Assim que foi anunciado, Resident Evil Village deixou muitos fãs curiosos pelo que estava por vir, principalmente por ser uma sequência direta do aclamado Resident Evil 7 e por manter as principais características do título, como a câmera em primeira pessoa e o foco em exploração.
Bastou Chris Redfield atirar em Mia, esposa do protagonista Ethan, e algumas vampiras sedutoras aparecerem para deixar todos instigados — e muito ansiosos. Mas é melhor dar uma freada nas expectativas. Village é um bom Resident Evil, mas para por aí e desperdiça o potencial de ser tão marcante quanto seu antecessor.
Fórmula expandida
A trama acompanha Ethan, que está em busca de sua filha Rose, após a tragédia envolvendo Mia. Por motivos desconhecidos, a criança está na posse da Mãe Miranda, uma figura misteriosa protegida por uma vila e quatro Lordes: Lady Dimitrescu, Donna Beneviento, Moreau e Heisenberg.
O objetivo é relativamente simples e direto: derrotar o quarteto para alcançar Mãe Miranda e salvar Rose. Mas é claro que há reviravoltas e surpresas no caminho, além de algumas pedras também...

Village mantém a mesma jogabilidade básica de RE7, com aquela clássica sensação de limitação, mas com alguns diferenciais e mais fluidez. Os comandos são praticamente os mesmos, só que tudo é mais refinado e polido.
Com um arsenal sem surpresas — contando com a fiel faquinha e as conhecidas pistolas, escopetas e lança-granadas —, o combate não força o jogador a economizar munição para sobreviver, mas rende sequências intensas que o forçam a pensar (e atirar) rápido.
Apesar de não variar muito de inimigo para inimigo, exceto quando se trata de chefões, as lutas contam com momentos de susto, um nível elevado de gore e, às vezes, animações bem orgânicas.

O visual dos cenários de Village é impressionante pela quantidade de detalhes e pela forma como aproveita a vila e a neve para explorar uma paleta de cores mais frias.
Ao olhar ao redor de qualquer área aberta ou de dentro das casas e estruturas, tudo é bonito. A maneira como a névoa se sobressai, como as chamas quebram esse aspecto gélido e até em como são realistas as animações das mãos de Ethan são pequenos cuidados que fazem a diferença e tornam a ambientação imersiva.
A trilha sonora, mais concentrada em ruídos de ambiente de forma geral, mas que se intensifica em momentos tensos, também auxilia nessa sensação.

Em termos de construção de ambientação, Village aposta em um escopo maior que expande a fórmula do antecessor, inspirando-se principalmente em Resident Evil 4 entre outros títulos da franquia.
Todos os locais exploráveis são interligados pela vila, que é a base da ambientação e também o que estabelece uma atmosfera tensa no início. Só que isso não se sustenta durante todo o jogo e há poucos momentos em que explorar é realmente algo que causa medo e receio. Isso acontece porque o título opta em apostar mais na ação do que no terror psicológico a partir de certos acontecimentos.
Essa pegada em ação reflete também na quantidade (generosa) de munição disponível e em mecânicas básicas, como Ethan poder dar um chute para afastar inimigos. Se quiser algo mais desafiador nesse sentido, é preciso ir além da dificuldade padrão. Ainda é possível coletar suprimentos para criar kits médicos, munição e tesouros para vender para Duque, um dos personagens mais intrigantes da trama.
Com uma personalidade duvidosa, ele oferece uma loja para comprar e vender itens e atualizar armas de fogo, além de servir como um sistema para substituir os clássicos baús. Não há como armazenar armas para usar mais tarde, é preciso gerenciar o inventário enquanto negocia com Duque, analisando o que é realmente necessário e abrindo mão de equipamentos.

O comerciante misterioso ainda faz parte de outro sistema: a caça. Ao contrário do que pode parecer, não é nada complexo, apenas consiste na eliminação de animais em pontos específicos já marcados no mapa. Ao reunir a quantidade de carne necessária, Duque oferece atualizações permanentes para aumentar a vida ou a força de Ethan, por exemplo.
A vila e as áreas comandadas pelos Lordes (como o castelo de Lady Dimitrescu) têm vários segredos e locais escondidos, dando a liberdade para o jogador voltar para explorá-las e encontrar tesouros, informações extras ou até mesmo combates opcionais.
Há muitas cartas e anotações espalhadas pelos cenários, que dão uma camada de profundidade não apenas ao ambiente, mas também à narrativa. Não é cansativo explorar, pelo contrário! O game incentiva e recompensa aqueles que forem mais curiosos.

Uma adaga mal afiada
Os conceitos de Resident Evil Village são misteriosos e originais na medida certa, só para deixar o jogador intrigado pelo que está por vir. É preciso apenas de segundos para um vilão, por exemplo, mostrar o quanto é aterrorizante e nos deixar preocupados de como será lutar contra ele.
No entanto, muitos personagens e elementos da narrativa não são desenvolvidos à altura da expectativa criada e acabam mal aproveitados, rendendo momentos clichês em vez de algo mais marcante e surpreendente.
Há acontecimentos que são até sem sentido, feitos puramente para criar mistério e chocar quem está com o controle em mãos — só que, se parar para pensar muito neles, alguns furos aparecem.
As sequências de gameplay geradas durante a busca por cada Lorde são bem pensadas e construídas porque elas são bem diferentes entre si. Explorar o castelo de Lady Dimitrescu é uma experiência totalmente oposta a se perder na casa das bonecas de Beneviento ou fugir da água no reservatório de Moreau.
O problema é que algumas sequências são muito superiores às outras, causando uma quebra de ritmo. Aquela essência que os fãs desejam dos primeiros títulos de Resident Evil, com foco em tensão e quebra-cabeças, está mais presente no início. E, a partir da metade para o final, isso começa a se perder.

A oscilação de ritmo acontece porque Village tenta abordar muitos elementos diferentes ao mesmo, sem saber dosar as ideias de forma que tudo se encaixe em uma única experiência concisa.
Para uma comparação mais prática: muitos jogadores defendem que a parte final de RE7, que se passa em um navio, não conversa tão bem com o restante do jogo. Em Village, acontece o mesmo, só que de forma mais frequente.
Mas calma! Não é uma experiência ruim, longe disso. A sensação que fica é apenas agridoce porque Resident Evil Village é um bom capítulo dentro de uma saga cheia de maluquices, mas que não aproveita todo o potencial de seus mistérios e ainda explora certos elementos de uma forma desnecessária.
Seja por expandir muito a fórmula de seu antecessor ou se inspirar demais nas doses de ação de RE4, o resultado é um jogo divertido com altos e baixos — com direito até a fan service —, que amplia a franquia como um todo. Mas não exatamente na direção que gostaríamos.
Resident Evil Village será lançado para PS4, PS5, Xbox One e Xbox Series S|X no dia 7 de maio. Este review foi feito com uma cópia cedida pela Capcom.