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Qualquer pessoa que acompanha o mundo das séries não deve ter passado em branco pela obra The White Lotus. Afinal, ao longo da segunda temporada, tornou-se comum encontrar memes e comentários após a exibição de cada episódio, domingo sim, domingo também. Praticamente um sucesso.
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Não à toa, a série já foi confirmada para a terceira temporada e premiada como a Melhor Minissérie no Emmy 2022 e Globo de Ouro 2023. Mesmo assim, alguns de vocês podem estar se perguntando: o que essa série tem de tão especial?
O que é The White Lotus?
Resort The White Lotus é palco de tretas do mundo dos ricosUm tema cada vez mais em alta em produções de TV na atualidade é o mundo dos ricos. Desde reality shows que acompanham celebridades, como Keeping Up With The Kardashians, até premiadas obras de ficção de máximas qualidade, como Succession, a indústria tem se debruçado sobre o tema. Se algumas obras optam por realizar críticas e expor a fragilidade da riqueza, outras sanam a curiosidade sobre cotidiano de uma família bilionária — e sem julgamentos aqui, viu?
Seja como for, é neste contexto que The White Lotus está inserida. A série é uma antologia que trata da rede de resorts mundiais que dá nome a produção. Os hotéis estão espalhados por lugares extraordinariamente lindos, que vão das montanhas belíssimas do Havaí, nos EUA, aos mares cristalinos da Sicília, na Itália.
Nestes cenários, o criador, roteirista e showrunner Mike White (Escola do Rock) apresenta hóspedes podres de ricos e funcionários que irão conviver ao longo de uma semana.
Hóspedes vs funcionários
Primeira temporada mostra quem nem tudo são flores durante as hospedagensApesar de algumas particularidades, The White Lotus pode ser resumida como uma série que mostra o quão superficiais as pessoas podem ser quando estão em posição de poder. Exatamente por isso, a primeira temporada é mais focada na relação – e na oposição – entre hóspedes e funcionários.
Em resumo, no primeiro ano, a série apresenta Tanya (Jennifer Coolidge), uma mulher muito rica de meia idade completamente despirocada das ideias; a família Mossbacher composta por uma mãe executiva (Connie Britton), um pai medíocre (Steve Zahn) e dois filhos meio perdidos (Sydney Sweeney e Fred Hechinger); o casal Shane e Rachel (Jake Lacy e Alexandra Daddario) em lua de mel; e o excelente Armond (Murray Bartlett), gerente do hotel que abriga todos esses personagens.
Ao longo de 6 episódios, a série é inundada por tensões que vão de ponta a ponta. Elencando, temos problemas com hospedagem no hotel a uso de drogas, arrependimentos de vida, dúvidas sobre a orientação sexual, roubo, luto e por aí vai. Falando assim, pode parecer uma grande salada mista, mas o resultado é uma obra extremamente frenética e divertida, que é praticamente impossível de não maratonar. Aqui vale a menção: com atuações incríveis de Murray Bartlett e Jennifer Coolidge, a obra recebeu diversos prêmios individuais e o Emmy de Melhor Minissérie ou Antologia de 2022.
Relações de poder
Já na segunda temporada, o foco é mais sobre as relações e tensões entre os personagens, com destaque para os hóspedes do hotel. A grande mensagem da história, agora ambientada num lindo hotel na região da Sicília, na Itália, é expor o que cada um acredita que pode ganhar ou perder por meio de casamentos, traições, entre outras dinâmicas.
Aqui os personagens parecem seguir alguns estereótipos, mas vão se tornando cada vez mais complexos ao longo dos episódios. Temos o casal que se tornou rico, mas não quer ser alienado (com a excelente Aubrey Plaza e Will Sharpe); o casal que adota o espirito "sou rica", curtindo sem se importar muito com as consequências (ótimos Theo James e Meghann Fahy); a família de vô, pai e neto com um complexo de traições e falta de atenção (F. Murray Abraham, Michael Imperioli e Adam DiMarco); e, claro, temos o retorno da Tanya (Jennifer Coolidge) e sua energia caótica de sempre.
A trama se torna mais repleta de nuances e as tensões sobem conforme a temporada avança. Temas dignos de Machado de Assis — a internet adora – de houve traição ou não, dúvidas sobre paternidade e tramas para roubar heranças são alguns dos grandes destaques do segundo ano de The White Lotus.
Vale toda a menção para Coolidge que brilha na temporada, interpretando uma mulher mais carente, manipuladora e engraçada que na primeira temporada — protagonista de uma das melhores sequências de 2022 na televisão, vale mencionar.
Brincando com os gêneros
Para quem não sabe, as duas temporadas da série se iniciam com o recurso narrativo de quem matou quem? (do gênero inglês whodunit). Portanto, logo no começo de cada história, a obra apresenta um mistério que ocorreu em algum momento futuro e gera o questionamento: afinal qual dos personagens apresentados matou e qual morreu? Em entrevista para a Vulture, em 2021, Mike White explica o recurso:
"Sou um escritor com boas respostas da crítica, mas tive problemas em conquistar audiência. [...] Decidi deixar um gancho."
O mecanismo é um exemplo de como a série de White gosta de brincar com diversos gêneros. Em The White Lotus, há episódios em que o drama se destaca mais, outros em que o foco é a superficialidade cômica dos hóspedes do hotel e até mesmo momentos em que o suspense surge de maneira mais intensa.
Vale ressaltar que mesmo nessas situações de maior tensão, é comum que haja uma quebra de expectativa com um piada ou situação tipicamente absurda – menção ao desfecho de Tanya na segunda temporada. Isto apenas reforça a sensação do público de que ver a série é um misto de várias emoções.
Afinal, quem é Mike White?
Este processo de constante quebra de expectativas talvez seja explicada pela trajetória do criador da série Mike White. Conhecido pela participação como roteirista no longa Escola do Rock e por idealizar a série Enlightened, o autor tem um perfil, digamos, excêntrico.
Em 2009, White se uniu ao pai, James Melville White, e participou do reality show The Amazing Race, em que equipes competem por um prêmio em dinheiro. Em 2018, foi a vez de dar as caras em Survivor: David vs. Goliath – neste, focado em sobrevivência, ele conquistou o 2º lugar.
Sobre a experiência nos realities, especialmente em Survivor, White comentou para a Vulture que a “primeira temporada tinha pessoas complexas, engraçadas, básicas e humanas." Ele complementa “tem algo muito honesto na competição que, eu como dramaturgo, acho muito inspirador."
Seja qual for a origem da ideia que faz The White Lotus o que é, a série foi recentemente renovada para sua terceira temporada e, em entrevista para a Vanity Fair no final de 2022, o autor citou que a nova trama pode se passar na Ásia. De qualquer forma, o que já está garantido é que os fãs mal podem esperar para odiar um pouco mais ricos em belíssimos hotéis!
Paloma Pinheiro
Pedro Siqueira)
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