A jornada do herói é um método de contar histórias utilizado em vários jogos. Ter elementos que chamem a atenção dentro do ciclo em que o(a) protagonista se aventura é muito importante para manter o player interessado - e o estúdio Awaceb decidiu usar uma bomba de cultura da Nova Caledônia para transformar seu novo título, Tchia, em algo realmente surpreendente.
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Inspirado na pequena ilha ao sul do Oceano Pacífico, o game oferece uma experiência relaxante e bela em um mundo tropical aberto cheio de cantos para explorar. Mas não se engane: apesar de muitos conhecerem a base da história, são os detalhes dessa obra ambiciosa que a transformam em um produto único e cheio de carinho.
Tratando-se de história, Tchia é uma menina aparentemente comum que vive em uma ilha com o pai. Em um certo dia, uma aeronave aparece no local e um homem nem um pouco amigável sequestra o único membro da família que a protagonista conhece. Nesse meio tempo, ela também descobre que tem habilidades muito especiais.
Tchia, então, começa uma jornada cheia de aventuras e perigos pelo arquipélago de ilhas para salvar o pai. O que ela não esperava é que sua vida estivesse ligada de forma profunda ao tirano que governa os arredores.
Uma aventura para encher os olhos
A primeira coisa que se nota em Tchia é a beleza do game. Além dos personagens em estilo cartunesco (que são muito bem feitos), é a natureza que oferece uma experiência de encher os olhos. Da alvorada ao céu estrelado, o esforço para retratar um arquipélago tropical, assim como toda uma diversidade de biomas, é perceptível.
A alta interatividade que o título tem também abrilhanta a gameplay. O jogador pode acariciar mais de 30 animais e ter momentos engraçados com centenas de objetos (a primeira coisa que testamos foi carregar uma galinha bem ao estilo Zelda - e foi incrível). Enquanto a história principal acontece, os ambientes terrenos e aquáticos dão motivos de sobra para explorar cada lugar e conhecer segredos. Subir em uma montanha e apenas observar o Sol se pôr, por exemplo, é uma opção bastante prazerosa.

Uma história de 8 a 80
Tchia tem uma atmosfera relaxante em 99% do tempo, que permite passar horas de um final de semana apenas navegando, ouvindo o som do mar e mergulhando eventualmente. Porém, o enredo principal surpreende (e pode até chocar alguns) com situações tristes e até macabras. A entidade Meavora, vilã principal do jogo, por exemplo, oferece cenas dignas de uma história terror suavizada. E é possível sentir essa virada também na gameplay, que se torna mais desafiadora no ápice do enredo.
Caso o player seja sensível a cenas mais gráficas, existe uma opção no menu de configurações que altera essas partes do game.
Seja capitã, musicista ou um golfinho
Outro ponto interessante do título é a quantidade de mecânicas. Além pular, planar, nadar e escorregar (o básico que se espera), existe outro punhado de habilidades para exercitar. O jogador controla a velocidade e direção do barco, precisa de mira para derrubar inimigos com o estilingue, entalha troncos para abrir templos e precisa ser bom nos minijogos para conquistar troféus.
Estratégia e controle de munição também são importantes para derrotar os vilões de tecido espalhados pelo mapa e os momentos musicais também permitem experimentar um jogo de ritmo.

Além disso, o Soul Jump, que mais se destaca, te permite virar qualquer animal ou objeto com habilidades próprias. Você quer saber como é "andar" por uma ilha na forma de um coco, cachorro, pneu, lacraia ou pomba manca? Tchia te dá oportunidade de descobrir como é. Quer nadar como um golfinho ou uma orca? É só apertar os botões certos.
Existem opções para viagens rápidas pelo mapa, mas elas não estão disponíveis em excesso. A sensação é que os desenvolvedores realmente querem que você faça o caminho manualmente e veja a obra por variados ângulos.

Porém, uma mecânica que não ajuda tanto quanto deveria nesse quesito são as placas de sinalização. Além de não estarem indicadas no mapa, testando a sorte do jogador para encontrá-las, elas atrapalham a visualização de onde Tchia está, pois a posição não é atualizada automaticamente. É mais vantajoso entender como a bússola funciona e usar o pin vermelho para saber onde está indo do que depender desse suporte.

Viaje com estilo
E, como a "cereja do bolo", temos a customização. A possibilidade de trocar cada peça de roupa da protagonista ou coletar visuais para o barco não são necessários para manter o jogador interessado, já que não dão qualquer vantagem na gameplay. Porém, deixam o jogo mais divertido.
Deixe Tchia com as roupas tradicionais, transforme ela na prima distante da Moana ou decida usar um pijama de vaca - tanto faz. É um volume enorme de opções estéticas apenas para deixar o player mais satisfeito enquanto viaja pelas ilhas.

A trilha sonora é linda - mas a cantoria cansa
Como foi comentado anteriormente, Tchia também pode ser considerado um jogo musical. A trilha sonora cumpre seu propósito, entregando uma sensação calma e alegre dentro das comunidades, e a ambientação digna de uma jornada épica no meio do mar. O instrumental não é repetitivo, já que reveza entre várias composições e some eventualmente. O problema está nas performances musicais.
Em certos pontos, canções com voz são inseridas na história. A primeira agrada e é bonito ver o clipe planejado dentro do jogo. A segunda já não é tão legal e na terceira vez você percebe que não era necessário dar tanto tempo para o espetáculo. Depois disso, o desejo é só que a cantoria acabe logo.
Existe a opção de ouvir a música no modo automático ou jogar junto, acertando as notas. Porém, em ambas as situações, mesmo que seja uma canção bonita, se torna cansativo.

Por fim, a versão de Tchia disponibilizada para review apresentou raros bugs, que podem ser resumidos como problemas em imagem, som ou jogabilidade. Algumas telas pós-cenas de história (cut scenes, em inglês) tiveram complicações, mostrando os indicadores de caminho em um fundo completamente preto. A solução encontrada foi apertar todos os botões disponíveis , além de entrar e sair dos menus possíveis até que a imagem reaparecesse.
Um único travamento inesperado também aconteceu (bastante tempo depois que a história principal foi concluída), não dando escolha a não ser reiniciar o game.

Uma série de correções envolvendo sincronia de elementos, falta de trilha sonora em alguns trechos, salvamento e travamentos/fechamentos inesperados (crashes, em inglês) foram prometidas para o dia de lançamento.
Uma carta de amor ambiciosa que deu muito certo
Tchia é uma carta de amor à Nova Caledônia, apresentada como um jogo criativo e ambicioso que deu muito certo. Mesmo que a geografia, personagens, mitologia e rituais tenham sido criados para esse produto em específico (os elementos culturais não foram apenas espelhados), é possível sentir o carinho da equipe em traduzir sua vida na pequena ilha do Oceano Pacífico em uma história universal que qualquer um pode entender e aproveitar.
Terminar o enredo principal não leva muito tempo (cerca de 10h), já que ele não se estende ao ponto de se perder. Mas o jogador está livre para passar horas tentando achar os baús de tesouros, coletar colecionáveis e desbravar o mar aberto depois da cena pós-pós-créditos. O game entrega uma jornada do herói que se sustenta bem e se torna singular pelo amor aplicado à obra.
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Esta review foi feita com uma cópia do jogo para PC cedida pela Kepler Interactive.
Tchia chega para PC, PlayStation 4 e PlayStation 5 em 21 de março. O game também estará disponível na PS Plus Extra e Premium/Deluxe no dia do lançamento.
Interfaces e legendas do jogo podem ser configuradas para português brasileiro.
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