torna um companheiro fiel que sente uma enorme gratidão por Victor, a ponto de não perceber por si mesmo que o amigo talvez esteja indo longe demais.
É uma pena que nem mesmo a atuação fantástica dos protagonistas consiga salvar o longa de se transformar em uma monstruosidade construída por pedaços que não parecem pertencer ao mesmo corpo.
A história é contada pela perspectiva de Igor, mas, diferentemente de outras releituras que já vimos da obra de Mary Shelley, não foca no monstro criado por Frankenstein. O filme se perde com tantas subtramas que parece uma série ou minissérie condensada para caber em menos de duas horas.
Victor Frankenstein é uma mistura de gêneros que não sabe se quer ser um drama, um romance, um filme de ação ou de investigação policial. Há cenas de fuga, combate corpo a corpo, intrigas de assassinato, romance sem química, pitadas de humor, conspirações, traições, passados trágicos, questionamentos éticos, religiosos enfurecidos, personagens mudando de emprego sem motivo aparente e um detetive que conclui casos mais rápido que o Sherlock.
A paixão de Igor por Lorelei (Jessica Brown Findlay), a trapezista do circo, é totalmente fútil e forçada, especialmente quando comparada com a cumplicidade e a lealdade de Igor e Victor. A moça é constantemente jogada de um lado para o outro, apenas para que apareça na tela ao lado de Victor. Pior que não haver personagens femininas em um filme, é colocar apenas para que ela repetidamente faça o papel de donzela em perigo.
Como o próprio Igor diz no começo de Victor Frankenstein, esta é uma história que todo mundo conhece e o longa acrescenta tão pouco que o maior questionamento no final é: Por que alguém achou que seria uma boa ideia ressuscitar a obra de Mary Shelley dessa maneira?
Um elenco desse nível poderia produzir um filme de altíssima qualidade se a história que estivesse sendo contada soubesse para onde está indo. Não é o que acontece. O caminho é atribulado, os personagens são esquecíveis e a conclusão é apressada. No longa, a maior ambição de Victor é criar vida, mas o diretor não parece compactuar com este desejo pois é justamente isso que falta em Victor Frankenstein.