No fim dos anos 1970 e começo dos anos 1980, os grandes blockbusters de ficção científica e fantasia eram filmes para toda a família: ET - O Extraterrestre, Tron, De Volta para o Futuro e a trilogia original da saga Star Wars. Esses, que se tornaram parte do imaginário popular, conseguiam cativar crianças, adolescentes e adultos, que se reuniam para assistir às horas de aventuras.
Por outro lado, os anos 1990 e o começo dos anos 2000 foram marcados por uma ficção científica que trazia questionamentos como "o que é a realidade?" (alô, Matrix!) e "será possível atingirmos a igualdade de gênero um dia?" (em A Decadência de uma Espécie, adaptação cinematográfica de The Handmaid's Tale). Esse tipo de discussão tinha alguma presença nas décadas anteriores, mas era sempre envolta em uma certa inocência e um senso de aventura. Já nos últimos 20 anos, o cinema (e a TV) foram tomados por aquilo que os estudiosos chamam de movimento grim and gritty, batizado aqui de "a onda do sombrio e realista".
Indo na contramão desse movimento, surge Perdidos no Espaço, série da Netflix que reimagina a história da família Robinson (que surgiu na TV em 1965) e tenta resgatar um pouco da magia e da inocência presente nas histórias de outrora, sem deixar de lado uma certa profundidade narrativa e sem cair numa nostalgia barata fundamentada em referências (e reverências) ao passado.
A trama se passa em 2046 e gira em torno dos Robinson, uma família à bordo de uma espaçonave que acaba encontrando uma ruptura no tecido do espaço-tempo e levando-os para um planeta desconhecido no outro lado da galáxia. Perdidos, eles precisam achar uma forma de voltarem para casa, enfrentando grandes desafios e suas próprias limitações. É como Lost. Só que no espaço. Aliás, o título original da série é Lost in Space.
O tema central de Perdidos no Espaço é a união familiar. Dessa espinha dorsal surgem discussões como conflitos geracionais, problemas no casamento, as maravilhas (e os perigos) do desenvolvimento de inteligências artificiais poderosas e o que essencialmente nos torna humanos.
O maior trunfo da nova versão da série é conseguir ser dramática sem ser pesada e divertida sem ser superficial. Tudo está muito bem dosado e a trama vai conseguir reunir crianças e adultos em volta da TV, com cada faixa etária conseguindo compreender o que está sendo mostrado em tela em níveis diferentes.
É cedo para dizer se a nova versão de Perdidos no Espaço será tão icônica quanto a original, mas posso afirmar que ela é um baita pontapé inicial para formar uma nova geração de fãs de ficção científica e para trazer de volta para o gênero um otimismo que se faz necessário e que foi perdido há anos.
Perdidos no Espaço estreia em 13 de abril na Netflix. Este texto foi feito com base nos cinco primeiros capítulos, que foram disponibilizados pela empresa.