Mais do que contar histórias fantásticas de reinos distantes, do mundo dos espíritos e de castelos que andam, os filmes do Studio Ghibli falam sobre pessoas. Suas ações, sentimentos, vínculos com os outros e com o ambiente, tudo é retratado com tanta naturalidade que é fácil se ver inserido naqueles universos. Ao tratar de temas como amadurecimento, medo, guerra, amor e tantos outros, as animações conseguem ultrapassar as barreiras de idioma e cultura para alcançar um público mundial, de todas as idades.
É impossível não associar o nome Ghibli ao diretor Hayao Miyazaki, responsável por Meu Amigo Totoro (1988), Princesa Mononoke (1997), A Viagem de Chihiro (2001), Vidas ao Vento (2013) e outros títulos. Mas seria impossível construir um legado tão importante sozinho. Outros nomes como Isao Takahata e Toshio Suzuki também se destacam na história da empresa.
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Takahata, que faleceu aos 82 anos, em abril de 2018, foi um dos cofundadores do estúdio, mentor e rival de Miyazaki (leia sobre isso aqui). A animação Túmulo dos Vagalumes (1988), um dos maiores sucessos do Ghibli, foi feito por ele. Com mais de 50 anos de carreira, ele deixou uma imensa contribuição — que continua sendo vista em cada estreia do estúdio.
Além dos dois, um dos principais nomes na história do Studio Ghibli é Toshio Suzuki, produtor que trabalha com Miyazaki desde Nausicaä, de 1984. Desde então, Suzuki fez parte do desenvolvimento de todos os longa-metragens do estúdio, atuando como produtor e até como CEO da empresa em 2004. Hoje, aos 71 anos, Suzuki atua como gerente geral — apesar de que, de vez em quando, ainda produz alguns projetos de Miyazaki.

A imagem do Studio Ghibli pode até parecer diferente de outras empresas, parece ser um estúdio que trabalha em um ritmo próprio, desacelerado. Mas, em entrevista ao NerdBunker, Suzuki garante que não é esse o caso, e que, assim como os outros produtores de animações, o Ghibli também trabalha com prazos: "De outra forma, não conseguiríamos completar nenhum filme", conta.
Apesar de ter sido fundado em 1985, o Studio Ghibli certamente não ficou parado no tempo, e suas animações sempre fazem comentários pertinentes ao que está acontecendo no mundo na época em que são lançados. Para garantir que a mensagem chegue tanto a um público mais novo quanto para espectadores mais velhos, é essencial que as obras reflitam e conversem com temas universais e contemporâneos. "Ninguém se sentiria compelido a assistir ao filme", como define Suzuki.
Gosto de pensar que os filmes do Studio Ghibli são divertidos, mas que também carregam valores do fundo da alma humana. Esses valores enraizados nos seres humanos são o elemento mais importante de nossas histórias. Nossos filmes são criados para entreter nosso público, mas sempre tivemos essa filosofia em nossos corações até hoje.

A aposentadoria de Miyazaki
Mais de uma vez, a mídia disse que Miyazaki havia se aposentado. E, mais de uma vez, ele sempre retornava para fazer um novo filme. A verdade é que o artista nunca parou e tudo não passa de um problema de comunicação, segundo Suzuki:
O Miyazaki é entendido errado com frequência. Toda vez que ele finalizava um filme, recebíamos perguntas sobre 'o próximo filme'. Miyazaki respondia com "Eu dei tudo de mim nesse filme, como se fosse o último", o que parece ter dado a impressão errada para a mídia.
Atualmente, Miyazaki está trabalhando em How Do You Live?, longa metragem que adapta o romance de mesmo nome.
O processo criativo do Ghibli
Os projetos do estúdio têm grande influência de aspectos da cultura e folclore japoneses, que são ricos em mitos e elementos fantasiosos. "O Japão é lar de uma variedade enorme de mitologias, algumas criadas há dois mil anos. Para o bem ou para o mal, somos inspirados e influenciados por essas histórias", comenta Suzuki sobre o processo criativo dos filmes.
Por conta disso, os longas do Ghibli são uma ótima porta de entrada para quem quer conhecer mais da cultura japonesa ou se aprofundar em seus mitos. A parceria com a Netflix funciona como um amplificador para disseminar a cultura japonesa pelo mundo todo:
Ótimas histórias sempre têm um forte elemento de comunidade. Quando assistimos histórias do mundo todo, somos lembrados de que existem fortes diferenças entre humanos que pensam e vivem fora do Japão. É um grande momento para nós para levarmos nossas histórias para tantos fãs ao redor do mundo com a Netflix, e inspirar os fãs ao redor do mundo sobre como os japoneses pensam ou se sentem. Para mim, esse sentimento de compartilhar [a cultura] através de nossas histórias é algo muito precioso.