Há uma chance de que o nome “Genndy Tartakovsky” não te diga nada, mas a obra deste animador fala por si. Ele é criador de clássicos como O Laboratório de Dexter, Samurai Jack e da versão 2D de Star Wars: Clone Wars, obras tão queridas e aclamadas que garantem a ele a alcunha de “mestre”. Ainda assim, a vasta experiência e talento não salvaram o artista da pressão causada por Unicorn: Warriors Eternal, o novo lançamento do HBO Max. Ao NerdBunker, Tartakovsky admite que a animação o deixou “paranoico, nervoso e ansioso”.
É fácil entender de onde vem tanto nervosismo. A série acompanha um grupo de guerreiros formado por uma feiticeira, um elfo e um monge cósmico destinados a reencarnar sempre que uma força maligna voltar para ameaçar a Terra. Na aventura da vez, eles são acordados por um robô do futuro enviado pelo mago Merlin – sim, o do Rei Arthur – para impedir o fim do mundo na Londres do século XIX. Tudo isso em uma animação deslumbrante que levou quase 20 anos para acontecer.
Em entrevista exclusiva, Genndy Tartakovsky relembra que a ideia para Unicorn: Warriors Eternal surgiu no início dos anos 2000. Na época, ele estava prestes a encerrar séries como Dexter, Samurai Jack e Star Wars e queria que seu próximo projeto fosse diferente dos anteriores. Neste mesmo período, ele foi contratado para escrever e dirigir um filme de Astro Boy.
A produção não foi para frente, mas mergulhar no trabalho de Osamu Tezuka e outros mestres, como Hayao Miyazaki, do Studio Ghibli, e Max Fleischer (Superman, Popeye, Betty Boop) não foi à toa. Estudar gênios de diferentes estilos serviu de inspiração para a abordagem ousada da história:
“Fui beber daquelas fontes para basicamente contar uma história que seria maior e mais complexa do que tudo o que já tinha feito. Quis reunir todas as coisas pelas quais eu me aventurei em séries diferentes em uma única história com comédia, ação, drama e emoção. Esse era o objetivo.”

Acontece que essa inspiração foi apenas o primeiro passo de uma longa jornada que durou mais de 20 anos. Nesse período, o animador se dividiu entre tentar vender a ideia para emissoras e torná-la boa o suficiente para fazer jus à ambição de ser um grande épico animado. Um desafio amplificado pelo medo de cair em clichês. “Quando você está fazendo uma fantasia assim, parece que tudo já foi feito. Então como manter a história original e interessante? A maior coisa não é necessariamente a mais chamativa”, refletiu.
A resposta foi se arriscar e trazer elementos que não costumam aparecer em seus trabalhos, como mistérios e triângulos amorosos. Dizer que esse caminho tirou Genndy Tartakovsky de sua zona de conforto seria pouco, já que ele praticamente teve que aprender a trabalhar de uma forma completamente nova:
“Sinto que o que faço melhor é pegar uma ideia e executá-la de forma grandiosa. Foi uma mudança que me deixou paranóico, nervoso e ansioso. Pensei que as pessoas não iriam entender ou que estava indo para muito longe das coisas que faço tão bem. Foi muito desafiador.”
Curiosamente, o tempo trouxe o ingrediente que faltava para unir todas as diferentes influências, ideias e recursos que o criador havia colocado no caldeirão: a paternidade. “Nesse tempo todo, eu tive três filhos e a chance de ver crianças passarem para adolescentes e então adultos. E essa é a verdadeira essência de Unicorn: a dualidade de quem você é até de repente ser alguém completamente diferente”, afirmou.

Essa metáfora ganhou vida na forma como os heróis de Unicorn reencarnam. Ao invés de simplesmente nascerem com memórias e habilidades de suas vidas passadas, eles são pessoas comuns que, de repente, recebem as almas de seres mitológicos. Uma representação fantástica para o amadurecimento das crianças da família Tartakovsky:
“Unicorn tem toda essa magia, mistério, robôs e steampunk, mas é sobre personagens crescendo sem saber quem são e se tornando quem devem ser. É uma metáfora para nosso envelhecimento, e essa foi a parte empolgante de fazer essa série.”
É justo dizer que não foram só as crianças que cresceram. O animador reflete que Unicorn: Warriors Eternal só existe graças a toda a experiência que adquiriu ao longo desses anos. “Tudo começou com Dexter, que era sobre fazer essas cenas de ação cômicas. As séries originais me trouxeram até aqui e continuo tentando ir além. agora estou focando mais na emoção e no drama. É claro que há comédia, mas o que conduz é a emoção. Então tudo o que fiz serviu como aprendizado de como fazer melhor”.

Toda essa jornada reflete no resultado final de Unicorn: Warriors Eternal. A produção mistura fantasia, lendas Arturianas, steampunk e até terror para criar uma identidade única. Com uma mitologia que equilibra diferentes gêneros, a história desenvolve personagens e motivações de forma que os mistérios são envolventes e as batalhas empolgantes. Um resultado que justifica o slogan “um épico que levou uma vida para ser feito”.
Os dois primeiros episódios de Unicorn: Warriors Eternal estão disponíveis para streaming no HBO Max com áudio original e versão dublada em português. A animação ganha novo episódios às segundas-feiras.