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Terrifier 2 | Crítica
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Terrifier 2 | Crítica

Polêmico terror do palhaço assassino justifica o hype com filme sádico, escatológico e sombriamente divertido

Arthur Eloi
Arthur Eloi
26.dez.22 às 12h00
Atualizado há mais de 2 anos
Terrifier 2 | Crítica
Terrifier 2/Divulgação

O cinema de horror teve um ótimo ano em 2022, com uma leva marcante de continuações, reboots e novidades. Dá para dizer o mesmo de Hollywood como um todo, porém o gênero é um pouco diferente dos demais: aqui, franquias como Pânico e Halloween até podem ter se saído bem nas bilheterias, mas foram as obras originais que dominaram a atenção do público. Nada exemplifica melhor isso do que Terrifier 2.

O filme de Damien Leone foi feito sob medida para ser um hit de nicho, uma recomendação certeira para os entusiastas de desgraceiras de baixo orçamento e alto nível de violência. Em uma virada surpreendente, o longa encontrou recepção calorosa nas telonas dos Estados Unidos, e conquistou bilheteria de US$11 milhões mesmo tendo custado pouco mais do que US$250 mil para ser feito. Seu maior aliado, claro, foi o marketing orgânico: relatos de pessoas vomitando, abandonando as salas ou até desmaiando nas sessões.

Pode parecer contraditório, mas filmes difíceis de assistir são considerados elogios no terror. Depois de meses de muita expectativa, o longa enfim desembarca nos cinemas brasileiros, e faz valer a espera com uma experiência intimidadora, grotesca e, sim, muito divertida.

Como indica o título, Terrifier 2 é continuação de um filme que não teve a sorte de romper as barreiras de seu nicho, e que pouca gente assistiu - por sorte, já que não é exatamente bom. Tudo que precisa ser dito é que há um maníaco chamado Art, o Palhaço, que cometeu um massacre em 2017 e se matou antes de ser capturado. Logo fica claro que Art não era um serial killer qualquer quando ele retorna dos mortos para aterrorizar e violentar a jovem Sienna (Lauren LaVera) e sua família.

Por mais que seja uma continuação direta, o longa não se apega às conexões, o que dá liberdade o bastante para explorar novas tramas e abordagens. Diferente do primeiro, que é tedioso e desconjuntado, esse é vibrante, dinâmico e ocasionalmente brega, passando a sensação de uma produção de baixo orçamento dos anos 80 que tentou surfar a onda dos slashers direto em VHS.

Isso significa jovens vítimas para um maníaco, um núcleo ambientado no ensino médio, uma excelente trilha sonora de sintetizadores, e também uma final girl capaz de bater de frente com o serial killer. Sienna, inclusive, é um dos destaques da obra, sendo uma jovem claramente aterrorizada com a presença do palhaço, mas que ainda encontra coragem para enfrentá-lo sempre que se vê sem alternativas.

O diretor Damien Leone desenvolve a figura de Art há mais de uma década, entre curtas, segmentos de antologia e o primeiro filme, e com razão: o palhaço assassino está pronto para se tornar um ícone do cinema. Mesmo muda, a ótima performance de David Howard Thornton como o maníaco é cheia de vida e um carisma meio macabro. Ele faz piadas práticas, dá risadas (em momentos grotescos) e mantém a performance até durante a perseguição das suas vítimas.

Com o elemento sobrenatural que é introduzido na continuação, em que o palhaço aparece via pesadelos e alucinações, Art até chega a se parecer com uma versão ainda mais sádica de Freddy Krueger. Mas as atrocidades que o palhaço assassino comete fariam o antagonista de A Hora do Pesadelo dormir com um olho aberto.

Quem tem medo de palhaço?

Entre a violência extrema, carisma e pura encheção de saco, Art já se consagra como um dos grandes maníacos do cinema

Terrifier 2 é uma produção de baixo orçamento, mas Damien Leone é altamente versado em efeitos práticos. Assim, o cineasta entende suas forças e abraça a nojeira como o principal atrativo do filme. A decisão é certeira: o longa é uma experiência de revirar o estômago, com gosto por chocar, enojar e incomodar o público a todo momento.

Sem medo de ser rebaixado na era do horror metafórico, a produção se assume orgulhosamente um splatter, subgênero do exploitation cujo apelo é a sanguinolência. É sempre bom ser um pouco cético com relatos de vômitos, desmaios e afins em salas de cinema, mas aqui é sim bastante justificável. O longa acerta a mão em efeitos visuais minimamente críveis, e faz bom uso deles em mortes extremamente gráficas e cenas de tortura.

Nos minutos iniciais, Art já é visto martelando os dentes de alguém. Pouco tempo depois, o palhaço metralha um grupo de jovens. Ele joga ácido e desfigura uma garota que implora por sua vida, ou então escalpela e quebra os braços de outra. Em uma cena, Art surpreende uma vítima indefesa com facadas no pênis, eventualmente arrancando por completo o órgão do pobre rapaz.

Pode parecer contraditório, mas sua violência gráfica raramente parece de mau gosto. Na verdade, é graças ao tom levemente descontraído e fantástico de tudo que a sanguinolência consegue passar impune, ainda que não menos chocante. O tom de “filme trash oitentista”, em que tudo é exagerado com um certo humor sombrio, deixa claro que a ideia é provocar os espectadores, mas nunca chegar ao ponto de ofendê-los.

Inclusive, é isso que coloca Terrifier 2 em uma categoria diferente de muitos outros filmes violentos. Ainda que seja sangrento, gráfico e apelativo, não apresenta o mau gosto pretensioso de algo como A Serbian Film: Terror Sem Limites (2010), e nem a crueldade sóbria e triste de Mártires (2008), ou qualquer outro representante da Nova Extremidade Francesa.

O longa flerta com o torture porn de um O Albergue (2005) ou Jogos Mortais da vida, e é justamente isso um dos segredos de seu sucesso: violência acima dos padrões do grande público, mas sem a insensibilidade que o isolaria dentro de um nicho de degenerados.

Para o fã de horror, Terrifier 2 é digno de celebração por vários motivos. É um filme violento que conseguiu ganhar a atenção do público. É um slasher que sabe se manter dinâmico para não se arrastar por suas 2h20 de duração, bem acima da média de outras obras do subgênero. É uma obra que consagra na consciência popular um novo grande vilão do cinema, algo que provavelmente não acontece desde Pânico ou a já citada franquia Jogos Mortais.

Mais importante, Terrifier 2 é assumidamente independente, e celebra a breguice e a diversão sádica dos slashers em um evento pensado para tirar o máximo de reações da plateia. Ao assistir, seu enorme sucesso se torna compreensível: é uma excelente experiência de cinema. Intimidadora, imprevisível e grotesca, que revira o estômago e deixa um sorriso no rosto ao mesmo tempo - os sentimentos conflitantes que só um bom filme de terror consegue causar.

Terrifier 2 chega aos cinemas brasileiros em 29 de dezembro.

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