Desde a década de 60, com os filmes de George A. Romero, já vimos incontáveis filmes de zumbi, muitos deles seguindo as mesmas fórmulas batidas e alguns transformando o jogo e trazendo um novo frescor para os cadáveres devoradores de cérebros, como é o caso de Invasão Zumbi.
A maior parte do filme se passa dentro de um trem que está indo em direção à cidade de Busan, na Coréia do Sul e, antes mesmo desse cenário aparecer, pequenas dicas de que algo está errado no país começam a surgir.
Nos noticiários, informações sobre ataques violentos começam a surgir e, pelas ruas no caminho até a estação, é possível ver um número anormal de acidentes. Apenas depois que todos os passageiros entram no trem e as portas se fecham, as pessoas começam a entender o que realmente está acontecendo, já que a ameaça também está a bordo.
O ambiente fechado de um trem é muito bem explorado para aumentar a tensão. Cada espaço do veículo é aproveitado de maneiras inventivas para que as cenas não se tornem repetitivas e até mesmo fatores externos ao cenário no qual os protagonistas se encontram, como túneis e estações, são utilizados de maneira surpreendente.
Microcosmo
Presos dentro do trem repleto de mortos-vivos, os sobreviventes de Invasão Zumbi têm pouco tempo para entender as regras dessa ameaça e tentar elaborar um plano a partir dos poucos recursos disponíveis. Para o espectador, o que fica mais claro é a mensagem de que em um eventual desastre, todos precisam colaborar para o benefício maior do grupo.
Os vagões de trem nos quais os personagens se refugiam dos zumbis funcionam como um microcosmo da sociedade, com pessoas de diferentes idades, empregos e classes sociais tentando cooperar para sobreviver. Só que por conta dessa diversidade, é difícil entrar em um acordo sobre a melhor solução, já que os pontos de vista são bem distintos.
Por exemplo, mesmo naquela situação, é possível perceber que alguns personagens olham com desconfiança para um morador de rua que conseguiu se infiltrar no trem. Para essas pessoas, ele é visto como alguém inferior, quase descartável dentro daquele contexto. Só que ninguém é realmente dispensável, na vida real ou na ficção, e o Invasão Zumbi mostra isso com muita clareza: Quando o individualismo predomina, tudo começa a dar errado.
O filme aborda bem as diversas personalidades e quanto mais conhecemos cada um daqueles passageiros, mais ficamos envolvidos por eles e cada perda ganha importância. Os personagens, mesmo que a maioria deles não sejam desenvolvidos com tanta profundidade, são carismáticos e tomam decisões que fazem sentido no contexto do filme.
Sem exageros
As animações dos mortos voltando à vida misturam elementos que poderiam ser de um estímulo extremo, como um choque elétrico, com uma espécie de poder sobrenatural que os torna ameaçadores sem necessariamente serem assustadores.
A maquiagem também é extremamente bem feita e aflitiva, sem exageros. Os humanos acabaram de ser transformados, então não há necessidade de retratar decomposição avançada. Aliás, o filme mostra relativamente poucas vísceras, considerando o tema, e isso acaba sendo um ponto positivo, já que o choque vem da história e não dos efeitos especiais.
Além disso, considerando que alguns dos mortos-vivos são pessoas próximas dos sobreviventes, mostrar essa transformação de maneira mais contida deixa a situação ainda mais tensa para os personagens e também para os expectadores. É difícil considerar que alguém é um monstro a ser eliminado se ele estava a poucos minutos interagindo normalmente com outras pessoas.
Velocidade total
A trama tem um ritmo acelerado, mas que em nenhum momento parece forçado. Apenas nos minutos finais ele diminui a velocidade e as cenas de ação e tensão são substituídas por momentos mais dramáticos. Entretanto, assim como um trem que chega a seu destino, essa desaceleração faz sentido com o contexto do final.
Invasão Zumbi é o melhor filme de mortos-vivos dos últimos anos. Ele chega para dar uma nova vida a filmes do gênero e para mostrar que ainda é possível construir uma boa história nesse tema sem ser mais do mesmo.