Rick and Morty empolga com casos de família sci-fi no início da sexta temporada

Quando Rick and Morty estreou nas televisões norte-americanas, nem mesmo o mais empolgado membro da equipe poderia prever um sucesso tão estrondoso. Nascida como uma paródia boca suja da trilogia De Volta Para o Futuro, a animação começou fazendo piada com grandes filmes e séries ao passo em que desenvolveu, aos poucos, a própria mitologia.

Quase dez anos depois, a combinação de sátira com a criação de um universo sólido e amado por tanta gente fez com que o feitiço se voltasse contra o feiticeiro. Com consciência do lugar que ocupa na cultura pop, a produção volta a rir de si mesmo na estreia de sua sexta temporada, que celebra esse legado instantâneo ao explorar princípios mais básicos desse universo.

O lançamento de cada nova temporada de uma série que se tornou tão grande é sempre um desafio. Porém, a questão se torna ainda mais complicada tendo em vista o apoteótico final da quinta temporada, que retornou à Cidadela dos Ricks para um verdadeiro tudo ou nada causado pelo Morty Maligno (ou Evil Morty, no original).

O clímax de "Rickmurai Jack" foi tão potente, que boa parte das piadas metalinguísticas clássicas de R&M traziam um grau de preocupação sobre essa ser uma aventura capaz de “mexer com o cânone” da atração. Uma mensagem que aumentou os riscos enfrentados pela dupla no passado e que dá o tom do que precisam enfrentar neste início de sexta temporada.

Capítulo inicial do novo ano, “Solaricks” empolga por reconhecer o tamanho de Rick and Morty. Sem tempo para refrescar a memória do espectador, o episódio mal resolve as questões deixadas pelo passado e já corre estabelecer uma nova trama apocalíptica que mantém o tom de urgência sempre muito alto.

Para essa dinâmica, o roteiro pinça elementos e grandes eventos da própria produção, o que por si só garante diferentes desafios e ameaças para que nossos heróis possam superar. Há um interesse genuíno em retomar personagens, enredos e artifícios que ajudaram a construir esse universo de forma aparentemente isolada.

Essa escolha funciona primeiro como uma celebração ao passado, ao ativar o fator nostalgia de quando essas ideias eram novidade. E, em segundo lugar, serve principalmente para criar o cenário perfeito para que Rick and Morty use as próprias forças para ir além das glórias do passado. E o faz usando o ingrediente mais subestimado dessa mistura: o drama familiar.

Casos de Família

Rick e Morty no primeiro episódio da sexta temporada

Não se engane: apesar de brincar com vários conceitos de ficção científica bastante cabeçudos, o grande tema do retorno de Rick and Morty é a família. Cada um dos núcleos da história de “Solaricks” orbita em torno da disfuncional relação que levou os Sanchez tão longe ao longo dos anos.

Como âncoras desse capítulo, os laços familiares são elevados a um papel de destaque como a verdadeira riqueza da animação. É a partir dos desdobramentos de uma dinâmica construída ao longo de anos que surgem trazem ação, drama, e comédia, duma forma que só seria possível dentro desse universo com essa mitologia.

É claro que para uma série que tem a imprevisibilidade como assinatura, o tema “família desajustada” pode parecer tudo, menos inventiva. Até porque essa mecânica é replicada há quase 30 anos por Os Simpsons e as várias animações que ela inspirou. Mas é impossível retirar esse fator do sucesso de Rick and Morty e a estreia da sexta temporada acerta justamente nisso.

Ainda que a série seja mais lembrada por episódios com picles assassinos, TV a cabo interdimensional ou até sobre enganar o próprio diabo, ela não seria a mesma sem os dramas pessoais desses personagens para guiá-la. Basta lembrar que enquanto tudo acima acontecia, descobríamos os traumas e limitações de Rick, o divórcio e reconciliação de Beth e Jerry, além dos percalços do amadurecimento de Morty e Summer.

É justamente por recolocar esse drama em pé de igualdade com o humor anárquico e a esquisitice sci-fi que Rick and Morty inicia sua sexta temporada com o pé direito. Uma estreia sólida que certamente empolga para o restante da temporada, mesmo que os próximos episódios evitem “mexer com a cronologia” novamente.

Independente do caminho que escolha, a produção demonstra maturidade suficiente para ir mais longe graças ao orgulho e respeito que dedica à própria mitologia. Se a ideia é termos “100 anos de Rick e Morty” como prometido lá no primeiro capítulo, essa parece uma boa forma de chegar lá.

Rick and Morty ganha novos episódios às segundas-feiras na HBO Max.