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Rick and Morty retorna à estrutura episódica para homenagear Duro de Matar
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Rick and Morty retorna à estrutura episódica para homenagear Duro de Matar

Segundo episódio da sexta temporada já chegou à HBO Max

Gabriel Avila
Gabriel Avila
12.set.22 às 10h00
Atualizado há mais de 2 anos
Rick and Morty retorna à estrutura episódica para homenagear Duro de Matar

Rick and Morty estreou a sexta temporada em grande estilo, com um capítulo baseado quase inteiramente na força da mitologia que a animação construiu ao longo de quase dez anos. Para o segundo episódio, a estratégia foi voltar ao que parece ser uma “aventura clássica” da animação, fazendo piada com grandes obras da cultura pop de forma episódica e isolada.

Mas não se engane. Por trás da aparente simplicidade, “A Mort Well Lived” esconde camadas e transforma piada em homenagem, ao mesmo tempo em que continua a evoluir seus personagens – mesmo que de forma sutil.

[A partir daqui, spoilers do segundo episódio da sexta temporada de Rick and Morty]

Lançado nesta segunda-feira (12), o episódio acompanha uma visita de Rick, Morty e Summer a um fliperama. O problema é que enquanto avô e neto estão em um game de realidade virtual, o local é atacado por um grupo terrorista que causa uma queda de luz e prende os dois dentro do jogo.

Rick continua consciente de quem é dentro de seu personagem, em uma missão para libertar Morty, cuja consciência se dividiu em todos os NPCs – personagens não jogáveis –, que acreditam ser indivíduos e não parte da mesma mente. Para dar tempo da dupla se salvar, Summer precisa lidar com os criminosos e impedir que eles machuquem seu irmão e avô. Ou seja, mais um final de semana comum para a família Sanchez.

Fora do VR, a jornada de Summer é a retomada da tradição de Rick and Morty de satirizar grandes momentos da cultura pop. O escolhido da vez foi Duro de Matar (1988), clássico do cinema de ação em que o policial John McClane (Bruce Willis) precisa derrotar terroristas que invadiram a festa de Natal da empresa em que sua esposa trabalha.

A mesma situação é apresentada à jovem de uma forma tão escancarada que o roteiro sequer tenta disfarçar o alvo da paródia. O episódio joga fora qualquer sutileza no momento em que Rick literalmente manda ela “fazer um Duro de Matar” e aproveita essa abordagem para uma das homenagens mais sinceras já feitas pela produção.

Summer "faz o Duro de Matar" Summer "faz o Duro de Matar"

De um jeito caótico e nada piegas, o episódio usa a falta de subtexto para fazer uma verdadeira ode ao filme original. A trama chega a explicar que, no universo de Rick and Morty, a história de John McClane se tornou um mito que se espalha por diferentes culturas e civilizações. Dessa forma, a trama se desenrola com uma paixão genuína, que celebra o legado de um dos grandes papéis de Bruce Willis justamente no momento em que o astro encerrou a carreira por motivos de saúde.

Vale elogiar a acertada escolha de Peter Dinklage para dar voz ao vilão do capítulo. Uma performance divertida que está à altura do desafio de homenagear o Hans Gruber do saudoso Alan Rickman.

Mil faces de um Morty leal

Enquanto Summer “faz o Duro de Matar” no mundo real, Rick tem a difícil tarefa de convencer cada um dos bilhões de NPCs do game que são partes da consciência de Morty. Nessa missão, ele faz discursos a pessoas das mais diferentes origens, etnias e idades, em busca de conscientizá-los de que são fragmentos de um único ser: seu neto.

Uma situação que lembra muito a prática de cultos em que os fundadores tendem a acreditar que foram iluminados com uma revelação profética. Essa observação se apresenta primeiro como uma piada recorrente para depois se tornar peça chave do conflito principal.

Rick, Morty e Summer curtindo um fliperama Rick, Morty e Summer curtindo um fliperama

Ter um segmento do episódio em que praticamente todos os personagens têm a voz de Morty soa como resposta a uma crítica recorrente ao humor de Justin Roiland, cocriador da animação. Nos últimos anos, parte do público passou a ser cada vez menos receptiva à repetição da forma como Roiland dubla personagens verborrágicos com vozes esganiçadas – basta ver que, além dos próprios Rick e Morty, ele dá voz a personagens como Mr. Meeseeks e Senhor Bunda Cagada.

Colocá-lo para interpretar toda uma sociedade é um jeito corajoso de extrapolar essa repetição, especialmente porque há o risco de alienar quem não se encanta mais por ela. Felizmente, a performance de Roiland e o roteiro estão sintonizados o suficiente para que essa etapa da história seja mais do que uma alfinetada nos críticos.

Em primeiro lugar porque o texto aproveita ao máximo a premissa de um mundo criado com base no subconsciente de um adolescente. Em segundo, há a retomada no estudo de personagens com base no drama familiar, parte fundamental do DNA de Rick and Morty.

Na história, Rick une forças a uma NPC chamada Martha para convencer os outros habitantes desse mundo de que a melhor escolha é se unir para sair do jogo. O plano é criar uma espécie de Arca de Noé em que todos os fragmentos do Morty devem embarcar juntos para gerar um bug no game capaz de acordar o garoto por inteiro no mundo real.

O plano dá certo com um único entrave: 8% da população desse mundo e portanto, da consciência de Morty, se opõe a sair do jogo. Ao ouvir o lado dos dissidentes, Martha descobre que eles até sabem que são NPCs, mas se negam a seguir Rick por não sentir que o idoso valoriza o neto da forma como ele merece.

A partir daí, o episódio se torna um drama familiar fortemente inspirado pela perda da fé, um tema apropriado para um episódio que fala tanto em religiões e cultos – não é acaso que Martha cite uma frase atribuída a Lúcifer para romper a aliança com o avô. Presente desde o início da série, a revolta de Morty por não ser devidamente reconhecido e respeitado desemboca em um impasse diplomático mundial, já que nações de Mortys deixam de seguir Rick por confiar mais em Martha do que nele.

Consciente do peso que a busca pela valorização de uma figura paterna causa em um adolescente, a série transforma esse sentimento de conflito – entre a população que quer acreditar no amor de Rick e a que o despreza – em uma guerra literal. Uma batalha que termina em um grande impasse, já que a porcentagem dos que decidem ficar no jogo cresce ao ponto de se tornar impossível sair do local sem perder boa parte do garoto.

Isso dura até a própria Martha entender que está sendo egoísta ao inspirar tantos fragmentos de Morty a ficar só porque ela acredita que isso é o certo. Ao chegar nessa conclusão, ela volta atrás e une seus discípulos para deixar o jogo na nave. Uma escolha que demonstra a empatia que separa o garoto de Rick, que já se provou extremamente egoísta em várias oportunidades.

Quando finalmente deixam o VR, Martha fica para trás para poder viver seus anos finais dentro dos próprios termos. Com isso, Rick e Morty despertam no mundo real justamente no clímax do Duro de Matar de Summer, e o capítulo chega a um final aparentemente feliz. “Aparentemente” porque a experiência claramente mudou o garoto, que concorda com o que o avô diz sem pensar muito a respeito.

Resta saber se essa foi só uma piada a respeito da perda da parte mais rebelde de Morty ou se isso será uma decisão séria que afetará a dinâmica entre neto e avô nos próximos episódios.

Rick and Morty ganha novos episódios às segundas-feiras na HBO Max.

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